Cavaco Silva defende maior concertação política entre Portugal e Brasil

** Paulo Alves Nogueira (texto) e Paulo Novais (fotos), da Agência Lusa **

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Rio de Janeiro, Brasil, 08 Mar (Lusa) -- O Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, propôs na sexta-feira ao seu homólogo brasileiro um aprofundamento da concertação política entre Portugal e o Brasil a nível internacional e um programa de formação diplomática entre os dois países.

"É preciso aprofundar a nossa concertação política e projectá-la de forma mais determinada na cena internacional, sempre que os nossos interesses comuns o justifiquem", afirmou Cavaco Silva, tendo a seu lado o Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, com quem se reuniu na sexta-feira.

Cavaco Silva discursava na cerimónia de inauguração da exposição "Um Novo Mundo, Um Novo Império -- A Corte Portuguesa no Brasil", patente até 08 de Junho no Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro.

A exposição, patrocinada pela Fundação Calouste Gulbenkian, integra as comemorações dos 200 anos da chegada de D. João VI e da Corte portuguesa ao Brasil, a que Cavaco Silva se associou a convite de Lula da Silva.

O Presidente português salientou que no mundo actual, o que une os dois países "possui um valor estratégico" e exige que Portugal e o Brasil sejam "ambiciosos quanto ao futuro".

Cavaco Silva reconheceu a existência de progressos no relacionamento entre Portugal e Brasil, mas considerou que os dois países estão "muito longe ainda daquilo que seria legítimo esperar".

"É preciso favorecer tudo quanto possa contribuir para nos aproximar: o intercâmbio cultural, artístico e académico, a cooperação científica e tecnológica, as trocas comerciais, os fluxos turísticos e de investimento, os contactos entre as organizações em que se estruturam as nossas sociedades civis", enumerou.

Cavaco Silva destacou a participação de Portugal e do Brasil na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) -- com Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste -, particularmente na "valorização e projecção internacional da língua portuguesa, de que o Brasil é o maior expoente".

Outra área referida por Cavaco Silva foi a da inserção do Brasil no Mercosul e de Portugal na União Europeia, salientando ser do interesse bilateral a aproximação entre as duas organizações.

Referiu ainda uma "estreita articulação na actuação diplomática" de Portugal e do Brasil no âmbito ibero-americano.

Por isso, Cavaco Silva propôs a Lula da Silva uma "cooperação mais estreita" entre as respectivas instituições de formação diplomática, o Instituto Rio Branco do Brasil e o Instituto Diplomático de Portugal.

Nesse sentido, sugeriu que diplomatas portugueses permaneçam durante "períodos alargados" no Itamaraty e diplomatas brasileiros no Palácio das Necessidades, referindo-se às sedes das diplomacias do Brasil e de Portugal, respectivamente.

Questionado sobre as propostas do Presidente português, Lula da Silva não respondeu directamente, mas salientou que os dois países já têm uma "relação forte", embora "aquém daquilo a que a História obriga".

"Afinal de contas, são 508 anos de relações", comentou.

"Portugal pode tranquilamente ser uma porta importante para a relação do Brasil com o resto da Europa", disse Lula da Silva, salientando ainda que há muitas empresas portuguesas no Brasil e "empresas brasileiras vêm assumindo posições estratégicas na economia portuguesa".

"Ninguém tem 500 anos de relações à toa", frisou.

Lula da Silva referiu igualmente ser necessário "cuidar dos países de língua portuguesa" para que haja cada vez mais falantes de português no mundo, salientando, a propósito, que "Portugal e Brasil são sócios no envio de professores portugueses para Timor-Leste".

"Brasil e Portugal estão-se descobrindo agora para fortes relações políticas e sobretudo para fortes relações comerciais", acrescentou.

Antes, no seu discurso na inauguração da exposição sobre a corte portuguesa no Brasil, Lula da Silva elogiou os "homens e mulheres que ousaram atravessar um oceano para construir, ao longo de sucessivas gerações, uma ponte de amizade e trabalho que une tão fortemente Portugal e Brasil".

"Assim como o Padre Vieira, sonhamos com a fundação de um `quinto império`, assentado na solidariedade entre povos e na justiça universal", afirmou.

Referiu também que a chegada da corte portuguesa foi "um sopro de energia e inovação que se espalhou pelo Rio e por todo o Brasil" e permitiu a "preservação da integridade territorial" e que se forjasse "uma identidade nacional".

"Os Braganças tiveram papel decisivo na identidade brasileira e lançaram as bases do regime político do país", disse ainda Lula da Silva na cerimónia, iniciada com atraso devido à agenda do Presidente brasileiro e a que assistiram centenas de pessoas, incluindo D. Duarte Pio e os descendentes da família imperial brasileira.

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