"É o Carnaval mais ancestral do país", garantiu à agência Lusa António Carneiro, presidente do Grupo de Caretos de Podence, no concelho de Macedo de Cavaleiros, protagonistas das festas de Entrudo nesta região.

A partir do "domingo gordo" até ao dia de Carnaval, os Caretos "são os donos e senhores da região", a coberto das suas máscaras de madeira e exóticos fatos de cores garridas, feitos de lã e mantas.

Invadem as ruas da aldeia com ruidosos chocalhos à cintura, que servem para se fazer anunciar, mas sobretudo para chocalhar as raparigas, o seu principal alvo.

A estas "diabólicas" figuras não escapa nada, nem os deslizes dos conterrâneos, que são expostos na praça pública de forma caricaturada.

Ninguém leva a mal porque é [Carnaval] tradição e porque os Caretos de Podence já se tornaram num expoente da região com actuações em outros Carnavais, como o de Nice, em França.

Despertam também já a atenção de curiosos de todo o país que nesta quadra se deslocam ao Nordeste Transmontano para participarem nos rituais do Entrudo.

Esta procura levou a direcção do Grupo de Caretos a preparar, este ano, um programa mais vasto para as festas, que vai proporcionar aos visitantes a oportunidade de se mascararem a rigor.

O Carnaval de Podence será acompanhado de uma feira com produtos da terra, exposições e um leilão chocalheiro, em que será leiloado o empréstimo de um fato de Careto.

Quem o arrematar vai poder juntar-se à algazarra dos mascarados e viver um Entrudo diferente.

De acordo com António Carneiro, o Grupo de Caretos de Podence conta entre trinta a quarenta elementos, sobretudo jovens, o que é motivo de especial satisfação para o responsável.

Segundo contou, a tradição esteve quase perdida até que há cerca de 30 anos o filme "Máscaras", da realizadora portuguesa Noémia Delgado, fez renascer a magia dos Caretos.

A película vai ser exibida, pela primeira vez, na aldeia de Podence, segunda-feira à noite, e a "expectativa é grande".

"Será a oportunidade de alguns que aparecem se reverem e de recordar outros que já cá não estão", disse António Carneiro.

Quando o filme foi rodado, em meados da década de 70, restavam apenas três fatos sem uso, dos Caretos de Podence.

"Agora a tradição está viva e este é o Carnaval mais ancestral, sem estrangeiros do samba como acontece noutras zonas do país", afirmou o responsável.

O filme retrata ainda a tradição dos Caretos noutras duas aldeia da região - Bemposta e Rio de Onor - onde os mascarados saem à rua, não no Carnaval, mas por altura do Natal, nas chamadas "Festas dos rapazes".

A projecção do filme vai ser feita na Casa do Careto, em Podence que, em três anos, recebeu cerca de 15 mil visitas.

Naquele espaço é possível também conhecer a história desta tradição retratada numa exposição de quadros da pintora transmontana Graça Morais sobre estes endiabrados mascarados.

A aldeia de Podence, com pouco mais de 300 habitantes, só vai sossegar quarta-feira de cinzas, altura em que as extravagâncias dos Caretos dão lugar à abstinência da Quaresma.