Cardiologista português coloca em Angola primeiro "pacemaker" de re-sincronização

O cardiologista português Machado Rodrigues realizou hoje a primeira operação de implantação de um "pacemaker" de ressincronização cardíaca, numa intervenção efectuada no Hospital Militar de Luanda, onde foi inaugurado na semana passada o primeiro centro de "pacing" em Angola.

Agência LUSA /

Laurindo Gaieta, 37 anos, funcionário da empresa petrolífera SONANGOL, foi o primeiro angolano a receber em Luanda um "pacemaker" que permite corrigir uma patologia de insuficiência cardíaca que, segundo os especialistas, provoca a morte de 50 por cento dos doentes.

A intervenção cirúrgica, realizada por uma equipa liderada por Machado Rodrigues, durou cerca de três horas no bloco operatório do centro inaugurado na semana passada pelo cardiologista português.

A operação foi seguida atentamente pelo pessoal de saúde angolano que está a frequentar o curso ministrado por Machado Rodrigues, responsável do centro de "pacing" do Hospital Pulido Valente, em Lisboa, tendo em vista criar condições para que a colocação de "pacemakers" seja possível em Luanda, evitando que os doentes tenham que se deslocar ao estrangeiro.

O especialista angolano Humberto Morais, chefe do Departamento de Cardiologia do Hospital Militar, salientou à Lusa, no final da intervenção cirúrgica, que a implantação do "pacemaker" de ressincronização "exige uma técnica mais morosa, com mais riscos para o doente", mas acrescentou que as suas vantagens são evidentes.

"Os benefícios deste +pacemaker+ são grandes, superando em muito o risco da intervenção. Os doentes, depois da operação, melhoram muito a sua qualidade de vida, não precisam de estar constantemente internados", frisou Humberto Marques.

A insuficiência cardíaca em Angola afecta principalmente pessoas com mais de 46 anos, exigindo em certos casos a colocação do "pacemaker", um aparelho que estimula o coração quando a frequência cardíaca não é a correcta.

Durante a operação, o maior risco ocorre quando é introduzida uma válvula entre os dois ventrículos, altura em que existe a possibilidade do doente deixar de ter actividade eléctrica no coração, o que pode causar a morte.

O cardiologista Humberto Marques assegurou, no entanto, que "existem condições técnicas apropriadas para minimizar o risco de morte dos pacientes".

"Temos na sala todo o material necessário para fazer a reanimação cardio-respiratória, além disso estão presentes um cardiologista principal e um assistente, uma enfermeira especializada em "pacing" e um técnico especializado em electrohemografia, que controlam o estado clínico do doente passo a passo durante a intervenção", salientou Humberto Marques.

Esta operação foi a mais exigente entre as cinco que o cardiologista português Machado Rodrigues já realizou desde que chegou a Luanda no início da semana passada.

Os outros quatro "pacemaker" que colocou em doentes angolanos eram mais simples e envolveram intervenções cirúrgicas com uma duração de cerca de 30 minutos.

Antes da inauguração deste primeiro centro de "pacing" de Luanda, os doentes angolanos com este tipo de problemas cardíacos tinham que se deslocar ao estrangeiro, especialmente a Portugal ou à África do Sul, para receber um "pacemaker".

Para assegurar o funcionamento do centro de "pacing" instalado no Hospital Militar de Luanda, Machado Rodrigues, acompanhado pela enfermeira portuguesa Anabela Ambrósio, especializada no acompanhamento destes doentes, está a ministrar um curso de formação para pessoal médico e de enfermagem angolano.

A divulgação da abertura do primeiro centro de "pacing" em Luanda, ocorrida há menos de uma semana, já provocou um aumento considerável do número de doentes que pretendem ser submetidos a uma intervenção cirúrgica para colocação de um "pacemaker".

Dos 40 doentes que estavam inicialmente inscritos, a lista conta agora com 105 nomes.


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