Duplica o número de jovens que admite ir para a cama ou para a escola com fome

por RTP
RTP

Um estudo internacional sobre o estilo de vida na adolescência revela que 11 por cento dos jovens admitem que vão para a cama e para a escola com fome por falta de comida em casa. O número de adolescentes que diz que isso acontece “sempre” ou “frequentemente” duplicou em relação ao anterior estudo, feito em 2014. Os adolescentes portugueses andam cansados, não gostam da escola e tomam muitos medicamentos.

Quase 30 por cento dos jovens dizem não gostar da escola. Quase 18 por cento diz andar exausto e cansado todos os dias e mais de metade tomam medicamentos.


O estudo Health Behaviour in School-aged Children (HBSC) 2018, uma iniciativa da investigadora Margarida Gaspar de Matos, da Universidade de Lisboa, e da Equipa Aventura Social, é realizado em colaboração com a Organização Mundial de Saúde e conta com a participação de 44 países. Em Portugal, o primeiro estudo foi realizado em 1998.

Margarida Gaspar de Matos argumenta que o aumento de casos de jovens que admitem ter fome poderá estar relacionado com as respostas sociais que foram desaparecendo com o anunciado fim da crise. “Fica aqui o alerta. Não estamos num país que se possa permitir ter crianças com fome”, reforça a autora em entrevista à Antena 1.


As dificuldades apontadas na escola são que, às vezes ou sempre, a matéria é demasiada (87,2 por cento), aborrecida (84,9 por cento), difícil (82 por cento) e a avaliação "um stresse" (77 por cento). Mais de metade aponta a pressão dos pais pelas boas notas.

De acordo com o estudo, 29,6 por cento dos jovens não gostam da escola, considerando que o pior é "comida do refeitório" (58,3 por cento) e as aulas (35,3 por cento) e o "menos mau" são os intervalos/recreios (8,3 por cento).

O estudo foi feito através de questionários `online` em 42 agrupamentos de escolas, num total de 387 turma, sendo a amostra constituída por 6.997 jovens do 6.º, 8.º e 10.º ano, com uma média de idades de 13,73 anos.
O estudo sublinha que "o aspeto da gestão da ansiedade relacionada com as avaliações e os trabalhos da escola, bem como a pressão dos pais face às classificações, fica a merecer reflexão".

O estudo evidencia que os adolescentes portugueses andam cansados, não gostam da escola, tomam muitos medicamentos e mais de metade confessa considerar-se mau aluno porque não tem boas notas.

A autora do estudo a nível nacional realça que um quarto dos inquiridos usa medicação não prescrita pelos médicos e um quinto toma medicamentos psicotrópicos para acalmar, para adormecer, antidepressivos. Margarida Gaspar de Matos diz que todos estes sintomas mostram que a vida não corre bem a muitos adolescentes em Portugal.

O estudo vai ser apresentado esta quarta-feira em Lisboa. Revela que mais de oito em cada dez adolescentes (81,7 por cento) considera-¬se feliz, mas 27,6 por cento diz sentir-se preocupado "todos os dias, várias vezes por dia",

21,8 por cento dos adolescentes afirma que quando tem uma preocupação intensa, esta "não o larga" e "não o deixa ter calma para pensar em mais nada".

Segundo o inquérito, 16,2 por cento dos jovens refere que, "sempre ou quase sempre, não é capaz de controlar coisas importantes da sua vida" e 17,1 por cento afirma que "sempre ou quase sempre, sente que as suas dificuldades se acumulam de tal modo que não as consegue ultrapassar".

Quase 28 por cento diz que nunca ou quase nunca sente que as coisas lhe correm como queria, e 26,2 por cento nunca ou quase nunca se sente confiante com a sua capacidade para lidar com problemas pessoais.

O estudo revela ainda que 5,9 por cento dizem estar tão tristes que não aguentam.

O estudo pretende estudar os estilos de vida dos adolescentes em idade escolar nos seus contextos de vida, em áreas como o apoio familiar, escola, amigos, saúde, bem-¬estar, sono, sexualidade, alimentação, lazer, sedentarismo, consumo de substâncias, violência e migrações.
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