Avião em emergência teve "falha crítica nos sistemas de navegação e controlo de voo"

por RTP
Nuno Veiga - Lusa

O avião da Air Astana que este domingo aterrou no aeroporto de Beja após ter declarado emergência sofreu uma "falha crítica nos sistemas de navegação e controlo de voo", avançou fonte aeronáutica.

O voo KZR 1388 descolou de Alverca às 13h21 e tinha como destino Minsk, capital da Bielorrúsia.

Segundo a mesma fonte em declarações à Lusa, o avião, um Embraer, esteve a fazer manutenção nas oficinas da OGMA - Indústria Aeronáutica de Portugal.

Durante a emergência, as autoridades chegaram a equacionar a possibilidade de a aeronave fazer uma amaragem no rio Tejo, mas as condições atmosféricas não o permitiram.

A mesma fonte disse à Lusa que o piloto foi recuperando com o tempo alguns dos intrumentos que tinham avariado, o que lhe permitiu aterrar em Beja.

O avião aterrou às 15h28 na pista 19 do aeroporto de Beja, à terceira tentativa, depois de ter borregado (termo técnico da aviação para designar tentativas frustradas de aterragem) duas vezes. Segundo a mesma fonte, "a aterragem correu bem".

Antes de aterrar, o avião sobrevoou a região de Santarém e o Alentejo, fazendo uma trajetória irregular e descrevendo vários círculos no ar de forma a largar combustivel.

O avião transportava apenas a tripulação, composta por seis pessoas.Dois tripulantes já tiveram alta

Os dois tripulantes do avião que aterrou hoje de emergência em Beja e que foram considerados feridos ligeiros já tiveram alta hospitalar, revelou à agência Lusa fonte da Unidade Local da Saúde do Baixo Alentejo (ULSBA).

Um dos tripulantes, um homem de 37 anos, natural do Cazaquistão, "teve alta por volta das 17h30", enquanto o outro, um homem inglês, de 54 anos, "teve alta hospitalar por volta das 18h45", disse à Lusa a mesma fonte.

Os dois homens, ambos com residência no Cazaquistão, pertencem à tripulação de seis pessoas que seguia no avião que efetuou hoje à tarde uma aterragem de emergência bem-sucedida, à terceira tentativa, numa das pistas da Base Aérea n.º 11, que também serve o Aeroporto de Beja.

Estes dois feridos ligeiros, explicou a fonte da ULSBA, foram os únicos elementos da tripulação que deram entrada no Hospital José Joaquim Fernandes, tendo sido observados no Serviço de Urgência.

Um deles apresentava "tensão alta e alguma ansiedade" e o outro foi observado "pelo serviço de Ortopedia", disse, na altura, a fonte da ULSBA.

"Da tripulação de seis pessoas, são os únicos feridos transportados para o hospital", afirmou a fonte, afiançando que os homens apresentam "ferimentos ligeiros".
Decisão tomada após controlo do avião pelos F-16
A decisão de aterragem do avião da Air Astana no aeroporto de Beja foi tomada quando os dois F-16 se aproximaram e acompanharam o piloto nos procedimentos de controlo da aeronave, segundo o porta-voz da Força Aérea.

"Quando se começou a ter algum controlo da aeronave foi a partir do momento em os F-16 chegaram junto da aeronave. O piloto começou a ter mais capacidade de controlo e atendendo às dimensões da pista, Beja foi uma opção", disse o tenente-coronel Manuel Costa, em declarações à agência Lusa.

A Força Aérea ativou todo o seu sistema primário de Busca e Salvamento, na sequência de uma declaração de emergência por parte da aeronave Embraer EJ 190LR que após descolar de Alverca, que reportou a perda total dos controlos da aeronave.

Em comunicado, a Força Aérea explica que foram ativados todos os meios de salvamento, na contingência de uma aterragem de emergência ou amaragem, e ativada a parelha de F-16M, em alerta permanente na Base Aérea N.º5, em Monte Real, que descolou e realizou o acompanhamento da aeronave em emergência, auxiliando-a até esta aterrar em segurança na Base Aérea N.º11, em Beja.

"Fomos ativados cerca das 13h35, quando fomos informados que havia uma aeronave em emergência e o nosso sistema também detetou essa situação", referiu o porta-voz da Força Aérea à Lusa, adiantando que a aeronave tinha "queda de altitude e dificuldades de controlo", tendo sido manifestada a intenção de fazer amaragem no rio.

