Comunidade judaica debate futuro dos cripto-judeus em Portugal
O futuro dos cripto-judeus, forçados há 500 anos a converter-se ao cristianismo, vai ser debatido sexta- feira e sábado na sinagoga de Lisboa, numa iniciativa da Comunidade Israelita de Lisboa e da organização judaica "Shavei Israel".
De acordo com o rabino da sinagoga de Lisboa, Boaz Pash, este seminário surge na sequência do reconhecimento dos cripto-judeus pelo grão-rabino sefardita de Israel, Shelomó Amar, e tem como objectivo reunir aqueles a que os judeus israelitas chamam "Bnei Anussim".
"Bnei Anussim" significa, em hebraico, "filhos - ou descendentes - dos forçados", tradicionalmente chamados "marranos" em Portugal, palavra pejorativa e até injuriosa que significa porco e excomungado.
Os historiadores chamam-lhes cristãos novos ou cripto-judeus por terem sido obrigados a manter em segredo a sua confissão religiosa.
Em 1497, D. Manuel I forçou os judeus a converterem-se ao catolicismo para evitar a expulsão, na sequência de um compromisso feito pelo rei português como condição para se casar com a filha dos Reis Católicos de Espanha, Fernando e Isabel.
Para "fazê-los agora sentir mais próximos das suas origens", o seminário "Shabbaton - Bnei Anussim em Lisboa" deverá reunir professores universitários, especialistas e líderes da comunidade israelita.
A ideia fundamental é falar de várias questões importantes, nomeadamente o sentimento de solidariedade judaica que existe em todo o mundo e o apoio para o Estado de Israel, afirmou o rabino à Lusa.
"Os Bnei Anussim foram obrigados a esconder a sua verdadeira identidade religiosa durante séculos. Agora precisam de aprender a exprimi-la sem vergonha", salientou.
Acrescentou que a partir de agora serão aceites como judeus pela comunidade, que procurará "construir pontes para a aprendizagem do melhor comportamento no dia a dia", dentro do judaísmo.
No seminário também vão ser assinalados os 60 anos da libertação do campo de concentração de Auschwitz, onde parte dos 1,5 milhões de prisioneiros - sobretudo judeus - foram mortos pelo regime nazi.
O encontro inicia-se pelas 17:30 na sinagoga "Shaaré Tikvá", em Lisboa, com a presença do presidente da Comunidade Israelita de Lisboa, José Oulman Carp, o embaixador de Israel, Aarao Ram, e o representante do rabinato da Península Ibérica, Eliahu BirnBaum, que irá proferir a conferência "O povo Escolhido ou Escolher o Povo".
No sábado, o seminário decorre todo o dia com outras conferências, nomeadamente "O Despertar dos Corações", por João Sousa Paula, "Povo Escolhido ou Escolher o Povo", por José Cláudio Costa, e "Cripto-Judeus: Da Opressão à Esperança", por André Veríssimo.
Durante a tarde será aberto um debate para apresentação de ideias sobre o futuro dos "Bnei Anussim" intitulado "Para Onde Vamos?".
A organização judaica "Shavei Israel", com sede em Israel, tem por missão facilitar o regresso ao judaísmo institucional de descendentes de judeus, cujos antepassados foram forçados, por circunstâncias várias, a abandonar a religião ancestral.