Descida em cadeiras de rodas na serra da Lousã pela "dignidade"
Lousã, 12 jun (Lusa) - Dezenas de pessoas em cadeiras de rodas desceram hoje a serra da Lousã, pelo oitavo ano consecutivo, "numa manifestação de dignidade" que a organização reconhece por igual a todos os cidadãos.
Em plena serra, no Candal, 34 participantes preparam-se para a partida, dada pelo presidente da Associação para a Recuperação de Cidadãos Inadaptados da Lousã (ARCIL), Marques Leandro, com um apito estridente e uma bandeira azul da instituição a adejar.
"Esta é uma manifestação de dignidade que nós reconhecemos a todos", afirma à agência Lusa, um ativo, empenhado e atento Marques Leandro, nos seus mais de 80 anos de idade.
Junto à fonte do lugar, de onde jorra um jato de água abundante, os "concorrentes" bebem e ingerem alguns alimentos leves, já que têm pela frente uns 12 quilómetros até chegarem à vila da Lousã.
Estão divertidos e determinados em completarem a descida sem sobressaltos, "numa confraternização entre todos" que tem vindo a ganhar adeptos desde a primeira edição da iniciativa, em 2006.
Mais uma vez, a Descida da Serra da Lousã em Cadeira de Rodas, organizada pela ARCIL, constitui - segundo Marques Leandro - uma "boa oportunidade" para os inscritos "apreciarem esta serra, que é maravilhosa neste tempo", quando a Lousã já anseia pela chegada dos centenários festejos de São João.
Nascida no Candal há 47 anos, Rosa Bernardo, utente da ARCIL, não esconde "a satisfação e o orgulho" por participar numa "corrida" que começa na sua terra.
"É sempre muito divertido", conta, ela que já integra a "corrida" desde a primeira hora e costuma fazer o mesmo percurso, especialmente ao fim de semana, mas com auxílio do automóvel da família.
Ainda que a partida fosse noutra povoação da serra da Lousã, "viria na mesma", num "dia diferente ao ar livre" que permite a todos desfrutarem "os sons e os cheiros" próprios da serra da Lousã.
Professor de Física e Química da Escola Secundária da Lousã, José António Leonardo, de 37 anos, é outro dos participantes que adere habitualmente à iniciativa com a sua cadeira de rodas.
"Venho pelo convívio e para ver a paisagem", declara à Lusa.
Para este participante, doutorado em História da Ciência pela Universidade de Coimbra, "não há geralmente grande esforço" na 8.ª Descida da Serra da Lousã em Cadeira de Rodas, que tira partido da antiga estrada nacional 236, hoje do domínio municipal, que liga Castanheira de Pera à Lousã.
O comerciante António da Piedade Francisco, de 52 anos, fez um esforço para não faltar, "apesar de ter um dia difícil" na sua loja de eletrodomésticos, na Lousã.
"Venho quase todos os anos. Tenho uma vida ocupada, mas gosto de participar e desfrutar o ar puro da serra", refere.
José Gaspar, funcionário da ARCIL, coordena os trabalhos, antes da partida e na descida para a Lousã.
"Que as pessoas principalmente se divirtam", deseja, ao indicar que as cadeiras rodam a uma velocidade média de cinco a seis quilómetros por hora.
Antes de cortarem a "meta", na vila, outros companheiros, da Misericórdia da Lousã, juntam-se ao grupo inicial, que integra utentes da ARCIL e de outras instituições congéneres da região.