Centenas de manifestantes exigem em Lisboa fim da homofobia

Centenas de manifestantes desceram sábado a Avenida da Liberdade, em Lisboa, entoando palavras de ordem que tinham como denominador comum a exigência do fim da homofobia e de «Todos os Direitos para todos os amores».

Agência LUSA /
Lusa

Embora os organizadores afirmem que o desfile integrava "milhares" de pessoas, a PSP apontava para quinhentas. Alguns manifestantes admitiam que estavam menos do que em anos anteriores.

O desfile assinalou o Dia do Orgulho Gay - tal como aconteceu sábado em várias cidades europeias - e foi promovido por diversas organizações portuguesas ligadas à luta "pelo direito à indiferença", como a ILGA, a SAFO, a Opus Gay, a Não te Prives ou a Pantera Rosa.

Alguns dos manifestantes destacavam-se pelo exotismo - mini- saias muito reduzidas, botas vermelhas com saltos desmesurados e vestidos compridos em couro, lantejoulas e plumas.

Havia também quem desfilasse com simplicidade, como uma família que empurrava tranquilamente um carrinho de bebe.

«Estou aqui. Sou hetero. A homofobia é uma vergonha», dizia um cartaz empunhado por uma jovem.

Havia outras mensagens reivindicativas como «Educação sem discriminação. Por uma educação sexual que fale de todos».

Recorrendo à música da canção infantil «Todos os Patinhos sabem bem nadar», alguns manifestantes trauteavam: «Sabemos amar/Filhos não fazemos/ Queremos adoptar».

Incentivadas pelo calor da manifestação, algumas pessoas do mesmo sexo beijavam-se e abraçavam-se em público, enquanto um manifestante dizia, conversando com outro, sobre um terceiro: «Se a mãe dele o vir na televisão, está tudo estragado!».

No início do desfile, Eduarda Ferreira, das Panteras Rosa, defendendo o fim da «discriminação, seja ela qual for», afirmava aos manifestantes: «Não aceitamos menos do que a dignidade que as nossas relações merecem».

Por seu lado, Manuel Cabral Morais do Movimento LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgéneros), defendia: «Temos o direito de viver e temos direito a amar. Não havemos de casar todos mas temos de ter todos o direito a casar».

Pela Avenida da Liberdade abaixo, os manifestantes foram exibindo cartazes como «Homofobia aos molhos, o Estado fecha os olhos», «Cumprir a Constituição, homofobia não», «O Porto está mais forte, a ILGA chegou ao Norte».

Alguns gritavam palavras de ordem como «Eu amo quem quiser, seja homem ou mulher», «Há mais que homem e mulher, só não vê quem não quer». Ouvia-se também uma frase entoada nas manifestações anti- racistas: «Nem menos, nem mais. Direitos Iguais».

Havia ainda críticas às posições da Igreja católica. «Orgulho de sabermo-nos malditos pelo clero, que num mundo atormentado pelos desequilíbrios sociais, bendiz Ferraris e abomina pessoas», dizia um cartaz.

Em paralelo, organizações apoiantes chamavam a atenção para outras causas.

José Falcão, da SOS Racismo, recordou, por exemplo, que os imigrantes com opções sexuais diferentes são «duas ou três vezes mais discriminados do que os outros cidadãos».

«Se já é difícil a um português ou a um europeu ter uma actividade que permita dar a conhecer a sua opção sexual, para um imigrante é ainda muito mais difícil», sublinhou José Falcão.

Miguel Duarte, do Movimento Liberal Social, anunciava a criação de um partido que defenderá uma maior liberdade económica do que a que existe actualmente, o casamento entre pessoas do mesmo sexo, a legalização da prostituição, das drogas leves e do aborto até ás 12 semanas.

Militantes do Partido Humanista distribuíam panfletos em que se afirmava que «os direitos que a comunidade LGBT procura não são diferentes dos Direitos Humanos, que se exigem para todas as pessoas».

Um outro documento distribuído apelava à luta contra o abuso sexual de crianças, exigindo que o Estado «assuma integralmente as suas responsabilidades e obrigações» e que as instituições «que escondem e perpetuam este tipo de crime sejam reformadas, reformuladas, reestruturadas ou, em último caso, fechadas».

Em Paris, Berlim e Atenas, centenas de milhar de pessoas recordaram sábado a primeira revolta homossexual, quando a polícia invadiu um bar homossexual em Greenwich Village, em Nova Iorque, a 28 de Junho de 1969, dando origem ao movimento homossexual moderno.

O desfile de Paris contou sábado com 300 mil a 700 mil manifestantes, menos do que no ano passado, com os organizadores alertando para o novo aumento dramático de contaminações, principalmente no seio da população homossexual masculina (diariamente em França, quatro homossexuais descobrem que são seropositivos). Foi também pedida a «igualdade agora» para as famílias homoparentais.

Em Berlim, cerca de 400 mil pessoas, entre participantes e espectadores, reuniram-se na manifestação que contou com a presença do presidente homossexual da capital alemã, Klaus Wowereit, e em que se distribuíram preservativos masculinos e femininos.

Em Atenas, onde a manifestação se realizou pela primeira vez, participaram cerca de quatro centenas de cidadãos, tendo como palavra de ordem central, a frase: «O amor e a vida merecem respeito».

Tal como em Lisboa, alguns manifestantes receavam as mães e as televisões. Um deles mostrou aos jornalistas a máscara que ia usar para que a «mãe não o visse se as televisões aparecessem».

MF.

Lusa/Fim


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