Caudal do Douro a 200 m3 do primeiro patamar de risco de cheia
O caudal do estuário do Douro encontrava-se, ao final da manhã de hoje, a 200 metros cúbicos por segundo (m3/s) do primeiro patamar de risco, disse à Lusa fonte do Centro de Previsão de Cheias (CPC).
O valor estava a pouco mais de metade do que o comandante Martins dos Santos, da Capitania do Douro, considera como necessário para que as águas do Douro possam transbordar para a zona ribeirinha.
De acordo com o oficial, a previsão meteorológica cruzada com informações de outras fontes permite prever o engrossamento do caudal a curto prazo, ainda que sem se perspectivar se venha a atingir os níveis de cheia durante o fim-de-semana.
Num quadro meteorológico que tende a prolongar-se, segundo os serviços meteorológicos pelo menos até sábado, a região do Porto está hoje a ser fustigada por forte ventania e chuva intensa, ainda que o Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS) não tenha assinalado danos "dignos de registo".
O principal indicador do risco de cheias na zona do estuário - de quase 22 quilómetros - é o volume de água debitado na barragem de Crestuma-Lever, que pouco antes das 12:00 se situava em 1.800 m3/s.
A fonte esclareceu que o primeiro patamar de preocupação (a chamada "fase de aviso") é atingido com 2.000 m3/s e o segundo ("fase de alerta") é de 3.500 m3.
Este patamar quase "garante", segundo o comandante Martins dos Santos, a invasão das margens na zona baixa do Porto.
Os dados foram obtidos à margem da apresentação do Plano Distrital de Cheias do Distrito do Porto, hoje efectuado pela governadora civil do Porto, Isabel Oneto, durante uma visita ao CPC do Douro.
Este plano estabelece as articulações a efectuar - aos níveis preventivo e em casos de emergência consumada - por todo o dispositivo de socorro, em caso de cheias no Douro ou intempéries localizadas que deixem um rasto de destruição.
Comando Distrital de Operações de Socorro (entidade tutelar dos bombeiros), Instituto Nacional de Emergência Médica, Cruz Vermelha ou Capitania do Douro são algumas entidades que o plano mobiliza para operações deste tipo.
O plano distrital é complementado com planos municipais, estando já activo pelo menos o do Porto, segundo informação da presidência da Câmara Municipal local.
O CPC do Douro, uma estrutura dependente da Marinha Portuguesa, trabalha em todo o troço nacional do grande rio ibérico, de Barca d`Alva à foz, ao longo de 170 quilómetros e de seis distritos.
A leitura dos caudais do Douro - que o Instituto Nacional da Água faz em postos distribuídos por todo o curso do rio - são o contributo principal, mas não o único, para o trabalho de avaliação do CDP.
A previsão meteorológica, informações do grupo EDP sobre perspectivas de descargas anormais nas barragens, o histórico de cheias, o cruzamento de informações com os centros operacionais de operações de socorro e a experiência do pessoal adstrito ao serviço são também tidos em conta nas previsões.
Além de alertas às populações, ante a eventualidade de cheias, o CPC pode determinar a suspensão de cruzeiros fluviais e obrigar as empresas concessionárias a manter as tripulações de prevenção, entre outras medidas.
As cheias extraordinárias do Douro caracterizam-se, segundo estudos de 2000, elaborados por especialistas de Ciências da Terra, da Universidade do Minho, e do Departamento de Geologia da Universidade de Lisboa, por um grande volume, rápida propagação e forte elevação do nível das águas (sobretudo nos troços mais estreitos).
Os especialistas referem que essas cheias são de curta duração - dois a três dias - dado que a descida do nível das águas se faz de um modo igualmente rápido.
A maior cheia registada no Douro data de 1909, altura em que o rio atingiu o recorde de 16.700 m3/s de caudal.
A segunda maior cheia do século XX no Douro ocorreu em 1962.