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Cientistas e pescadores não querem perder o plástico de vista

Os oceanos estão a cada dia que passa mais contaminados com lixo. Poluentes que chegam até nós, humanos, através da cadeia alimentar. Um dos materiais mais presentes é o plástico. O Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CiiMAR) da Universidade do Porto propõe o resgate de redes de pesca "fantasmas".

É a pensar na gestão ambiental e económica que o CiiMAR está a coordenar um programa de âmbito europeu, o NetTag.
Segundo a ONU, cerca de 80 por cento de todo o lixo no mar tem origem em terra. Os restantes 20 por cento estão relacionados com atividades marítimas.

O trabalho visa a colocação de emissores com tecnologia GPS nas redes piscatórias, permitindo assim a localização destas no mar, mas também de pequenos robôs que se ocuparão da recolha.

Em conversa com a jornalista da rádio pública Alexandra Madeira, Marisa Almeida, investigadora do CiiMAR, explica que este projeto conta com a participação de pescadores do norte português e da Galiza.

"Propomos uma ação preventiva para reduzir o lixo marinho. E por outro lado trabalhar com os pescadores em ações de sensibilização, porque eles também são vítimas do lixo marinho, quando vão à pesca, pescam peixe e pescam lixo", sublinha Marisa Almeida.

Antena 1

O CiiMAR conta ver o projeto no terreno em 2021, quando cerca de 20 embarcações vão poder utilizar este sistema.

O lixo marinho é cada vez mais uma constante e, no dia-a-dia da faina piscatória, muitos dos detritos que vagueiam no mar acabam nas redes de pesca. Um problema que cresce em gravidade quando as redes são dadas como perdidas.

É no sentido de minimizar ou mesmo acabar com o problema que o NetTag, da CiiMAR, está em curso. O projeto é bem acolhido pelos ambientalistas da Quercus, identificando as redes de pesca como uma das dez principais causas de poluição marinha.

Carmen Lima, da Quercus, nota que, "se houver projetos que consigam de alguma forma georreferenciar este abandono, mesmo não intencional, deste resíduo, é sempre bem-vindo e é sempre uma boa ideia".

Estima-se que mais de nove milhões de toneladas de lixo plástico circulem já pelos mares. Muito dele já no leito oceânico.Num estudo da Agência Ambiental da Áustria, foram muitos os indivíduos que apresentaram microplásticos no organismo.

No total, segundo a ONU, cerca de 80 por cento de todo o lixo que encontramos no mar tem origem em terra, sendo levado para os oceanos através dos rios e pela ação dos ventos.

Os 20 por cento restantes estão relacionados com atividades marítimas, resultantes de artes de pesca abandonadas ou perdidas, embora se verifique uma cada vez maior consciencialização por parte destes profissionais, segundo a ambientalista Carmen Lima.

"Todos os dias a população mundial continua a descarregar um camião de plástico no mar”, diz Carmen Lima.

Trata-se de uma questão ambiental ainda mais delicada pelo facto de este tipo de material inorgânico poder levar centenas de anos até desaparecer.

Redes biodegradáveis: solução viável?
O plástico deriva do petróleo, mas há processos para o produzir de forma ecológica. E que já existem no mercado há vários anos. Então por que razão não se utiliza este produto mais amigo do ambiente? A resposta está na durabilidade.

Questionada pela RTP, Carmen Lima, da Quercus, explica que as escolhas são sempre de quem usa o material e procura rentabilidade.

“No caso das redes de pesca, dever-se-ia estudar - e seria um exercício interessante para se fazer junto da comunidade piscatória - quanto tempo está estimado que uma rede de pesca precisa de funcionar”. Isto para avaliar se seria rentável a utilização de plástico biodegradável.

Peixe de plástico no prato
Aos olhos da população, a poluição marinha é apenas observável na sua forma grosseira, ou seja, na apresentação física visível. Acontece que a decomposição do material dá origem a um subproduto cada vez mais pequeno, chegando ao ponto de atingir tamanho microscópico. É a este nível que o microplástico pode ser encontrado no mar, nos animais e na água da torneira.

Num estudo da Agência Ambiental da Áustria, foram muitos os indivíduos que apresentaram microplasticos no organismo. E não se julgue que tinham comportamentos alimentares diferentes. As pessoas que se disponibilizaram para este estudo mantiveram um diário alimentar, que mostrou que todas foram expostas aos plásticos ao consumir alimentos envolvidos em plástico ou ao beber de garrafas de plástico. Nenhum dos participantes é vegetariano e seis do grupo comeram peixe de mar.

O uso de plástico é tão generalizado, atualmente, que a remoção total da cadeia alimentar será extremamente difícil.

Carmen Lima considera mesmo inevitável a ingestão de plástico nos consumos diários: "Obviamente que nós, no topo da cadeia alimentar, iremos sofrer as consequências desta posição".

A juntar a esta questão, a ambientalista da Quercus alerta para o constante consumo de plástico descartável, como por exemplo os copos de plástico, as palhinhas do café ou as garrafas de água.

Estima-se que a cada minuto, em todo o mundo, seja adquirido um milhão de garrafas de plástico; o número deverá aumentar em 20 por cento até 2021.

Com o crescimento, a nível mundial, das populações costeiras, bem como a falta de respostas de muitos países em matéria de tratamento dos resíduos, a quantidade de detritos que chega aos oceanos tende a aumentar. Consequentemente, importa tomar medidas para que se mantenham afastados dos oceanos e linhas de água, preservando a qualidade dos ambientes marinhos. E de todo o planeta.