Covid-19 conduz a uma melhoria da qualidade do ar em Portugal

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Reuters

Imagens de satélite demonstram uma diminuição da poluição em Portugal desde que foi decretado o estado de emergência nacional. Vários países têm vindo a registar este mesmo aumento da qualidade do ar, como uma consequência provocada indiretamente pelo novo coronavírus.

Ao longo do mês de março, Portugal e Espanha registaram “um efetivo aumento do nível da qualidade do ar” como consequência da redução drástica nos níveis de dióxido de azoto (NO2) relacionado, por sua vez, com a interrupção da atividade industrial.

Segundo explica um comunicado do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, este é “um dos impactos esperados da situação de emergência em que vivemos, uma vez que o NO2 é gerado sobretudo por emissões resultantes de setores como transportes e indústria, os quais têm sido, pelo menos parcialmente, desativados com a situação de emergência nacional decretada nas últimas semanas”.

Em Portugal, a região de Lisboa é onde se verifica uma redução mais significativa, chegando aos 80 por cento em alguns locais da capital. Já na região norte, a diminuição da poluição atinge os 60 por cento em determinados pontos da cidade do Porto.
Região do Porto a 10 de março | Crédito: AIR Centre
Portugal a 28 de março | Crédito: AIR Centre

As imagens obtidas e analisadas pelo Laboratório de Observação da Terra do Centro Internacional de Investigação do Atlântico - AIR Centre relativas ao período compreendido entre 10 e 28 de março demonstram esta melhoria gradual da qualidade do ar.

Crédito: ESA

Tal como sublinha o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, esta diminuição da poluição pode também ajudar a minimizar o impacto do surto em Portugal, dado que “é particularmente benéfica para reduzir a probabilidade de afetar pessoas com problemas respiratórios”.

O aumento da probabilidade de pessoas que sofrem com problemas respiratórios está relacionado com a inalação por dióxido de azoto, “uma vez que em altas doses poderia inflamar o revestimento dos pulmões e reduzir a imunidade a infeções pulmonares, causando problemas como tosse, constipações e bronquite”, explica o comunicado.
China e Itália com o mesmo cenário
Para além de Portugal e Espanha, também a foi verificada uma redução drástica dos níveis da poluição na China e Itália desde que foi decretada quarentena nestes países.

“É a primeira vez que noto uma queda tão dramática numa área tão ampla. Não estou surpreendida porque muitas cidades na China adotaram fortes medidas para evitar a propagação do vírus”, disse Fei Lui, investigadora da NASA especializada em qualidade do ar.

Imagens recolhidas entre janeiro e fevereiro mostram uma grande diminuição nas emissões de dióxido de azoto nas maiores cidades chinesas. O mesmo acontece quando se analisam os níveis de dióxido de carbono (CO2).


Em Itália, também se verificou uma drástica redução da poluição, maioritariamente notória no norte do país.
Dióxido de nitrogénio | Crédito: ESA
“Mal já está feito”
Apesar de se estar a verificar uma diminuição drástica da poluição em várias cidades do mundo, a Aliança Europeia de Saúde Pública (EPHA na sigla original) considera que “o mal já está feito” para os doentes.

A organização admite que as condições de saúde causadas pela poluição crónica do ar das cidades podem levar a um aumento das taxas de mortalidade causada pela Covid-19.

Através de um comunicado, a EPHA admite que houve uma redução do dióxido de nitrogénio e de partículas finas que resultam do tráfego rodoviário, o que pode resultar em algum alívio para as pessoas infetadas pelo novo coronavírus.

No entanto, sublinha que a poluição crónica do ar é um importante propiciador de doenças pulmonares e cardíacas, ligadas a taxas altas de mortalidade por covid-19.

Citada no comunicado, Rosamund Adoo-Kissi-Debrah, da Organização Mundial de Saúde (OMS), especialista em qualidade do ar, observa que seja qual for a forma de se usarem os números, a verdade é que a poluição é uma questão de “vida ou de morte”.

O estrago já está feito. Anos a inspirar ar poluído do fumo dos carros e de outras fontes enfraqueceram a saúde de todos aqueles que estão agora envolvidos numa luta de vida ou de morte contra a covid-19”, disse ainda o secretário-geral interino da EPHA, Sasha Marschang.

A Agência Europeia do Ambiente (AEA) considera a poluição do ar o maior risco ambiental para a Europa, especialmente nas grandes cidades. Partículas finas, dióxido de nitrogénio e ozono ao nível do solo levam a cerca de 400.000 mortes prematuras em cada ano.

c/Lusa
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