Bioplástico de batata e mandioca vence ChemRus 2025

Um grupo de quatro alunos do 12.º ano da Escola Secundária de Vendas Novas desenvolveu um bioplástico a partir de batata e mandioca e venceu o concurso ChemRus 2025, organizado pelo Grupo de Químicos Jovens. A iniciativa partiu da disciplina de Área de Projeto de Química e cresceu até se transformar num exemplo de ciência ao serviço da sustentabilidade.

Nuno Patrício - RTP /
Imagem RTP

"O projeto surgiu como desafio curricular", diz à RTP a professora de Física e Química, Florbela Rego, responsável por este desafio escolar. A docente explica que os alunos tiveram total autonomia para escolher um tema ligado ao programa da disciplina, e decidiram explorar uma alternativa ecológica ao plástico convencional.

“Foram eles que propuseram o tema. Queriam substituir os plásticos poluentes por algo mais sustentável”, explica Florbela Rego, sublinhando que a ideia da total responsabilidade dos estudantes neste projeto educativo.

Da cozinha para o planeta
A química não está só nos laboratórios e todos nós somos produtores de fórmulas bioquímicas no nosso dia-a-dia, quando cozinhamos e quando adicionamos ou combinamos vários ingredientes ou componentes, como um simples copo de água com açúcar.

Diogo Torres, Maria Benedita Paiva, Maria Gonçalvez e Shilin Zheng, alunos de Química do 12.º ano, recorreram à batata e à mandioca para produzir plástico biodegradável.  

Partindo da extração de amido da batata e da mandioca, os jovens investigadores conseguiram criar um bioplástico com recurso a ingredientes comuns como vinagre, água e calor.

“O amido é um polímero essencial na formação de plásticos. Extraímo-lo de forma simples e criámos um produto biodegradável”, afirmam os alunos.
Plástico, um problema mundial
É prático, barato e omnipresente. Mas o plástico é já um dos maiores desafios ambientais da atualidade. Quando foi apresentado ao mundo, na exposição Internacional de Londres, em 1862, a “parkesina” que deu origem ao tradicional plástico, com origem nas resinas do petróleo, este composto químico veio, sem dúvida, alterar toda uma indústria que perdura até à atualidade, sendo este composto utilizado em praticamente tudo o que nos rodeia.

Muito embora se reconheçam as vantagens deste composto e sua aplicabilidade às consequências ambientais deste produto, a produção em larga escala e o consumo abundante deste material deram origem uma crise global de resíduos que ameaça ecossistemas inteiros e afetando já a saúde humana.

Estima-se que uma simples garrafa de plástico possa demorar mais de 400 anos a decompor-se no meio ambiente. E se uma simples garrafa de plástico, que muitos descartam no meio ambiente demora quatro séculos a decompor-se, juntem-lhes os sacos, palhinhas, embalagens e outros produtos descartáveis que não chegam à reciclagem e acabam por se acumular nos oceanos, rios e solos, com consequências devastadoras.

Foto: Reuters

E se pensar que - estes produtos vão acabar por se degradar – na verdade estes resíduos vão fragmentar-se em partículas minúsculas conhecidas como microplásticos (pedaços com menos de cinco milímetros) e que já foram encontrados em peixes, moluscos, sal de cozinha e até na água potável.

A fauna marinha é desde já a mais afetada, devido à ingestão de plástico, por engano, comprometendo a sobrevivência de várias especies. Mas os impactos não se ficam por aí: a cadeia alimentar está contaminada, e os microplásticos chegam agora ao prato dos consumidores.

Foto: Reuters

Os investigadores descobriram inclusive microplásticos na placenta humana, o que levanta sérias preocupações quanto aos efeitos na saúde.

Perante tal problema soluções como o bioplástico é urgente, mas também o reforço em políticas de educação ambiental para travar esta crise ambiental amplamente reconhecida. 
Bioplástico contra a poluição
Reconhecendo os alunos a necessidade de alterar este paradigma, os alunos da Secundária de Vendas Novas, “cultivaram”, dentro do concurso ChemRus 2025, este projeto com um propósito único: combater a poluição causada por plásticos derivados do petróleo, especialmente os microplásticos que já foram detetados em alimentos e no corpo humano.

“Como o nosso bioplástico é de origem natural, degrada-se facilmente no ambiente e ajuda a reduzir a poluição global”, explicam.

Um trabalho que não se ficou pelo laboratório da escola.

A equipa pegou no projeto realizado e apresentou-o em eventos de divulgação científica como a Ciência Viva e concursos em Estremoz e no Porto, onde a sensibilização para a sustentabilidade teve sempre como objectivo primordial.

“Fizemos questão de partilhar o projeto e sensibilizar outras pessoas para a importância de alternativas ecológicas.” 
Sustentabilidade como hábito

Este não foi o primeiro projeto com impacto ambiental, refere a professora e orientadora Florbela Rego. Em anos anteriores, a mesma escola já tinha desenvolvido biocombustíveis a partir de óleos alimentares usados. Uma forma de mostrar aos alunos e não só que a química pode ser positiva.

“Todos os anos tentamos mostrar que o que se aprende nas escolas e particularmente aqui, nas aulas de química, se tira algo de positivo”. E deu como exemplo a produção de biodiesel com alunos de projetos anteriores, recorda a professora.
Mas ensinar química e física, diz a professora, exige mais do que conhecimento técnico: exige motivação e envolvimento. E são projetos práticos, como este que aqui apresentamos, que se consegue cativar alunos e desmistificar a ciência.

“Cativar os alunos é o primeiro passo. Estes projetos são bem aceites e fazem com que a escola se orgulhe do que se faz dentro das suas paredes.”
Projetos que moldam o futuro

A experiência não ficou apenas no campo da ciência: influenciou escolhas de vida. Os três alunos pretendem seguir cursos universitários nas áreas da química e da física.

“O que aprenderam aqui vai ser útil no ensino superior. Estes trabalhos despertam o interesse por áreas científicas e abrem portas”, destaca a docente.

Diogo, Benedita e Pilar têm 17 anos e estão prestes a ingressar no ensino superior. Levarão consigo uma experiência marcante e uma visão crítica sobre a sustentabilidade e o papel da ciência no mundo.

“São todos muito novos, mas já mostram o quanto é possível fazer com curiosidade e empenho,” conclui a professora.

Grupo vencedor ChemRus 2025 composto por Diogo Torres, Maria Benedita Paiva, Maria Pila Gonçalvez, Shilin Zheng e a professora Florbela Rego, da Escola Secundária de Vendas Novas

Nesta 14.ª edição do ChemRus 2025, organizado pelo Grupo de Químicos Jovens (GQJ), o segundo lugar foi atribuído ao projeto “Chuvas Ácidas” , dos alunos Francisca Falca, Maria Tomás, Mariana Esculas, Pedro Coelho, da Escola Secundária de Ponte de Sor, orientados pela professora Cristina Gonçalves.

Já o terceiro lugar coube ao projeto “um bombardeiro natural” dos alunos Jasmine Carvalho, Bruna Gomes, Maria Carreiro, Martim Francisco, Valeryi Donici, da Escola Secundária Infanta Dona Maria, orientados pela professora Cristina Sónia Cardoso.

Este concurso foi destinado a alunos do ensino básico e secundário, e atraiu este ano uma participação considerável, com mais de 60 vídeos submetidos, todos explorando o fascinante mundo da química secreta da natureza. 
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