Boom Festival: do teste de drogas ao estilo de vida sustentável

por RTP
O festival terá disponíveis três serviços de prevenção e minimização de danos provocados por substâncias Twitter do Boom Festival

O Boom Festival começa este domingo em Idanha-a-Nova. Entre as várias estruturas e serviços disponíveis no festival, estarão balcões de informação para o consumo responsável de substâncias e postos de drug cheking.

Foi em 1997 que se realizou o primeiro Boom Festival. Desde 2002, o evento bienal tem marcado lugar na barragem Marechal Carmona, de Idanha-a-Nova, no distrito de Castelo Branco.

O festival multidisciplinar, conhecido por associar a música – destacando-se o trance psicadélico - a um estilo de vida ecológico e espiritual, congrega pessoas suficientes para que o consumo de substâncias psicotrópicas seja significativo.

Por essa razão, o festival terá disponíveis três serviços, com 116 profissionais, que atuam na prevenção, na redução de riscos e na minimização de danos provocados por substâncias, tanto ilícitas, no caso das drogas, como lícitas, no caso do álcool.

A edição deste ano volta a contar com um infostand, um balcão de informações onde as pessoas são aconselhadas para um consumo responsável.

Também estará disponível uma equipa de intervenção em casos de crise psicológica. No entanto, a banca mais falada tem sido a de drug checking (teste de droga), onde os participantes podem testar a pureza de substâncias psicotrópicas.

Tem-se verificado uma grande adulteração de substâncias, que passam a ser criadas em laboratório.

Estas representam um perigo acrescido em relação às drogas tradicionais, visto os seus princípios ativos serem mais potentes e duradouros. O drug cheking serviria para detetar este tipo de situações.

“Estudos indicam que os postos de drug cheking podem ser dissuasores de consumo, pois as pessoas pensam que compraram uma coisa e afinal venderam-lhes outra”, explica Paula Frango, psicóloga do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD).
Drug testing já era feito em 2006
Desde 2010 que estes serviços são implementados pela Associação Cosmicare, com o apoio, consultoria técnica e licenciamento de estruturas do SICAD. Existe ainda uma parceria com a Faculdade de Psicologia da Universidade Católica do Porto, que tem realizado investigação na área do consumo deste tipo de substâncias.

Apesar disso, é de realçar que o drug testing foi realizado pela primeira vez no Boom Festival na edição de 2006.

A iniciativa partiu da organização do festival, não existindo qualquer tipo de financiamento por parte do Ministério da Saúde.

“Como em qualquer outro contexto social e recreativo há consumo de substâncias, tal como o há em festivais e queimas das fitas. A maior parte dos promotores desses eventos não estão disponíveis para gastar recursos na prevenção e intervenção desses comportamentos como a organização do Boom Festival faz”, defende Paula Frango.
Para além das drogas
programação do festival é variada, tanto que é quase impossível enumerar aqui todas as atividades. Por exemplo, no ano de 2016 estiveram presentes 895 artistas no festival, tal como é adiantado num comunicado da organização.

Para além das atuações existem conferências, workshops - alguns deles virados para questões de sustentabilidade ambiental - e também atividades para crianças, dado que o festival se assume como intergeracional.

Exemplo de uma das atividades deste ano é a conferência que será dada por Leo Hoffmann-Axthelm, representante da Campanha Internacional para a Abolição de Armas Nucleares (ICAN), a qual recebeu o Prémio Nobel da Paz em 2017.

Curiosamente, os bilhetes para o festival são vendidos ainda antes de se saber a programação. Isto porque os chamados boomers procuram “um festival onde o conceito, a experiência e os valores defendidos são mais importantes do que os artistas”, refere Artur Mendes, pertencente à organização, em comunicado.

Os bilhetes para o festival são vendidos em duas fases. Na primeira, cada bilhete custa 155 euros, ao passo que na segunda os valores sobem para 195 euros.

Na edição deste ano, os bilhetes para ambas as fases esgotaram num único dia. Só na segunda fase venderam-se 15569 bilhetes em três horas e meia. No total foram vendidos 28600 bilhetes.

Apesar de ainda não existirem números oficiais, uma fonte da organização adiantou que esperam cerca de 30 mil participantes, à semelhança da edição anterior. No entanto, o número de nacionalidades presentes já foi adiantado: serão 147.
A responsabilidade social
Na ótica da sustentabilidade ambiental, o festival tem vindo a incitar a práticas mais ecológicas.

Na edição deste ano estará disponível um equipamento de reciclagem que, através de impressão 3D, permite transformar lixo plástico em pequenos objetos, tal como é adiantado num comunicado da organização.

Seguindo a mesma linha ecológica, cada pessoa receberá um welcome kit com um sabonete biodegradável, para evitar a poluição da água, dois sacos para separação de resíduos e um cinzeiro portátil.

A produção de energia solar também será reforçada com mais 12 painéis solares, para além de que serão distribuídos utensílios alimentares biodegradáveis, em substituição dos pratos e talheres de plástico.

Para além disso, o Boom Festival criou em 2014 o seu próprio projeto solidário, o Boom Karumka (“compaixão” em sânscrito). Nesse ano ajudaram três instituições locais, o Centro de Estudos e Recuperação de Animais Selvagens de Castelo Branco (CERAS), a Associação Educar, Reabilitar e Incluir Diferenças (AERID) e a Sementes do Interior.

De acordo com uma fonte da organização, parte da receita da venda de bilhetes é utilizada para comprar equipamento, materiais didáticos e géneros que as instituições possam precisar.

Na edição de 2016 ajudaram apenas a CERAS, devido ao aumento do número animais feridos que chegaram ao Centro, vítimas dos incêndios e secas que assolaram o país no ano passado.
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