Campeonato de Chegas de bois começa quinta-feira em Montalegre e decorre até Agosto

A Câmara de Montalegre organiza um campeonato de chegas de bois a partir de quinta-feira para fomentar o aumento do efectivo destes animais de raça barrosã, que protagonizam espectáculos de luta apreciados por milhares de pessoas.

Agência LUSA /

O vereador da Câmara de Montalegre Orlando Alves disse hoje à Agência Lusa que a autarquia, em colaboração com a Associação "O Boi do Povo", decidiu realizar pela segunda vez o campeonato de chegas de bois, 13 anos depois da primeira edição, que decorrerá até dia 11 de Agosto.

O primeiro "round" entre os bois do Barroso, ocorre às 18:00 de quinta-feira, no denominado "chegódromo" - campo das chegas de bois da vila de Montalegre - e vai opor o "Bagulhão", que pertence a António Jorge, e o "Gralhas", de José Carvalho Moura.

"Ao retomarmos estas lutas queremos, acima de tudo, tentar fomentar o aumento do efectivo de bois barrosões que existem em todo o território", afirmou o responsável.

Segundo indicou, inscreveram-se no campeonato "apenas" 12 exemplares da raça barrosã, o que constituiu um sinal da "decadência e do desprezo" a que esta raça autóctone tem sido sujeita.

Nos últimos anos muitos produtores têm optado por outras espécies bovinas, de crescimento mais rápido e às quais é feita inseminação artificial, disse o responsável.

"Tudo isto leva a que sejam cada vez menos as pessoas que querem criar os bois barrosões", frisou.

O vereador salientou que, actualmente, são ainda muitos os turistas que se deslocam propositadamente à região do Barroso para assistir a estas lutas que põem em confronto os melhores bois da raça barrosã, numa tradição cujas origens se perdem no tempo.

"Se no mesmo dia se realizasse em Montalegre um jogo de futebol entre o Porto e o Benfica e uma chega de bois, o estádio de futebol estaria vazio e o campo da chega completamente cheio", garantiu Orlando Alves.

O campeonato termina a 11 de Agosto, dia em que também se realiza a feira do Prémio do Gado Barrosão que vai premiar quem ainda "teimosa e corajosamente" se dedica à criação desta raça.

A todos os participantes no campeonato de chegas de bois vai ser dado um prémio de participação de 500 euros e atribuído um prémio final também de 500 euros ao vencedor.

"O objectivo é ajudar os agricultores que ainda produzem esta raça e incentivar o aumento do efectivo da raça barrosã", salientou o vereador.

As lutas vão ser divididas em duas categorias, designadamente jovens (quatro participantes) e adultos (oito).

Para Orlando Alves, este evento representa "uma excelente oportunidade para unir todos os barrosões em volta de um alto valor de identidade cultural" e impedir que "uma das mais nobres tradições do concelho e da região do Barroso morra".

Os bois são alvo de um longo trabalho de "mimo" e preparação antes de entrarem no recinto da chega e de enfrentarem o boi opositor, que agora é feito pelos seus proprietários, mas que há anos era um trabalho comunitário, que envolvia toda uma aldeia.

O animal, que tinha funções essencialmente reprodutoras, era chamado o "Boi do Povo" e era partilhado e sustentado por toda a comunidade.

No dia da chega, sob o olhar atento dos milhares de pessoas que assistem a cada luta, os dois bois são colocados frente a frente e incitados pela multidão.

Os dois machos iniciam então uma "dança" que se prolonga mais ou menos no tempo, dependendo da força de cada animal, e durante a qual investem, enfrentam-se com violência, entrelaçam os chifres, afastam-se e voltam ao confronto.

A luta termina quando um dos bois foge, assumindo a derrota, ou quando é ferido pelo outro animal.

Foi precisamente para homenagear o "boi do povo", herói de muitas chegas, que nasceu a associação etnográfica que, além de promover a realização destas lutas, pretende incentivar esta tradição entre os mais jovens.

As raízes do "Boi do Povo" e as chegas de bois não estão ainda perfeitamente definidas, mas há quem as remeta para as longínquas tradições celtas.

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