Desertificação e seca atinge 1/6 da população mundial
A Liga para a Protecção da Natureza (LPN) apelou hoje à luta contra a desertificação e a seca, realçando que aquele fenómeno afecta em todo o mundo 3,6 milhões de hectares e um sexto da população.
Na Dia Mundial de Luta Contra a Desertificação e a Seca, que coincide este ano com uma das mais severas secas em Portugal, a LPN lembra que "depois do longo período de seca entre 1966 e 1973 que comprometeu a sobrevivência de algumas regiões do mundo, em especial em África, as Nações Unidas, em 1974, identificaram a desertificação e a seca como um problema global".
à escala mundial - adianta a LPN - a desertificação e a seca "têm conduzido à degradação de cerca de 75 por cento da área de pastagens naturais nas terras secas, à redução da fertilidade e da estrutura dos solos em cerca de 45 por cento das áreas de regadio das terras secas".
"É um problema com consequências socioeconómicas extremamente graves, potenciando instabilidade social e a migração das populações humanas", refere a Liga, em comunicado.
O fenómeno da desertificação é definido pela Convenção de Combate à Desertificação (CCD), aprovada em 1994 em Paris, como "a degradação da terra nas zonas áridas, semi-áridas e sub-húmidas secas, resultante das variações climáticas e das actividades humanas".
A própria CCD define vários outros conceitos, sendo um dos mais importantes o de "degradação da terra", que corresponde à redução ou perda da produtividade biológica e/ou económica e da complexidade das terras agrícolas de sequeiro e regadio, das pastagens, das florestas resultante dos sistema de utilização que conduzam a processos de destruição da vegetação por períodos prolongados ou mesmo a degradação do solo.
Por seu lado, a degradação do solo é "o fenómeno causado pelo homem que diminuiu a capacidade actual e/ou futura do solo para sustentar a vida humana e que pode ser causada quer por poluição do solo (metais pesados, salinização ou alcalização), quer por erosão, e que causa sempre nas zonas áridas, semi-áridas e sub-húmidas secas a desertificação.
Visando a implementação do CCD em Portugal, foi elaborado e aprovado em Junho de 1999 o Plano de Acção Nacional de Combate à Desertificação (PANCD), cuja execução ficou a cargo do Ministério da Agricultura, Pescas e Florestas, através da Direcção-Geral dos Recursos Naturais.
A LPN recorda que para a aplicação do PANCD foram definidas quatro áreas piloto a nível nacional em 2002, localizando-se estas em zonas já com problemas: no Algarve (Serra Algarvia- Alcoutim, Castro Marim), no Baixo Alentejo (margem esquerda do Guadiana - Mértola), no Centro (Mação, Idanha, Penamacor) e em Trás-os-Montes (Arribas do Douro-Mogadouro).
Entretanto, o projecto DISMED (Desertification Information for the Mediterranean) surge em 2001 com o objectivo de construir uma base de dados sobre a susceptibilidade dos solos à desertificação nos vários países do Mediterrâneio.
"O entrosamento entre a ciência e o conhecimento permitiu obter excelentes resultados consubstanciados na Carta de Sensibilidade à Desertificação para Portugal", considera a LPN, indicando que nessa carta verifica-se que uma das zonas mais afectadas pelo processo é o chamado "Campo Branco" em Castro Verde, onde a Liga para a Protecção da Natureza tem os seus projectos.
A LPN iniciou em 2002 uma série de projectos, em que com a participação de agricultores, de uma autarquia (Castro Verde) e instituições de investigação (Estação Agronómica Nacional e Universidade de Évora) tenta na prática desenvolver metodologias e fazer a sua divulgação num processo directo de Combate à Desertificação.
Assim, desenvolveu primeiro um"projecto-piloto de combate à desertificação (2000 a 2002), em parceria com a Direcção Regional do Ambiente do Alentejo e depois de um projecto de "Avaliação da Sustentabilidade de alguns Sistemas de Culturas no Baixo Alentejo (2002 a 2005), integrados no chamado "Programa Castro Verde Sustentável", que inclui ainda projectos de Educação Ambiental e de Ecoturismo.