Cancro da próstata é segunda causa de morte por cancro em Portugal

por © 2007 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.

O cancro da próstata é a segunda causa de morte por cancro em Portugal vitimando todos os anos cerca de 1.500 homens, número explicado pela baixa percentagem de homens que consulta antecipadamente o médico para um rastreio.

De acordo com um estudo realizado pela Associação Portuguesa de Urologia (APU), a divulgar quinta-feira, sobre a "Avaliação de práticas e conhecimento dos homens relativamente a doença prostática em Portugal", nove em cada dez dos homens consultados (90 por cento) já tinham ouvido falar desta doença, mas apenas 20 por cento tinham consultado o seu médico para falar especificamente sobre a doença e submeterem-se a rastreio e a um diagnóstico precoce.

O estudo contou com a participação de 2.200 homens com uma idade média de 55 anos.

Tal como explicou à Lusa o director do serviço de Urologia do Hospital Pulido Valente, em Lisboa, existem vários motivos para que seja tão pequena a margem de homens que faz rastreios, estando os principais ligados ao estigma que ainda existe em torno desta doença que afecta todos os anos em Portugal entre 3.000 a 4.000 homens portugueses.

"Há ainda alguns mitos relativamente a estas doenças prostáticas e há a questão da avaliação e do tratamento. Muitos homens têm medo do toque rectal que é sempre necessário para avaliar a próstata e não querem ir por causa desse aspecto. Segundo, muitas vezes o médico de família é uma senhora e os homens tem algum pudor em falar sobre estas coisas. Depois, muitas vezes os homens ligam a próstata à área sexual, genital e portanto há muito pudor em falar sobre este assunto", revelou Tomé Lopes.

Pudor que leva a que a maior parte dos homens portugueses prefira esconder a assumir a existência do problema, o que pode acabar por ter consequências trágicas.

"O cancro da próstata só é curável na sua fase inicial mas se a pessoa está à espera de ter sintomas urinários, porque é aquilo que a pessoa pensa que o cancro da próstata dará, para ir ao medico é um erro, porque o cancro da próstata no inicio e quando é curável não dá sintomas nenhuns", revelou Tomé Lopes.

Aliás, de acordo com o especialista, "quando o cancro da próstata dá sintomas, habitualmente já passou a fase em que é curável, portanto já é uma doença avançada".

"É por isso que é muito importante ir fazer voluntariamente o despiste do cancro na próstata e detectá-lo numa fase precoce para ser curável", avisou.

Exemplo disso é António Pereira Pinto, 77 anos, doente e presidente da Associação Portuguesa de doentes da Próstata (APDP), a quem foi diagnosticado um cancro na próstata há 16 anos.

Militar de profissão e obrigado por isso a fazer check-up duas vezes por ano, António Pereira Pinto descobriu aos 58 anos, depois de alguns exames de rotina, que tinha uma hipertrofia benigna da próstata que obrigava a um tratamento para conter o crescimento do órgão.

"Entretanto passei à reserva e deixei de fazer os check-up que tinha de fazer duas vezes por ano e (...) andei três anos sem fazer quaisquer análises, mas sempre muito bem. Um dia encontrei o meu urologista e este convenceu-me a voltar a fazer análises. Foi nessa altura que descobri, através de uma biopsia, que já tinha um cancro", explicou.

Consciente que teve "muita sorte" por encontrar o seu médico naquela altura, António Pereira Pinto avisa que a atenção para com os problemas na próstata tem que ser constante.

"As pessoas têm de cuidar da próstata mesmo não sentido problema nenhum porque o cancro da próstata é um cancro silencioso, é um cancro que é sintomático e as pessoas, quando vierem a sentir alguma coisa por terem cancro, então nessa altura o cancro já está de tal maneira metastizado que já não tem salvação", sublinhou.

Agora no papel de presidente da Associação Portuguesa de doentes da Próstata, António Pereira Pinto queixa-se de como a vergonha e o estigma à volta desta doença leva a que os doentes não procurem ajuda.

"Aqui há uns quatros anos, a Associação Portuguesa de Urologia obrigou-me praticamente a criar esta associação para apoiar os doentes. Criámos uma associação que tem uma quota baixíssima, de 15 euros por ano, mas a verdade é que até agora só conseguimos arranjar 130 associados, o que nos leva a ter pouca capacidade de intervir junto deles", queixou-se.

De acordo com o médico Tomé Lopes, com base em dados da Associação Portuguesa de Urologia, o cancro da próstata é a segunda causa de morte por cancro entre os homens portugueses, apenas ultrapassado pelo cancro do pulmão, e tudo porque no total dos doentes, cerca de 40 por cento só se queixa quando a doença já está avançada e as possibilidades de cura são diminutas.

Para assinalar o Dia Europeu das Doenças da Próstata, que se comemora sábado, a Associação Portuguesa de Urologia vai divulgar, quinta-feira, os resultados do estudo sobre a "Avaliação de práticas e conhecimento dos homens relativamente a doença prostática em Portugal".

Também será assinado um protocolo com a Associação Nacional de Farmácias (ANF) e a Associação Portuguesa de Doentes da Próstata (APDP), com o objectivo de melhorar os cuidados de saúde prestados aos doentes que sofrem de patologias do foro urológico.

O protocolo assinado entre as três entidades consiste na preparação de materiais informativos para o doente e de apoio à intervenção farmacêutica, elaboração de normas de intervenção no domínio das doenças da próstata, dinamização de acções de sensibilização junto da população, organização de ciclos de formação para farmacêuticos e outros profissionais de saúde e realização de estudos farmacoepidemiológicos.

Além do estudo epidemiológico e do protocolo, a APU vai ainda levar a cabo uma acção de sensibilização da sociedade, consistindo na distribuição de informação sobre patologias do foro urológico, no Parque das Nações, entre às 14:00 e as 19:00 no próximo sábado, 15 de Setembro, data em que se celebra a efeméride.


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