Co-incineração é "inócua para a saúde"

O ministro do Ambiente, Francisco Nunes Correia, voltou a garantir que a co-incineração é "absolutamente inócua para a saúde", considerando que os temores que se levantam em Portugal se devem a motivos políticos.

Agência LUSA /

"O problema não é a co-incineração, são os resíduos industriais", afirmou Nunes Correia, no final de um debate de urgência no Parlamento sobre este tema a pedido pelo Partido Ecologista "Os Verdes" (PEV), que acusou o "Governo quer fazer crer que a co- incineração é o milagre para o tratamento dos resíduos perigosos".

O ministro sublinhou que na Europa existem mais de sessenta unidades de co-incineração, sem que se registem quaisquer problemas de saúde.

No debate, o PEV e o CDS-PP questionaram o Governo sobre um estudo epidemiológico de 2005 que revelou existir em Souselas - uma das localidades onde o Governo planeia realizar a co-incineração a par do Outão - maior prevalência de doenças "respiratórias, tumorais e endócrinas" do que a média registada na região Centro.

"Os dados recolhidos em Souselas podem ter a ver com tudo menos com a co-incineração", respondeu o ministro, lembrando que este processo ainda não arrancou no terreno.

No Parlamento, Nunes Correia voltou a justificar a escolha destas duas localidades como uma forma de "dar continuidade" ao trabalho do passado, sublinhando que nestes locais já foram realizados os estudos necessários.

No debate, a ausência em plenário (depois de ter estado no Parlamento) do deputado Manuel Alegre - que no anterior Governo socialista liderado por António Guterres esteve contra este processo - foi notada pelas bancadas da oposição.

"É extraordinário que o PS ziguezagueie em tudo, menos na co- incineração (Ó) Mas mesmo dentro do PS não há unanimidade nesta matéria", sublinhou o deputado do PSD Miguel Almeida, numa referência a Manuel Alegre.

Também o deputado do CDS-PP António Carlos Monteiro realçou a falta do deputado socialista, enquanto pelo PCP Miguel Tiago lembrou que na assembleia municipal concelhia de Setúbal os deputados socialistas votaram recentemente uma moção contra a co-incineração.

"O PS tem posições para todos os gostos", criticou o deputado comunista.

A resposta veio da bancada socialista, com o líder da federação de Coimbra, Victor Baptista, a demarcar-se de anteriores posições de Alegre, que agora tem mantido o silêncio.

"Os deputados do PS assumiram em manifesto distrital um compromisso: sempre que estiver em causa a saúde pública apoiaremos as populações", assegurou, mas sublinhando que os problemas de saúde em Souselas não se devem à co-incineração "que ainda não existe".

"Coimbra vai continuar a ser uma cidade do conhecimento, com saúde", acrescentou.

No debate, Francisco Nunes Correia voltou a lembrar o programa de Governo nesta matéria: a par da co-incineração, que tratará apenas 15 por cento dos resíduos industriais perigosos, o executivo retomará os CIRVER (Centros Integrados de Recuperação, Valorização e Eliminação de Resíduos) desenvolvidos pelos anteriores executivos PSD/CDS-PP.

"O Governo quer fazer crer que a co-incineração é o milagre para o tratamento dos resíduos perigosos. Nada mais enganador", criticou a deputada d`"Os Verdes" Heloísa Apolónia, acusando o executivo de secundarizar os CIRVER.

O ministro do Ambiente considerou, contudo, "uma fraude política" a forma como a oposição tem enaltecido as vantagens do CIRVER, considerando que estes "não trazem nada de novo" e são apenas "uma base logística" e um processo complementar à co-incineração.

"Nem um grama irá para a co-incineração quando puder ser recuperada de outra forma", assegurou, por outro lado, o ministro Francisco Nunes Correia.

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