Brasil vai testar castas portuguesas para melhorar produção de vinho

Investigadores brasileiros vão testar 10 castas portuguesas no Estado de Minas Gerais para melhorar a qualidade do vinho, numa iniciativa apoiada perlos enólogos da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD).

Agência LUSA /

A cooperação entre os investigadores brasileiros e portugueses vai estender-se ainda à plantação de sobreiros e oliveiras no Brasil e ao ensino de técnicas de produção de frutas tropicais na universidade de Vila Real.

Estas iniciativas foram anunciadas no decorrer da I Cimeira Luso-Brasileira de Ciência e Tecnologia que decorre na UTAD desde segunda-feira até sábado, em colaboração com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) e Fundação para Ciência e Tecnologia (FCT) de Portugal.

Mário Neto Borges, director científico da FAPEMIG, disse à Agência Lusa que vão ser promovidos entre os dois países "irmãos" vários projectos em áreas tão distintas como as ciências agrárias, saúde, engenharias, desporto, biotecnologia e meio ambiente.

Enologia e viticultura são áreas em destaque, tanto mais que a UTAD possui o único curso de enologia existente em Portugal e integra, desde 1979, a Rede Nacional da Selecção da Videira.

Mário Neto Borges referiu que, ainda no decorrer deste ano, vão ser plantadas 10 castas portuguesas em duas regiões enológicas distintas do Estado de Minas Gerais (Norte e Sul).

Adiantou que os geólogos já "identificaram terrenos similares" para a tentativa de produção.

O objectivo é testar as castas que melhor se poderão adaptar ao solo e clima brasileiro e melhorar a qualidade do vinho produzido no Brasil.

Murillo de Albuquerque, investigador da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado de Minas Gerais (EPAMIG), explicou à Lusa que foram seleccionadas castas "com perfil genético adaptado à produção de vinhos de qualidade".

Entre essas castas estão a Touriga Nacional, Tinta Roriz, Tinta Barroca, Bastardo, Touriga Franca, Castelão, Alvarinho, Fernão Pires, Loureiro, Viozinho e Sousão (seis castas de tinto e quatro de branco).

"Ainda este ano vamos começar as plantações e, atendendo ao ciclo de crescimento e desenvolvimento da videira, poder-se-á experimentar vinho produzido por estas castas lá para 2010", admitiu.

Nuno Magalhães, professor do departamento de Viticultura da UTAD, referiu que as castas a plantar no Brasil são seleccionadas geneticamente.

"Vamos enviar de cada casta um conjunto de vários clones que já foram testados em relação à qualidade e quantidade de produção e resistência a viroses", explicou.

Estas castas são resultantes da Rede Nacional da Selecção Genética da Videira que, ao longo dos últimos 28 anos, promoveu investigações com vista ao melhoramento das videiras.

Os pés de videira seleccionados são recolhidos de campos de experimentação, como o que existe no campus na UTAD, em Vila Real, os quais, por sua vez, são introduzidos em campos de multiplicação, onde são feitos os excertos prontos que são plantados nas vinhas.

Segundo Murrillo de Albuquerque, Minas Gerais vai enviar investigadores à UTAD para aprenderem técnicas de análises de vinho, enquanto um enólogo da universidade de Vila Real vai, durante um ano, para o Brasil para dar formação na área da enologia.

O curso de Enologia da UTAD foi criado em 1989 e dá formação nos aspectos relativos à instalação de vinhas, ao adequado desenvolvimento fisiológico da vieira, aos factores condicionantes da qualidade da matéria-prima, à higiene, processo de vinificação, controlo analítico dos vinhos.

O investigador referiu que a viticultura "é recente" no Brasil e, por isso, "procuram-se agora regiões adequadas à produção, castas e novas tecnologias".

No Brasil existem cerca de 70 mil hectares de vinha, a maior parte dos quais está plantada com castas americanas e francesas, não existindo neste país castas autóctones.

"A tendência mais recente é a de apostar mais nas castas europeias, nomeadamente nas portuguesas", frisou.

O responsável disse ainda que, embora seja recente, o mercado brasileiro é muito exigente".

Enquanto em Portugal o consumo médio anual de vinho é de 54 litros por habitante, no Brasil o consumo médio é de dois litros por habitante.

Murillo de Albuquerque referiu que 60 por cento do "vinho fino" (vinho de mesa produzido a partir de castas europeias) é importado.

Para além das videiras, vão ainda ser testadas no Brasil variedades portuguesas de sobreiro com o objectivo de, segundo Mário Neto Borges, "potenciar futuras plantações para produzir cortiça de qualidade com adopção de tecnologia portuguesa".

Também em parceria com a UTAD, vão ser plantadas oliveiras em Minas Gerais.

Murillo de Albuquerque recordou que todo o azeite consumido no Brasil é importado de países como Portugal ou Espanha, salientando, por isso, a importância de ser testada a plantação de azeite com tecnologia portuguesa que garanta a qualidade da produção.

Elementos das universidades de Minas Gerais virão para a UTAD a fim de ensinar técnicas de produção de frutas tropicais, como banana e a manga.

O Estado de Minas Gerais, que representa uma área equivalente à da França, é o maior produtor do mundo de café e conta ainda com uma forte representação na produção de batata, carne e leite.

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