Belmiro de Azevedo afirma que o PR é “um ditador”

Em declarações à revista "Visão", o patrão da Sonae lança farpas à direita e à esquerda. Numa entrevista de nove páginas, Belmiro de Azevedo acusa Cavaco Silva de ser "um ditador", aconselha Manuel Alegre a "ter juízo", e deixa também várias críticas a José Sócrates e a Manuela Ferreira Leite.

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Belmiro de Azevedo deu entrevista polémica à Visão RTP

"O Cavaco é um ditador", afirma Belmiro de Azevedo que justifica a sua acusação com o facto de o actual Presidente da República quando era primeiro-ministro ter "mandado quatro amigos meus, dos melhores ministros para a rua, assim de mão directa".

"Álvaro Barreto, Teresa Patrício Gouveia, Cadilhe e Eurico de Melo, que foi o que me chateou mais. Era vice primeiro-ministro, e foi quem pôs Cavaco no poder", esclarece.

Para o empresário, Cavaco Silva "é um tipo duro, mas não foi talhado" para o cargo de Presidente da República, porque "é um homem do Governo, activo".

Manuel Alegre devia "ter juízo"

Belmiro de Azevedo, que brevemente fará 72 anos, analisou também a candidatura de Manuel Alegre à Presidência da República e afirma que se o histórico socialista vencer, quando terminar o mandato terá 80 anos e que devia ter juízo.

"O Alegre andou comigo no Liceu Alexandre Herculano, no Porto, dois ou três anos há minha frente", revelou o empresário para de seguida afirmar que Manuel Alegre, "devia ter juízo".

Segundo o patrão da Sonae, se o histórico socialista vencer as eleições presidenciais de Janeiro de 2011, "no final do mandato, já terá perto de 80 anos, não é muito sensato".

"Diz que é o segundo Presidente poeta, se ganhar. Também não é uma credencial. É um lugar chato, não sei porque o querem. O Presidente da República tem um espaço de manobra limitado, tem de estar muito atento. Não pode fazer asneiras, nem das banais", frisou.

Sócrates "geriu o poder com autoritarismo moderado"

O empresário acusa José Sócrates de centralizar demasiado todas as decisões e de descredibilizar os restantes membros do Governo. Quanto às relações entre o Presidente da República e o primeiro-ministro, Belmiro de Azevedo afirma que Sócrates geriu bem o poder.

"Durante os primeiros dois anos, Sócrates geriu muito bem o poder, com autoritarismo moderado. Não fez muitas asneiras, era um decisor e fez coisas mais ou menos acertadas", afirmou.

O patrão da Sonae afirma que "José Sócrates assumiu que tinha ministros que faziam o trabalho técnico de preparação. O que é o maior insulto à figura do ministro".

Para Belmiro de Azevedo, o ministro das Finanças "é visto como o mais duro". "E dizem que é o único que o primeiro-ministro respeita ou pouco mais".

"A vantagem é o primeiro-ministro não ter competência para gerir as contas públicas. Teixeira dos Santos é persistente. Mas não é milagreiro, não inventa dinheiro. Muitas vezes as promessas são feitas sem o Teixeira dos Santos assinar por baixo".

Belmiro de Azevedo confessa que tem dificuldade "em saber os nomes de metade dos ministros".

"Como foi possível formar o actual Governo com pessoas, que com o devido respeito, estavam fora do poder de decisão? Há três ou quatro que ninguém sabia que eram e foram para ministros!".

O patrão da Sonae recorda que "há países, como a França, em que os líderes saem de escolas de formação de governantes de alta categoria. No Reino Unido estão períodos longos na economia privada. Experimentam a dureza de ganhar dinheiro. E são cultos, muito cultos".

Manuela Ferreira Leite nunca "teve a responsabilidade de saber como pagar salários"

A líder do PSD, o principal partido da Oposição, também foi criticada por Belmiro de Azevedo, que considera que Manuela Ferreira Leite tem pouca experiência no sector privado.

"Teve muitos anos de trabalho, mas no Estado. Nunca dormiu mal por ter a responsabilidade de pagar salários. Com o devido respeito que tenho pela senhora...", afirmou o empresário.

Belmiro afasta a possibilidade de um "bloco central"

O empresário considera que a possibilidade de criação de um "bloco central" está posta fora de questão porque "senão vira ditadura a dois, compadrio".

"Neste momento, e quase direi por felicidade, não há um Governo de maioria. É uma oportunidade única", acrescentou.

Segundo Belmiro de Azevedo, "para governar, o Executivo teve deve concertar e o Orçamento do Estado criou essas condições".

"Sócrates teve de perder um bocado de arrogância e ceder. O diálogo passou por ser imposto e ele até já mudou de estilo", considerou.

José Sócrates "tomou consciência de que, embora gostasse de ser mandão, há coisas que não pode fazer sozinho. Vai ter de dar o braço a torcer".

Grandes obras são "um devaneio" de José Sócrates

Belmiro de Azevedo defende que as grandes obras que estão projectadas são um devaneio e considera que o TGV está desenhado em função dos espanhóis.

"O devaneio" de José Sócrates "teve muito a ver com o encantamento que sente pelas grandes obras, para ter um mausoléu num sítio qualquer".

"Essa ideia de que Portugal tem de ter um TGV, fina-flor da malandrice", afirmou o empresário.

Belmiro de Azevedo revelou que uma vez falou com o primeiro-ministro sobre o assunto e que lhe disse que "o TGV está desenhado em defesa do interesse dos espanhóis. Se verificar o traçado, todos os TGV saem e chegam a Madrid".

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