Cenário de "fim do mundo" no Peru

Um cenário de "fim do mundo" é como o voluntário português Paulo Leite descreve a cidade peruana de Pisco nos dias que se seguiram ao sismo da semana passada, quando esteve no local integrando uma equipa de busca e salvamento.

© 2007 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A. /

"Noventa e sete por cento estava destruído", os sobreviventes "precisavam de tudo" e "a ajuda humanitária não chegava", disse à agência Lusa por telefone.

Paulo Leite esteve em Pisco nos quatro dias que se seguiram ao terramoto, dia 15, numa equipa de "seis pessoas e cinco cães" de uma organização não governamental (ONG) espanhola.

Esta cidade foi uma das mais afectadas pelo sismo de magnitude 7,9 na escala de Richter que atingiu a costa sul do Peru e que, de acordo com os últimos dados da Defesa Civil peruana, provocou pelo menos 513 mortos e 1.042 feridos e destruiu 35.568 habitações.

"Ainda sentimos réplicas (do sismo)", contou o voluntário português.

A equipa descobriu "quatro cadáveres", retirados posteriormente dos escombros pelos bombeiros, e identificou a localização de 20 outros, que não foram confirmados.

"Tivemos de sair (de Pisco) porque estavamos a fazer a busca e dispararam contra nós", disse Paulo Leite, adiantando que os elementos da ONG não sabem quem seriam os autores dos disparos.

Segundo o voluntário português, ainda pediram segurança, que lhes foi negada e, entretanto, o "centro de comando" informou a equipa de que já não era necessária.

Actualmente em Buenos Aires, os elementos da ONG deverão chegar quinta-feira ao início da tarde a Madrid.

"Parece que agora já estão a dar segurança às equipas que lá ficaram", disse Paulo Leite, de 35 anos, que possui formação em busca e salvamento com cães e está há sete anos a fazer voluntariado.

A caminho de Pisco está uma delegação liderada por Mário Lino da Silva, embaixador de Portugal, país que ocupa a presidência da União Europeia, e que integra o representante da Comissão Europeia em Lima, António Cardoso Mota, bem como Vera Ferreira, do Centro de Monitorização de Informação (centro operacional do Mecanismo Comunitário de Protecção Civil, da União Europeia).

Vera Ferreira faz parte da equipa de peritos europeus enviada ao Peru numa missão de reconhecimento e avaliação, para apoiar as autoridades locais na avaliação da situação e coordenar a ajuda enviada pelos Estados participantes no Mecanismo Comunitário de Protecção Civil, que além dos 27 inclui a Islândia, o Liechtenstein e a Noruega.

Segundo Vera Ferreira, a equipa é chefiada por um espanhol e inclui uma francesa e uma austríaca, peritas em medicina de catástrofes, e uma portuguesa especializada em gestão de emergências. A responsável do Centro de Monitorização de Informação funciona como oficial de ligação com os organismos da UE.

Em declarações à Lusa por telefone, Vera Ferreira explicou que o objectivo dos peritos é avaliar a situação no terreno e enviar diariamente relatórios que são distribuidos aos Estados membros do Mecanismo para cada país decidir a ajuda que pode e vai enviar em termos de protecção civil.

"A missão tem corrido bem dentro das circunstâncias", disse, adiantando que as dificuldades de comunicação e de organização da ajuda sentidas inicialmente estão a ser ultrapassadas.

"As comunicações melhoraram e todo o fluxo de informação está mais organizado", referiu.

A equipa de peritos europeus chegou a Lima no fim-de-semana e dois elementos partiram logo no domingo para Pisco.

"Hoje, os peritos estão a voar para zonas mais remotas para fazerem a avaliação" nessas zonas, adiantou Vera Ferreira, indicando que contaram com a ajuda do Ministério da Defesa peruano que cedeu um helicóptero para o efeito.

Em relação a Pisco, as necessidades identificadas em termos de protecção civil são de tendas, sacos-cama, cobertores e água potável.

"Pediram-nos também peritos em infra-estruturas e logística", disse Vera Ferreira.

A responsável sublinhou que a missão de peritos da UE está em contacto permanente com as autoridades peruanas, como o Instituto Nacional de Defesa Civil (INDECI), e com outros organismos da União e das Nações Unidas.

A ajuda humanitária da UE está a ser canalizada pelo Echo, o departamento de ajuda humanitária da Comissão Europeia, que já disponibilizou dois milhões de euros para auxílio a cerca de 50.000 pessoas afectadas pelo sismo.

A trabalhar há seis meses no Centro de Monitorização de Informação, em Bruxelas, Vera Ferreira ocupava anteriormente em Portugal as funções de coordenadora do planeamento de emergência do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), onde estava destacada do Instituto Nacional de Protecção Civil.

Vera Ferreira disse ainda que o trabalho da missão de peritos europeus poderá estar terminado no final da semana, dependendo da situação no terreno.


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