Elevador da Glória. Inexistência de sistema redundante de travagem "é gravissima"

Carlos Neves, presidente do Colégio de Engenharia Mecânica da Ordem dos Engenheiros, considera que o relatório preliminar sobre o acidente com o Elevador da Glória "clarifica questões" já indicadas três dias depois da ocorrência.

RTP /
O engenheiro distingue contudo duas causas que podem explicar a tragédia, "uma de natureza operacional, que este relatório clarifica bastante bem, que tem a ver com a rotura do cabo, e outra, de natureza estrutural que já foi sinalizada na nota informativa de 6 de setembro".

Nessa data, o GPIAAF "já tinha dito que o Ascensor da Glória não tinha sistema redundante de travagem" frisou. "Os travões não eram suficientes para travar a carruagem se ela tivesse um problema de rotura do cabo".

À RTP, Carlos Neves sublinhou que, "a única consequência de um problema no cabo era um descarrilamento". "Isto é gravíssimo", considerou, equiparando o problema a estar "num trapézio sem rede".

"O sistema do Elevador da Glória conviveu assim durante décadas", criticou o engenheiro mecânico. "Fomos assistindo todos os dias a pequenos milagres".

A passagem para um sistema elétrico de travagem em 1914, "deixou de assistir essa segurança adicional por via de um encravamento à cremalheira", como existia inicialmente, admitiu também.

"Desse ponto de vista, o sistema de segurança do Elevador da Glória ficou altamente comprometido". "Como agora se viu, não atuou porque não existia", acrescentou Carlos Neves.

O relatório preliminar publicado esta segunda-feira, "relata muito bem aquilo que estará na origem desta rotura do cabo, a tal falha operacional", sublinha o engenheiro.

"Se tivéssemos um sistema redundante de travagem a tragédia não teria acontecido", se o cabo rebentasse, conclui. A cabine poderia ter "deslizado uns metros", ou terem havido "uns solavancos", mas "não acontecia a tragédia" que se deu.

Para Carlos Neves, é importante distinguir uma falha estrutural de uma falha operacional.

"Os travões existentes, tanto o travão das rodas como o travão à calha, apenas tinham capacidade de travar a diferença de peso entre as duas cabines", explicou o responsável pelo Colégio de Engenharia Mecânica da OE.

Sozinhas, "ambas as cabines têm o mesmo peso em vazio, de 14 toneladas", lembrou, "mas o número de pessoas da cabine 1 e da cabine 2 é normalmente diferente", tal como o peso destes passageiros.

Por isso "há sempre necessidade do sistema de travões, aquilo que o guarda freio faz" usando a energia de atrito dos travões em contraponto à energia cinética das cabines.
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