Desrespeito pelas leis levou a dívida superior a mil milhões de euros à família militar

Viseu, 06 Nov (Lusa) -- O presidente da Associação Nacional de Sargentos (ANS) lamentou hoje que, desde há mais de 30 anos, "sucessivas leis" sejam desrespeitadas pelos Governos, causando uma dívida que diz ser "superior a mil milhões de euros à família militar".

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Segundo António Lima Coelho, esta dívida diz respeito a diversos direitos dos militares, em áreas como "saúde, complementos de pensão, subsídios da mais variada ordem".

"Um Governo que diz na pessoa do senhor primeiro-ministro que só a lei dá a liberdade tem a ousadia de não cumprir essas mesmas leis. E, no entanto, exige-se aos militares que, se necessário, morram na defesa dessas leis e da Constituição da República", afirmou aos jornalistas em Viseu, onde hoje à noite iniciou uma ronda de reuniões regionais para discutir com os militares a situação actual no sector.

Durante esta ronda, que deverá prolongar-se até ao início de Dezembro nos locais com maior representatividade militar, o presidente da ANS quer perceber o que os militares "gostariam de ver no seu futuro, minimamente respeitado".

Lima Coelho considera que este "tem sido um mau Governo" e que o primeiro-ministro, "se não permite que os seus membros do Governo tenham os meios todos para executar aquilo que prometeu, é primariamente o responsável pela situação".

Frisou que o que mais choca os militares é "a falta de verdade e de rigor e, acima de tudo, a falta de cumprimento das leis", exemplificando com casos em que isso se traduz.

Contou que, ainda hoje, recebeu uma mensagem de uma viúva de um sargento do Exército, de 80 anos, "que tem uma pensão de cerca de 300 euros", não tendo "dinheiro para comprar os medicamentos que necessita numa fase final da sua vida".

"Um camarada nosso, militar no activo, um sargento técnico, profissional excelente, está a esmolar dos seus camaradas para poder comprar sacos de fraldas para incontinência. Isto é inadmissível!" - comentou.

O dirigente lamentou ainda que os militares na reforma "vão morrendo sem verem a lei que lhes diz respeito e os seus complementos de pensão serem pagos", fazendo votos que o Governo não esteja à espera que "o universo (destes militares) desapareça para que a dívida deixe de fazer sentido".

"Os militares não querem mordomias, nem privilégios. Os militares querem apenas respeito que lhes permita ter uma vida minimamente digna, os seus filhos a estudar, uma casa igual a tantos cidadãos. Ter o seu direito de cidadania assegurado", garantiu.

Lima Coelho insurgiu-se também contra a forma como são tratados os deficientes das Forças Armadas, que, apesar das várias promessas de que "já estava tudo tratado", aguardam há 34 anos "coisas que não têm preço: um braço, um olho, uma perna, uma vida".

Disse também não aceitar que os jovens tenham sido "aliciados" a entrarem para as Forças Armadas "à luz de uma lei de incentivos algo oportunista e que serviu determinados momentos eleitoralistas" e, que depois de servirem, "quando saem e vão reclamar as promessas que lhes fizeram, esbarram num muro de dívidas".

"Há neste momento um valor muito superior a dez milhões de euros por pagar aos jovens que cessaram o seu contrato de prestação de trabalho como contratados nas Forças Armadas", assegurou.

O sargento lamenta que se gastem "rios de dinheiro em campanhas publicitárias e de mobilização" dos jovens, quando "a melhor publicidade que se pode fazer é tratar bem quem serve nas Forças Armadas, porque essa, sim, é publicidade real".

AMF.


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