Congresso nacional em Évora quer desmistificar tradição académica

A vontade de quebrar alguns mitos que rodeiam a tradição académica, nomeadamente as praxes, muitas vezes encaradas como fomentadoras de abusos, vai dominar o III Congresso Nacional da Tradição Académica, que arrancou hoje em Évora.

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O congresso é organizado pelo Conselho de Notáveis da Universidade de Évora (UE), órgão académico que defende e regula tradição académica, zelando pelo seu cumprimento e manutenção.

Em declarações à agência Lusa, Tânia Fernandes, uma das coordenadoras da iniciativa e membro do Conselho de Notáveis da UE, garantiu hoje que o encontro, que termina sábado, junta "cerca de 200 participantes" de Norte a Sul do país.

"Convidámos todas as academias do país, quer universidades, quer politécnicos. Já temos inscrições confirmadas de Aveiro, Porto, Minho, Lisboa e Setúbal e esperamos muitos alunos de Évora e de várias outras regiões", disse.

Como "pano de fundo" da realização do encontro na cidade alentejana, segundo os organizadores, está a comemoração dos 20 anos de criação do CEGARREGA (Código Estudantil de Graus Académicos Regulamentos e Regras de Exegese e Gírias Académicas) da Universidade de Évora.

O livro transmite a história da UE e o conhecimento sobre a tradição académica na universidade, garantindo, assim, a passagem das regras e dos preceitos do cerimonial académico por toda a comunidade, ao longo dos anos.

As praxes e os rituais que constituem a tradição académica e a forma como cada academia vive e pratica esse mesmo cerimonial são assuntos que vão estar presentes nos três dias da iniciativa, para troca de experiências e para quebrar alguns mitos.

"É um espaço de debate salutar, onde todas as academias podem trocar opiniões e experiências, ver o que está bem ou mal com a tradição académica e quebrar mitos que muitas pessoas de fora têm em relação à praxe e à tradição académica", frisou Tânia Fernandes.

Muitas vezes, sublinhou, a tradição e as praxes são "mal compreendidas" e encaradas "como algo selvagem", não correspondendo essas ideias à realidade.

"Como em tudo o que é encarado de fora, a percepção que existe é só daquilo que se vê, não do que se vive. Essa poderá, por isso, não ser a percepção total de uma vivência", argumentou.

Segundo Tânia Fernandes, a tradição difere muito de academia para academia, mas, quando existem abusos, isso "não é praxe".

"Admito que há casos de abusos em alguns locais, mas tudo o que é abuso não é praxe. Esta visa a integração do aluno, sem que se atente sobre a sua integridade, e tudo o que seja passível de ser punido nunca pode fazer parte da praxe", defendeu.

Por isso, disse, se a praxe for realizada "nos seus moldes correctos", então a tradição académica, que "une os alunos e faz parte da sua `casa` que é a universidade", terá "futuro", devendo todas estas questões ser abordadas e debatidas.

Nos três dias vão ainda ser discutidos temas como o traje académico, a tradição académica e a cidade, as tunas académicas como vivência da tradição ou o processo de Bolonha e o futuro da tradição académica.

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