BE candidata-se pela primeira vez na Figueira da Foz

O Bloco de Esquerda (BE) vai apresentar, pela primeira vez, um candidato à Câmara da Figueira da Foz, tentando capitalizar o resultado obtido nas últimas eleições legislativas, onde passou a terceira força política no concelho, disse fonte partidária.

Agência LUSA /

"O Bloco de Esquerda vai concorrer às autárquicas na Figueira da Foz e, em princípio, o cabeça de lista será um aderente (militante) do Bloco", disse à agência Lusa, João Paulo Tomé, coordenador do núcleo local do BE.

Acrescentou que a aposta do Bloco surge na sequência do resultado eleitoral das legislativas de Fevereiro último, onde o partido passou a terceira força política no concelho, alcançando cerca de três mil votos.

Nas últimas eleições autárquicas o BE concorreu em apenas três dos 17 concelhos do distrito, apresentando candidatos em Coimbra, Lousã e Poiares.

João Paulo Tomé explicou ainda que a escolha do cabeça de lista à Câmara da Figueira da Foz será feita após a convenção nacional do BE, prevista para Maio.

O nome do candidato será depois ratificado em assembleia distrital a realizar em Junho ou Julho.

Afasta, porém, a hipótese do candidato à autarquia ser alguém de fora da Figueira da Foz.

"Por princípio somos contra pára-quedistas", disse.

Admitindo apresentar uma lista à Câmara e outra à Assembleia Municipal, o Bloco de Esquerda deixa de fora, "para já", as 18 juntas de freguesia do concelho.

"às freguesias é um pouco mais complicado, somos um partido pequeno, ainda sem estrutura implementada no terreno", sustentou João Paulo Tomé.

O responsável justificou a candidatura à autarquia com o objectivo de que "as pessoas da Figueira da Foz comecem a conhecer o Bloco de Esquerda e não uma fotografia que muitos tentam passar que nada tem a ver com a realidade".

"Não somos uma cambada de extremistas. Queremos construir um projecto diferente das forças políticas ditas tradicionais. O Bloco é mais do que um partido político, é um movimento de vontades. Apostamos num projecto de esquerda abrangente, com a participação de independentes", afirmou João Paulo Tomé.

Confrontado pela agência Lusa com a hipótese da candidatura poder englobar uma aliança de esquerda com o PCP, João Paulo Tomé considerou tal cenário "difícil, embora não impossível".

"Os comunistas defendem um posicionamento social diferente do nosso. A tradição do PCP é impor determinadas directivas rígidas e não concordamos com esse posicionamento, queremos conjugar vontades, defendemos ideias e não cores de partidos políticos" argumentou.

Na reunião, realizada sábado à noite, que juntou num café da cidade elementos do núcleo local do Bloco de Esquerda e vários independentes, foram ainda divulgadas algumas linhas da candidatura autárquica.

No capítulo do "diagnóstico" da Figueira da Foz, o BE sublinha, entre outros aspectos, o caos urbanístico existente na autarquia, com "milhares de fogos sem o mínimo de enquadramento paisagístico e sem um mínimo de condições para fomentar a qualidade de vida".

Nesse pressuposto, João Paulo Tomé defende a necessidade de se elaborar uma "moratória à construção".

"Continua-se a construir sem critério, estamos perante um atentado à qualidade de vida na cidade", acusou.

Já no capítulo das "propostas terapêuticas", o BE defende a criação, na Câmara Municipal, de um Conselho Consultivo Permanente, constituído por todos os presidente de Junta e a funcionar na dependência directa do presidente da Câmara.

Defende igualmente a criação, nas juntas de freguesia, de uma estrutura equivalente "constituída por representantes dos bairros ou aglomerados habitacionais bem definidos".

Medidas que João Paulo Tomé define como "uma espécie de regionalização ao nível autárquico, partindo não do telhado, mas das bases. Terá de ser acompanhada por uma efectiva descentralização de meios, materiais e financeiros, para as Juntas de freguesia", disse.

Outra proposta passa pelo incentivo ao uso dos transportes colectivos urbanos e interurbanos, através da atribuição de prémios (bilhetes de cinema e de espectáculos do Centro de Artes local) aos utilizadores que deixem o carro em casa e se dirijam ao local de trabalho de autocarro, bicicleta ou a pé.

Será preciso recuar 20 anos, até 1985, para ver outra força política que não o PSD (actual detentor da maioria camarária) ou o PS (no poder durante 21 anos e na oposição desde 1997) eleger um vereador na autarquia da Figueira da Foz.

Em 1997 o PSD candidatou o ex-primeiro-ministro e actual presidente da Câmara de Lisboa, Pedro Santana Lopes, que venceu por larga maioria, pondo fim a uma longa governação socialista.

Em 2001 o PSD voltou a vencer as eleições, candidatando Duarte Silva, ex-ministro da Agricultura dos governos de Cavaco Silva.

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