Cascais apresentou projeto de centro cultural judaico que divide moradores da Guia

por Lusa

Cascais, Lisboa, 23 fev (Lusa) - A Câmara de Cascais apresentou um plano de requalificação urbana da costa da Guia, que incluirá um centro cultural judaico, projeto que merece o apoio da associação de moradores, mas que continua a suscitar dúvidas entre outros residentes.

O projeto do Plano de Requalificação Ambiental e Urbana da Costa da Guia foi apresentado no auditório da Casa das Histórias Paula Rego e prevê a construção do "Jewish Life and Learning Center" (Centro de vida e aprendizagem judaico).

Num terreno de 5.000 metros quadrados (m2), resultante de cedências de alvarás e destinado no Plano Diretor Municipal para equipamento, será construído o centro cultural judaico, com biblioteca, num edifício implantado em 1.000 m2.

Na proposta do plano estão previstos 2.080 m2 para área verde e "um jardim sensorial", bem como 884 m2 destinados para estacionamento.

A área verde será dividida em três zonas, compostas por um pomar, espaço de estadia com canteiros e mobiliário urbano e percursos já utilizados pelos moradores, com alargamento de passeios e reabilitação da vegetação existente.

O plano prevê o abate de 15 pinheiros, mas também a transplantação de sete cerejeiras e uma palmeira, assim como a plantação de mais 50 pinheiros, 20 árvores de fruto e 20 árvores do centro cultural.

"Esta é uma solução que resultou de muita auscultação e negociação e que considero extraordinária, que vai valorizar e requalificar a zona do ponto de vista urbano e, especialmente, do ponto de vista ambiental", afirmou o presidente da câmara, Carlos Carreiras (PSD), citado no `site` da autarquia.

O autarca considerou que se trata da melhor proposta para o espaço, porque "não só induz uma valência cultural, como é minimalista na intervenção urbana", com uma edificação de um piso em vez dos cinco andares permitidos para o local.

"A nossa intenção era minorar todo o impacto que pudesse haver em termos de construção e enquadrar o projeto em todo o conceito de natureza", explicou à agência Lusa o presidente da Associação de Moradores Verde Guia.

Segundo Ruben da Silveira, o projeto foi evoluindo e "a atuação da Verde Guia foi sempre no sentido de melhorar todas as condições dos moradores".

"Teríamos preferido que pudesse ter havido a construção de outro tipo de equipamento, mas ficámos desde muito cedo esclarecidos que, como se trata de uma cedência à câmara, ela dispõe sobre o espaço", notou.

O presidente da associação de moradores admitiu, no entanto, que o projeto do centro criou "uma divisão" entre os moradores da zona.

"Aquela área não deveria ser privatizada para este fim, porque é um terreno que foi cedido ao município para um equipamento público e aquilo é, claramente, um equipamento de uma associação privada", afirmou Pedro Jordão.

O porta-voz do movimento SOS Costa da Guia opõe-se à construção naquele espaço, sublinhando que "há outros terrenos nas proximidades que poderiam ser utilizados para esse fim".

Na sequência da apresentação do plano, na quinta-feira, Pedro Jordão assumiu que "as reservas se mantêm" e "a questão nunca foi a existência de um centro da Chabad, mas apenas a localização" numa zona verde.

"É um terreno público numa zona verde, que faria todo o sentido continuar com um equipamento desportivo, para usufruto de todos, que foi cedido por um valor absolutamente irrisório, para instalações privadas de uma associação que nem sequer é representativa da comunidade judaica no seu todo", criticou.

O município aprovou, em 2017, ceder o direito de superfície do terreno a favor da Associação Chabad Portugal, por uma renda mensal de 744 euros, durante um período de 50 anos.

A SOS Costa da Guia apresentou, entretanto, uma providência cautelar e uma ação em tribunal, para travar a deliberação camarária, que aguarda por decisão.

Para Carlos Carreiras, o projeto contribui para afirmar Cascais como "um ponto de encontro de povos e culturas, fazendo deste território multicultural um local de tolerância e integração, o que o torna não só mais seguro como mais competitivo a nível económico e social".

"O projeto acabou por incorporar um conjunto de propostas dos próprios moradores", revelou um representante da Chabad Portugal, acrescentando que o centro, com componente educativa, "vai ter uma parte de jardim público aberto, onde toda a comunidade pode entrar".

Uma fonte oficial da Câmara de Cascais disse à Lusa que o projeto ainda não está licenciado, mas que o presidente da autarquia já admitiu que o centro poderá estar concluído a tempo da celebração da festa judaica do "chanukah", em dezembro.

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