A opção de amaragem foi alterada quando os F-16 iniciaram o acompanhamento da aeronave em emergência, auxiliando-a até esta aterrar em segurança na Base Aérea N.º11, em Beja.

As condições meteorológicas na zona de Lisboa, frisou, foi também um dos fatores que entrou na equação para a mudança de planos.

Segundo o tenente-coronel Manuel Costa, a aeronave iniciou os procedimentos necessários para "queimar combustíveis e minimizar o risco de aterragem", tendo aterrado em Beja "sem problemas de maior, em segurança e sem danos materiais nem pessoais".

O porta-voz da Força Aérea adiantou que foi também ativada a base nº6 do Montijo, "que fica perto do local onde se desenrolava o problema "assim como tripulações extra "para dar uma resposta mais rápida e eficaz a uma possível amaragem".

"O sistema funcionou. Tivemos uma coordenação muito eficaz com a Autoridade Aeronáutica Nacional", disse.

Em Beja, adiantou, quando se tornou a opção para uma aterragem por ter uma pista de grande dimensão "propícia a estas situações", foram ativados todos os sistemas de emergência.OGMA "está a colaborar com autoridades aeronáuticas"
A OGMA - Indústria Aeronáutica de Portugal informou hoje que "está a colaborar com as autoridades aeronáuticas na investigação" das causas do incidente que envolveu um Embraer da Air Astana que aterrou em emergência em Beja.

Em comunicado, a empresa adianta que "uma aeronave Embraer E190, da companhia aérea Air Astana, que tinha concluído trabalhos de manutenção na OGMA em Alverca, teve de efetuar hoje uma aterragem não programada após descolagem no aeroporto de Beja".

A OGMA refere que "está a colaborar com as autoridades aeronáuticas na investigação das causas do incidente", destacando que o aviação, "com seis tripulantes da companhia aérea a bordo, aterrou em segurança, sem danos materiais ou físicos".Ministro destaca papel da Força Aérea

O ministro da Defesa, João Gomes Cravinho, destacou hoje o "papel fundamental da Força Aérea" na complexa operação de aterragem de emergência de um avião da Air Astana em Beja.

"Sim, o papel da Força Aérea foi fundamental", disse o ministro, precisando que a partir do momento em que foi recebido o alerta, dois F-16 levantaram voo imediatamente e escoltaram o avião para Beja.

Gomes Cravinho admitiu que se tratou de uma operação complexa, que obrigou a que mais dois F-16 estivessem de prontidão e também a Marinha, dado que "um primeiro cenário que se colocou era de que fosse necessária uma amaragem de emergência".


"Felizmente não houve danos porque foi possível aterrar em segurança. Não foi à primeira, porque é muito difícil aterrar aviões deste tipo, muito grandes, sem instrumentos de navegação", que viajam a centenas de quilómetros por hora, mas acabou por ser possível "com os F-16, a darem instruções ao piloto" e a aterragem em Beja, que tem uma pista muito comprida.

Questionado sobre as possíveis causas do incidente, uma vez que o avião estava em voo de teste e tinha sido submetido a uma intervenção de manutenção nas oficinas da OGMA, o ministro respondeu que não tem informação e que haverá uma investigação.

O ministro falou aos jornalistas à margem do Fórum de Paz de Paris, onde participa juntamente com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
Avião mobilizou meios da Proteção Civil
Contactado pela Lusa, o comandante distrital de Operações de Socorro de Beja, major Vitor Cabrita, revelou que a operação de aterragem de emergência da aeronave da Air Astana obrigou a "ativar a grelha de alarme para estes casos" da Proteção Civil.

O Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS) de Beja, explicou, mobilizou para a Base Aérea N.º11 "dois veículos urbanos de combate a incêndios, com um total de 12 operacionais, um veículo de desencarceramento, com seis operacionais, seis ambulâncias e quatro elementos de comando".

Já fonte do Comando Territorial de Beja da GNR disse à Lusa que foram "mobilizadas cinco patrulhas e dois graduados, caso fosse necessário garantir corredores de evacuação", mas "não chegaram a ser empenhados".

"Tivemos foi duas outras patrulhas da GNR no controlo de acessos ao aeroporto, mas mesmo aí também não houve problemas", disse a mesma fonte.

A PSP de Beja foi igualmente alertada para a emergência do avião, apesar de a aterragem de emergência se ter verificado na Base Aérea 11, de competência militar.

"O avião, em princípio, fica na base aérea e não vai para o aeroporto civil, onde há a segurança normal", disse à Lusa fonte policial.

