Dedicação da princesa de Gales contra minas terrestres foi fundamental para reduzir efeitos do flagelo

por © 2007 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.

A dedicação da princesa Diana na luta contra as minas terrestres foi fundamental para criar um tratado internacional, impedindo a morte de milhares de civis em todo o mundo, disse à Lusa o director de uma das principais ONGs contra este flagelo.

Desde que anunciou o seu noivado com o Príncipe de Gales, em 1981, até a sua trágica morte num acidente de carro num túnel parisiense faz sexta-feira dez anos (31 de Agosto de 1997), a princesa Diana era considerada por muitos como uma das mulheres mais famosas do mundo e uma das figuras mais marcantes do século XX.

Grande parte desta admiração resultava do forte empenho que a `Princesa do Povo` dedicava à caridade e às causas humanitárias, em especial pelo grande envolvimento que demonstrou no combate ao HIV/SIDA e na Campanha Internacional pela Proibição de Minas Terrestres (ICBL, sigla em inglês).

Lady Di era uma das maiores defensoras da retirada das minas terrestres dos antigos campos de guerra, tendo trabalhado com inúmeros organismos internacionais de desminagem, entre os quais a organização não-governamental (ONG) britânica "Hallo Trust" num projecto em Angola.

Dados de 2004 do governo angolano referem que desde 1998 mais de 700 angolanos morreram e 2.300 ficaram feridos devido a incidentes com minas colocadas durante a guerra civil que se seguiu à independência.

"Ela conseguiu reunir e focar a sua visibilidade internacional para o flagelo das minas terrestres e especialmente para o sofrimento das vítimas", disse hoje à agência Lusa o director da "Landmine Action", Simon Conway, uma ONG que luta pela retirada de minas terrestres em todo o mundo e que integra a Campanha Internacional pela Proibição de Minas Terrestres (ICBL), organismo galardoado em 1997 com o Prémio Nobel da Paz.

O responsável explicou que "três factores essenciais" contribuíram para a criação do Tratado de Proibição de Minas Antipessoais (Tratado de Otawa), que entrou em vigor em Março de 1999 e que foi assinado por 153 países (três quartos das nações do mundo) e no qual os governos signatários se comprometeram a remover, num prazo de dez anos, todas as minas existentes dos seu territórios.

"Os mortos e feridos causados pelas minas terrestres em todo o mundo, o contributo de países como a Áustria ou Noruega, mas sobretudo, a mediatização do flagelo pela princesa Diana foram fundamentais para que isto acontecesse", explicou o responsável.

"Lady Di foi fotografada com crianças mutiladas por minas terrestres em Angola e na Bósnia e teve a coragem de atravessar um campo minado angolano. Isto foi fundamental para divulgar a acção da ICBL e para fazer perceber ao mundo como é que este problema estava a ser negligenciado. Temos muito para lhe agradecer", lembrou Simon Conway.

Segundo o director da `Landmine Action`, na altura Lady Di foi alvo de duras críticas que afirmavam que ela não percebia a complexidade nem o contexto da situação.

No entanto, o facto de a Princesa "ter visto com os seus próprios olhos o sofrimento de milhares de crianças e mulheres mutiladas ou de pessoas que tinham perdido famílias inteiras devido as minas terrestres nunca a fez desistir".

"Este sofrimento - mas também as críticas - encorajaram-na a lutar até que as minas terrestres fossem estigmatizadas em todo o mundo. E conseguiu-o", sublinhou Conway.

Quanto às prioridades da Campanha Internacional pela Proibição de Minas Terrestres, o responsável disse que, actualmente, "todos os esforços dos organismos integrados na ICBL vão no sentido de assegurar um novo Tratado Internacional para a Proibição de Bombas de Fragmentação", explicando que "já aderiram 76 países, entre os quais também Portugal".

"As bombas de fragmentação são usadas desde Laos até ao Líbano e matam milhares de pessoas inocentes, pelo que é fundamental conseguir assegurar um novo tratado até 2008 que proíba a utilização destes artefactos e que garanta a segurança de civis em territórios de conflito".

O também director da `Coligação Contra as Bombas de Fragmentação` lembrou que este objectivo é "inteiramente apoiado e financiado pelo Fundo Memorial da Princesa Diana".

"Estamos convictos de que se Lady Di fosse viva estaria a desenvolver campanhas para a proibição de bombas de fragmentação", frisou o responsável, acrescentando que as organizações envolvidas na campanha estão a tentar "dar continuidade ao legado que ela deixou".

Os fundos angariados são utilizados, de acordo com o responsável, para "apoiar campanhas de sensibilização que decorrem em todo o mundo e que visam a proibição das bombas de fragmentação e a divulgação da importância de que todos os países assinem a declaração de Oslo para banir o seu uso até 2008".

"Através do esforço, empenho e visibilidade de Diana conseguiu-se a proibição internacional das minas terrestres pelo que estamos confiantes de que também, em seu nome, iremos conseguir a proibição das bombas de fragmentação".

Um relatório divulgado em Junho pela `Landmine Action` e feito em parceria com o Fundo Memorial da Princesa Diana de Gales, adianta que a retirada ineficaz levada a cabo pelos países signatários do Tratado de Otawa continua a colocar "vidas em risco por todo o mundo".

Os atrasos no financiamento dos programas e uma retirada de minas terrestres mal direccionada, fazem com que ainda existam cerca de 200 milhões de minas terrestres e outros armamentos não explodidos em pelo menos 82 países, lamenta o relatório.

Segundo a ONG, esses explosivos estão sobretudo concentrados em países como o Afeganistão, Angola, Bósnia, Cambodja, Iraque, Laos, Moçambique, Somália, Sri-Lanka e Sudão e causam todos os anos "pelo menos 26 mil vítimas mortais ou provocam graves lesões, sobretudo mutilações.

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