Bispo Viseu esclarece que apenas diria "sim" à despenalização da mulher

O Bispo de Viseu esclareceu que apenas votaria "sim" no referendo de 11 de Fevereiro caso a questão posta a votação falasse exclusivamente na "despenalização da mulher" e não em três questões que considera "independentes entre si".

Agência LUSA /

D.Ilídio Leandro, defensor no "não" no referendo, tinha declarado terça -feira, num debate realizado na Escola Superior de Educação de Viseu, que votari a "sim" se o que estivesse em causa fosse a despenalização da mulher que pratica o aborto.

No entanto, como esclareceu hoje num encontro com os jornalistas, a per gunta, que considera "falaciosa e enganadora na sua proposta", engloba mais duas ideias além da despenalização da mulher, nomeadamente "o aborto livre até às de z semanas" e "o aborto feito em circunstâncias em que o Estado assume toda a res ponsabilidade, na despesa e condições, naturalmente com o dinheiro dos cidadãos" .

A pergunta a referendar no próximo dia 11 é: "Concorda com a despenaliz ação da Interrupção Voluntária da Gravidez, se realizada, por opção da mulher, n as primeiras dez semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?".

"É uma pergunta que engloba três realidades autónomas e independentes, mas depois, na má fé, os movimentos pelo `sim` apenas carregam numa tónica, que é a despenalização da mulher", frisou o prelado.

D.Ilídio Leandro reafirmou que, se apenas estivesse em causa a despenal ização da mulher, votaria "sim", porque discorda da lei actual, considerando que , antes da mulher, deveriam ser penalizados o Estado, os companheiros das mulher es e os profissionais de saúde.

"A mulher é a última, é a vítima de toda a situação do aborto. Fica na solidão, no abandono, fica no esquecimento, numa sociedade que apenas aponta o d edo", lembrando a história de Jesus que, perante a adúltera, "perguntou quem não tiver pecados que atire a primeira pedra e todos foram embora", só tendo ficado ele junto da mulher.

"E Jesus disse: `ninguém te condenou, eu também não te condeno`. A igre ja nunca condena, portanto eu estaria a ser contra mim próprio e contra aquilo q ue acredito e represento se eu estivesse a penalizar ou se lutasse pela penaliza ção da mulher", esclareceu.

Na sua opinião, o Estado deveria ser o primeiro a ser criminalizado, po rque "tem a lei que tem em relação à natalidade, à promoção da natalidade, à def esa da mulher".

Depois, seria "o companheiro, porque se há uma mulher grávida há também um homem", e "o pessoal de saúde, que em todas as circunstâncias deve ser a fav or da vida".

Lembrou que quer os médicos, quer os enfermeiros, "fazem o Juramento de Hipócrates", que é "muito claro na defesa da vida em todas as circunstâncias".

No encontro com jornalistas hoje de manhã, em Viseu, D.Ilídio Leandro t ambém lançou críticas ao ministro da Saúde, Correia de Campos, por este ter dito que se prevêem "23 mil abortos por ano, por isso anda à volta em gastos de dez milhões de euros", que o Estado tem condições para pagar.

"Então mas nós não precisamos em Portugal de 23 mil crianças a mais por ano? Então mas nós não temos no campo da saúde necessidade de dez milhões de eu ros para atender a casos de doença grave ou leve, para promoção de uma política de natalidade?", questionou.

Questionado sobre as posições que têm sido apresentadas por membros da Igreja Católica, nomeadamente por outros bispos portugueses, D. Ilídio Leandro a dmitiu que "às vezes a linguagem de facto é um pouco mais a tender para algum ex tremo, para alguma imagem um pouco mais difícil de aceitar por algumas sensibili dades".

No entanto, lembrou que, à semelhança do aborto, quer a pena de morte, quer a eutanásia têm como objectivo "eliminar uma vida antes do fim, atentar con tra a dignidade de uma vida que existe".

O bispo de Viseu disse aos jornalistas que prefere ter uma "linguagem d e aproximação" que valoriza "o diálogo, a abertura", por considerar que os portu gueses devem estar todos "no mesmo barco, a dialogar sobre a vida e sobre o modo de salvar a vida em todas as circunstâncias na sua dignidade, nos seus valores" .

"Não sou pelo extremar de posições no sentido de tornar a linguagem agr essiva, violenta. O resultado da linguagem, das imagens, no fundo, infelizmente, é o mesmo: a morte ou o desprezo da vida", acrescentou.

D.Ilídio Leandro exortou o Governo português a seguir exemplos de paíse s como a Alemanha, "que concedem, facilitam, a promoção da maternidade em condiç ões mais abonatórias para a mulher que quer um filho".

Apelou também à sociedade, à Igreja e à família para que surjam "interv enções mais solidárias, mais capazes de acompanhar uma mulher que esteja de fact o numa situação de abandono e de acompanhar situações em que uma mulher pode não querer o filho".

Lembrou que ter defendido, numa nota pastoral de 13 de Novembro, a cria ção de um "banco de crianças" onde as mulheres poderiam deixar os filhos que não quisessem criar.

"Defendo que toda a mulher grávida deve dar à luz o seu filho, porque n ão concordo nunca que a vida seja abortada, desde o início até à morte natural. Mas a mulher pode não querer o seu filho depois de nascer", referiu, advogando q ue cabe ao Estado, à Igreja e às instituições "possibilitar que essa criança pos sa ter uma família, um futuro".

Neste âmbito, disse que no dia a seguir a referendo, a Diocese de Viseu vai fazer "uma proposta positiva para dar algum contributo para que a mulher, m esmo na situação de mais desespero, possa acreditar que o seu filho pode ter um lugar".

"Temos dialogado com outras instituições, de foro civil, para encontrar mos a resposta que seja mais positiva para situações mais drásticas e mais extre mas e quando chegarmos à conclusão que pode ser a melhor resposta nós anunciarem os", acrescentou.

PUB