"Se tivessem sido registados danos humanos, a Polícia garantiria corredores de circulação", sublinhou a mesma fonte.Autoridades vão investigar incidente aéreo
O Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF) vai investigar o incidente aéreo com o avião Embraer da Air Astana que declarou emergência e aterrou em Beja, segundo fonte oficial do organismo.

Segundo a mesma fonte, encontra-se hoje à tarde uma equipa de investigadores a caminho de Beja a fim de recolher os dados da aeronave e obter informações da tripulação que se encontrava no aparelho, com vista à realização de uma investigação à ocorrência.Emergência atrasou descolagens em Lisboa
O aeroporto de Lisboa registou hoje atrasos nas descolagens devido à situação de emergência de um avião da Air Astana, mas sem necessidade de desviar voos, disse à Lusa fonte oficial da NAV - Navegação Aérea de Portugal.

Questionada pela Lusa se a situação provocou perturbações nos voos do aeroporto de Lisboa, fonte oficial da NAV adiantou que "houve alguns atrasos nas descolagens", nomeadamente quando a aeronave sobrevoava a região Norte da capital portuguesa.

A mesma fonte acrescentou que "não houve divergências" de voos daquele aeroporto na sequência da emergência do avião da Air Astana, que tinha como destino Minsk, capital da Bielorrúsia.
Procedimentos realizados são os normais
Contactado pela Lusa, o piloto de linha aérea Jaime Prieto disse que os procedimentos realizados são os normais perante uma situação de emergência.

Jaime Prieto explicou que durante o período em que o avião sobrevoou a região Norte de Lisboa, nomeadamente em círculos, o piloto estaria a "fazer todos os procedimentos" para avaliar se conseguiria resolver os problemas técnicos e se teria capacidade de navegar para um aeroporto menos movimentado.

Numa primeira fase, "o piloto tenta dominar as falhas", e após isso, se consegue navegar, irá levar o avião para um aeroporto menos movimentado, explicou, pelo que a escolha de Beja é natural, já que "não prejudica o tráfego" aéreo em Lisboa e diminui os riscos se a aterragem falhar.

"Se pode ir para uma zona menos densamente povoada", essa é a opção, acrescentou Jaime Prieto.

Sobre quais seriam as falhas da aeronave, Jaime Prieto disse que "problemas de navegação não dificultam muito a aterragem, são mais de ordem mecânica".

No entanto, sempre que haja dificuldade de aterragem, "o piloto precisa de uma pista com mais distância", pelo que a escolha do aeroporto serve para o efeito.

Aterragem atraiu curiosos
A aterragem de emergência bem-sucedida do avião da Air Astana ocorrida hoje numa pista da Base Aérea de Beja mobilizou meios militares e da Proteção Civil e atraiu também curiosos à zona do aeroporto.

"Vi numa aplicação (app) que a aeronave vinha" a caminho de Beja e "vim cá ver", disse à agência Lusa, junto a uma das vedações nas imediações do aeroporto da cidade, um "spotter" (observador de aviões), que não se quis identificar.

O homem, que estava munido da sua máquina fotográfica, explicou que ainda viu "o avião no ar, escoltado pelos F-16" militares, mas, depois, já não viu "mais nada", ou seja, não conseguiu assistir à aterragem na pista, que se encontra nas instalações da Base Aérea N.º11 de Beja.

Após a aterragem da aeronave, um Embraer, na pista da unidade da Força Aérea Portuguesa (FAP), mas que serve também para a aterragem dos aviões que utilizam o aeroporto de Beja, a Lusa deslocou-se ao local do terminal civil, mas constatou que, além de alguns poucos curiosos, a calma "reinava" no local.

O edifício do aeroporto encontrava-se de portas fechadas e a Lusa foi informada por um agente da PSP que a aeronave já tinha aterrado na parte militar e que iria permanecer nas instalações da base aérea, ou seja, não seria encaminhada para a zona de estacionamento do terminal civil.

Junto da vedação do aeroporto, era possível ver as placas de estacionamento, onde estavam duas aeronaves, mas não se conseguiam ver as pistas.

Uns quilómetros a seguir ao aeroporto de Beja, depois da localidade de S. Brissos, no campo, de onde é possível observar a pista da unidade militar, a Lusa constatou que, até por volta das 17h00, o Embraer da Air Astana esteve estacionado e rodeado de vários veículos, alguns com pirilampos ligados.

Poucos minutos depois, levantaram voo da base aérea os dois F-16 que escoltaram a aeronave até à aterragem de emergência, que se mantém na pista.

C/Lusa 

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