Combate deve começar o mais longe possível da Europa
Cidade da Praia, 28 Out (Lusa) - Portugal quer que o combate ao tráfico de droga se inicie o mais longe possível das fronteiras europeias e pretende obter cada vez maior cooperação com os países da costa ocidental africana nesta matéria.
É necessário pensar as fronteiras "não como fronteiras físicas mas como fronteiras estratégicas", diz à agência Lusa ao secretário de Estado Adjunto e da Justiça português, José Conde Rodrigues, que participa hoje numa conferência internacional sobre narcotráfico, na Cidade da Praia, Cabo Verde.
"É necessário virar a acção policial para o Atlântico, perceber que a intervenção nesta zona e estender as fronteiras estratégicas além das fronteiras físicas poderá ter vantagens", afirma Conde Rodrigues.
A União Europeia, diz o secretário de Estado, terá de apostar na formação de operacionais no terreno, dar-lhes técnicas e permitir o fortalecimento das polícias.
Em declarações à Lusa, na Cidade da Praia, Conde Rodrigues salienta a necessidade de "conter o tráfico de droga o mais longe possível" das fronteiras de europeias, sendo que Portugal e Espanha constituem a principal entrada de droga na Europa, vinda da América do Sul, segundo um relatório recente das Nações Unidas.
Hoje e terça-feira, ministros da Justiça ou Administração Interna de 15 países da África ocidental estão reunidos em Cabo Verde para adoptar uma estratégia de combate ao narcotráfico na região, que assumiu nos últimos anos proporções tais que já levaram responsáveis políticos a dizer que a região está "sob ataque".
Conde Rodrigues partilha da mesma preocupação quando diz que "é um problema muito grave" e que a região foi usada como plataforma para o tráfico de droga, ao qual se associa "o risco de outras actividades ilícitas".
Da reunião da Praia, Conde Rodrigues espera que seja aprovada uma declaração que "faça o diagnóstico da situação e fixe objectivos de combate ao narcotráfico, que seja também um plano de acção, com um calendário e metas concretas".
Colocar os estados da região a falar, defende, também é útil porque cria "outros hábitos de cooperação".
Portugal, bem como a União Europeia, já tem uma "cooperação reforçada" com países como Cabo Verde ou a Guiné-Bissau na luta contra o tráfico de droga no Atlântico, nomeadamente através do MAOC-N, sigla em inglês do centro de operações marítimas e de análise de informações contra o tráfico de droga, que foi criado no ano passado e que tem sede em Lisboa.
O Centro reúne especialistas de sete países da Europa (Portugal, Espanha, França, Itália, Reino Unido, Holanda e Irlanda) e procura controlar o tráfico de drogas provenientes da América do Sul e que se dirigem à Europa, passando pela África Ocidental, desencadeando operações de vigilância e intercepção.
Conde Rodrigues lembra também que Portugal, quando presidiu à UE, colocou o tráfico de droga no topo da agenda, o mesmo que França está agora a fazer, e que ainda na passada sexta-feira a União Europeia aprovou uma declaração na qual reforça a necessidade de cooperação com os países da África Ocidental, nas áreas da polícia e da reconstrução dos Estados.
Portugal vai ter em Cabo Verde, até final do ano, uma sala para formação específica da polícia judiciária do arquipélago, que vai permitir reforçar a cooperação entre as duas polícias, diz também Conde Rodrigues.
A reunião de hoje junta mais de 200 pessoas e é promovida pela CEDEAO - Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental, uma organização que junta 15 países.
Segundo estimativas da ONU, pelo menos 25 por cento de toda a cocaína consumida na Europa em 2007 (140 toneladas) passou por esta região do Atlântico.
FP.