Dislexia - Psicólogas divulgam método de ensino
Duas especialistas em Psicologia Educacional apresentaram hoje, em Coimbra, um inovador método de ensino para apoiar crianças disléxicas e atenuar as dificuldades de aprendizagem de leitura e escrita.
O método de ensino e reeducação foi desenvolvido por Paula Teles e Leonor Machado, com base nos resultados dos recentes estudos cognitivos e neurocientíficos sobre dislexia e a experiência profissional das autoras como psicólogas educacionais.
Paula Teles disse à Agência Lusa que ela própria e Leonor Machado sofrem de "uma dislexia não muito severa", que as motivou ainda mais a avançar muito cedo com projectos para combater esta perturbação, que atinge pelo menos 10 por cento das crianças em idade escolar.
Alguns dos primeiros sinais de alerta de possíveis dificuldades futuras "surgem ao nível da linguagem oral", como expressão de atraso na aquisição da linguagem, na chamada primeira infância.
Posteriormente, na idade do ensino pré-escolar, o problema pode confirmar-se se persistir a denominada "linguagem +bebé+", com a criança a construir frases curtas, palavras mal pronunciadas, omitindo e substituindo sílabas e fonemas.
A criança disléxica manifesta, designadamente, dificuldade em aprender nomes de cores (como verde e vermelho, que têm as mesmas três letras iniciais), de pessoas, objectos ou lugares, bem como na memorização de canções e lengalengas.
"A dislexia é um problema fonológico, não tem a ver com visão ou problemas de coluna vertebral", garantiu.
Paula Teles insurgiu-se contra "negócios que proliferam" nas áreas da oftalmologia e dos colchões ortopédicos, criticando as "pessoas que se aproveitam da ignorância" dos familiares das crianças disléxicas ou com perturbações conexas.
As psicólogas educacionais, duas alentejanas que desenvolvem há décadas a sua actividade em clínica privada, apresentaram as duas primeiras publicações do seu método "Distema" no âmbito do XI Seminário de Desenvolvimento, dedicado ao tema da dislexia, que termina hoje em Coimbra.
Os livros intitulam-se "Silabário - Treino da Fusão Fonémica" e "Leitura de Palavras e Frases - Treino da Fusão Silábica (nível I)" e são as primeiras edições de um conjunto de obras que as autoras estão a preparar.
Segundo as criadoras, "Distema" (junção das primeiras sílabas de Dislexia, Teles e Machado) "é um método de ensino e reeducação da leitura e da escrita, multissensorial, fonomímico, estruturado e cumulativo".
"Durante mais de duas dezenas de anos de trabalho diário, na avaliação e reeducação de crianças e jovens com dificuldades de leitura e escrita, eu e a minha colega Leonor Machado debatemo-nos com a falta de materiais educativos com rigor científico que consideramos necessário a uma intervenção com sucesso", explicou Paula Teles.
A psicóloga, que exerce a sua actividade com Leonor Machado, em Lisboa, recordou hoje à Agência Lusa que as duas, perante aquela carência, foram "desenvolvendo e aperfeiçoando vários materiais" que distribuíam às crianças, pais e professores.
"A publicação desses materiais foi sendo insistentemente solicitada e incentivada, mas a falta de tempo, resultado do trabalho clínico diário, tem sido um sério obstáculo à sua realização", disse.
O método "Distema" destina-se a crianças e jovens com dislexia, "com perturbações fonológicas da linguagem e a todos os que apresentam dificuldades na aprendizagem da leitura e da escrita, em menor ou maior grau".
Organizado pelo Centro de Desenvolvimento da Criança do Hospital Pediátrico de Coimbra, dirigido pelo neuropediatra Luís de Mello Borges, o seminário congregou meio milhar de participantes, entre especialistas e estudantes de diversas áreas, tendo contado com intervenções de oradores nacionais e estrangeiros.