Cidades inteligentes. Mobilidade sustentável e inovação para um melhor futuro urbano

Melhor cidade para servir melhor quem lá vive, trabalha e se desloca dentro dela. Este é o conceito das "Cidades Inteligentes" (Smart Cities). E até esta quinta-feira a Feira Internacional de Lisboa promove a 11ª edição do Portugal Smart Cities Summit. O mote é "Building Our Future Together", ou "a construir o nosso futuro juntos". A EIT Urban Mobility está presente com vista a estimular a inovação e facilitar a colaboração entre startups, universidades, setor público e privado.

Nuno Patrício - RTP /
Imagem criada através de Inteligência Artificial

Fundada em 2019 pelo Instituto Europeu de Inovação e Tecnologia (EIT), a iniciativa europeia EIT Urban Mobility apresenta-se como uma forma de transformação urbana sustentável, com mais de 1.100 parceiras em 35 países.

Uma rede onde a aceleradora de startups BGI é a parceria em Portugal, tem promovido a descarbonização das cidades, estimular a inovação e facilitar a colaboração entre startups, universidades, setor público e privado.

Fomos até à FIL conhecer melhor este projeto europeu e estivemos à conversa com Carolina Garcia, que está na área das Políticas públicas, Sustentabilidade e Inovação.
“Building Our Future Together”: a inovação centrada nas pessoas
Tendo em conta as quatro áreas temáticas deste evento, procurámos saber junto da representante de EIT Urban Mobility, Carolina Garcia, quais as formas de poder oferecer, no quadro citadino, mais e melhor qualidade de vida e bem-estar nestes espaços urbanos, de forte intensidade populacional e concentração de serviços.

Para a Carolina Garcia, a mobilidade sustentável não é apenas uma questão tecnológica. Envolve também acessibilidade, inclusão e qualidade de vida para todos os cidadãos, incluindo crianças e idosos. A inovação deve ser pensada para todos os perfis de utilizadores, respeitando as suas necessidades e promovendo a equidade no acesso aos serviços urbanos.
Participação dos cidadãos como um dos pilares fundamentais

A interatividade e o engajamento do cidadão são fatores chave. O cidadão deve estar no centro da solução, participando da sua concepção, para que haja aceitação e apropriação das mudanças. A cidade, por sua vez, deve dialogar com os seus habitantes para compreender os desafios locais e definir prioridades.
Startups como motor da transformação

Startups que atuam na área de mobilidade urbana sustentável podem candidatar-se aos programas da EIT Urban Mobility. A prioridade está em projetos que contribuam para a descarbonização e tragam soluções práticas e testáveis para os desafios urbanos.
Braga e Gaia. Exemplos portugueses

Mais do que projetos, conceitos e ideias pré-formadas ou mesmo já executadas em alguns países europeus, a implementação destes programas têm de ser ajustadas as regiões e estruturas sociais locais. Apesar dessas necessidades as experiências nacionais têm revelado os seus frutos.

É o caso da cidade de Braga, onde a AI Challenge, uma parceria com uma startup de inteligência artificial, em conjunto com as empresas de transporte público locais, identificou mais de oito mil situações irregulares (estacionamentos na via), que estrangulam a deslocação deste tipo de transporte e que perante o estudo destas anomalias procurou melhorar a eficiência, mobilidade pública e a acessibilidade urbana.
Carolina Garcia, da EIT Urban Mobility, explica que após esta intervenção “a cidade de Braga está agora a falar com outras cidades e também com a autoridade nacional, para ver se eles podem mudar algumas coisas, em termos de fiscalização e regulação no tráfego local”.

Ainda esta quarta-feira o presidente da Carris veio reconhecer que de nada serve melhorar o serviço de autocarros se o tempo das viagens não for mais eficiente. Estes veículos em Lisboa têm registado uma velocidade média cada vez mais baixa, apontando Pedro de Brito Bogas as culpas ao comportamento dos outros condutores, por causa das situações de viaturas mal estacionadas e de quem circula nos corredores BUS.
Gonçalo Costa Martins - Antena 1

As principais reclamações dirigidas à Carris dizem respeito a atrasos e incumprimento de horários, representando 38 por cento do total de reclamações. São reportados casos de passageiros que enfrentam esperas prolongadas e atrasos frequentes.

Numa tentativa de minimizar estes problemas e criar novas soluções de moblidade, a Carris lançou recentemente novas funcionalidades para apoio ao público, presentes numa aplicação que informa  informação sobre as carreiras e horários, em tempo real, e paragens mais próximas. Está focada na experiência de viagem dos Clientes, com prioridade para o utilizador em movimento.  

O presidente da Carris, Pedro de Brito Bogas, destaca a importância desta evolução, referindo que “a nova app CARRISway está totalmente focada na experiência de viagem do cliente. Tendo presente que o nosso grande objetivo é angariar utilizadores para o transporte público, esta inovação visa, inequivocamente, facilitarmos o acesso à informação atualizada e às ferramentas de que o Cliente necessita para aceder aos nossos autocarros e elétricos. Nesta app podemos, não só, carregar o título de transporte, mas, também, consultar informação sobre as carreiras e os horários em tempo real. Desta forma, agregamos tudo o que o utilizador necessita para viajar na Carris e simplificamos as suas deslocações”.

Também em Vila Nova de Gaia, o projeto Mobilidade Ativa, através da aplicação mobile MAIS, foi promovida a mobilidade pedonal e ciclável, integrando dados essenciais para incentivar deslocações sustentáveis.
Superar a dependência do automóvel

Apesar das várias iniciativas nesta área, o uso do carro particular ainda é a prioridade nas cidades portuguesas. Para inverter esta tendência, é necessário investir em alternativas eficientes e acessíveis, promovendo o transporte público, mobilidade partilhada e outras formas de deslocação mais saudáveis e sustentáveis.

Ainda a dar os primeiros passos em algumas áreas da mobilidade sustentável, Portugal pode e deve aprender com as boas práticas europeias. Sendo que a transferência de conhecimento e a cooperação entre regiões são elementos-chave. E se as cidades são vistas como prioritárias o interior também conta.

Locais que não podem ser desvalorizados, onde os desafios são diferentes. Contudo, através da colaboração entre cidades, grandes e pequenas, estas experiências podem permitir adaptações e transferências tecnológicas eficazes.


Universidades e investigadores como parceiros essenciais

Universidades são vistas como instrumentos cruciais para preencher lacunas de conhecimento. Cursos e formações como o recente “Low Emission Zones” promovido pela Universidade de Lisboa são exemplo de como o conhecimento académico pode ser transferido para a prática municipal.

Deste ponto de vista a EIT, que apoia projetos por meio de chamadas de inovação, oferecendo financiamento e conexão entre cidades e startups, pode introduzir aqui o fator de redução de custos e riscos associados à implementação de novas soluções urbanas.

Além de apoiar startups e cidades, a EIT Urban Mobility também atua como um facilitador de políticas públicas e espaço de debate entre entidades públicas e privadas. Criada pela Comissão Europeia, esta organização responde diretamente às prioridades urbanas da União Europeia.
As Smart Cities do futuro devem ser construídas com base em quatro pilares fundamentais: qualidade de vida, mobilidade inteligente, sustentabilidade ambiental e uso estratégico da tecnologia. Portugal tem o potencial para avançar nessa direção, desde que haja colaboração entre setores e compromisso com a inovação orientada para as pessoas.
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