Covid-19. Lisboa sem vida na primeira noite de recolher obrigatório

por Lusa
Na última noite, na estação do Rossio, em Lisboa, o movimento era muito reduzido Tiago Petinga-Lusa

Quase sem vida noturna e com o comércio encerrado, a primeira noite de recolher obrigatório em Lisboa, no âmbito do estado de emergência devido à covid-19, foi marcada por ações de fiscalização nas ruas, inclusive nos transportes públicos.

O impacto da proibição de circulação na via pública em Lisboa não se fez sentir logo pelas 23h00, porque a essa hora ainda existiam pessoas nas ruas, umas a sair de restaurantes e outras a regressar do trabalho em direção a casa, contando com os habituais horários dos transportes públicos.

Pelas 23h15, no centro da capital, na emblemática rua Augusta, ouvia-se ainda o som de um acordeão de um artista de rua que animava o regresso a casa das poucas pessoas que ali circulavam. Sem ter presente as horas, o músico disse à Lusa que se estava a preparar para arrumar o material: "Não há gente, ficar para tocar para quem?".

Sem congestionamentos de trânsito, as ruas da cidade de Lisboa acolheram as luzes azuis da fiscalização da Polícia Municipal e da Polícia de Segurança Pública (PSP), inclusive com operações de trânsito na zona dos Restauradores, em que os condutores foram obrigados a parar e justificar a circulação na via pública.
Segundo o porta-voz do Comando Metropolitano de Lisboa da PSP, comissário Artur Serafim, a PSP começou às 00h00 de segunda-feira diversas operações na Área Metropolitana de Lisboa (AML), com a fiscalização do cumprimento dos novos horários dos estabelecimentos comerciais, ajuntamentos, consumo de álcool na via pública e uso da máscara quando não é possível garantir a distância de dois metros, através de "cerca de três centenas de polícias diariamente nas ruas".

Primeira ação é sensibilizar

A primeira abordagem das forças de segurança é a sensibilização dos cidadãos para as novas regras, pelo que "a participação do crime de desobediência é utilizada em último recurso", explicou o comissário Artur Serafim, fazendo um balanço "muito positivo" das várias operações de fiscalização no âmbito da entrada em vigor do estado de emergência, sem registo de nenhum crime de desobediência.

Além da fiscalização do trânsito e dos estabelecimentos comerciais, a PSP esteve a controlar o acesso aos comboios na estação do Rossio, procurando "perceber o que os cidadãos estão a fazer na via pública". A maioria das pessoas vinha do trabalho e pretendia regressar a casa, dispondo de declaração da entidade patronal.

A partir das 00h30, o movimento na praça do Rossio reduziu-se à presença das forças de segurança, transportes públicos, táxis, distribuidores de comida e trabalhadores da higiene urbana.

Com a cidade estacionada à espera das 5h00 para voltar a sair com maior liberdade, os taxistas sofrem a noite toda à espera de arranjar clientes.

A primeira noite do recolher obrigatório em Lisboa foi ainda marcada por um crime na Avenida da Liberdade, que envolveu armas de fogo e duas viaturas, segundo o porta-voz da Comando Metropolitano de Lisboa da PSP. Sem registo de feridos, o trânsito esteve condicionado e foi vedado o perímetro do local do crime, onde esteve a Polícia Judiciária.

Lisboa é um dos 121 concelhos onde há "risco elevado de transmissão da covid-19", de acordo com o critério geral do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC) de "mais de 240 casos por 100 mil habitantes nos últimos 14 dias", e considerando a proximidade com um outro concelho nessa situação e a exceção para surtos localizados em municípios de baixa densidade.

No âmbito do estado de emergência devido à pandemia, que entrou em vigor esta segunda-feira e se prolonga até 23 de novembro, o Governo aprovou, no sábado, novas medidas para os 121 concelhos de maior risco de contágio, inclusive o recolher obrigatório noturno durante a semana, entre as 23:he as 5h00, e nos próximos dois fins de semana, entre as 13h00 e as 5h00.
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