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Elevador da Glória. Inexistência de sistema redundante de travagem "é gravissima"
Carlos Neves, presidente do Colégio de Engenharia Mecânica da Ordem dos Engenheiros, considera que o relatório preliminar sobre o acidente com o Elevador da Glória "clarifica questões" já indicadas três dias depois da ocorrência.
Nessa data, o GPIAAF "já tinha dito que o Ascensor da Glória não tinha sistema redundante de travagem" frisou. "Os travões não eram suficientes para travar a carruagem se ela tivesse um problema de rotura do cabo".
À RTP, Carlos Neves sublinhou que, "a única consequência de um problema no cabo era um descarrilamento". "Isto é gravíssimo", considerou, equiparando o problema a estar "num trapézio sem rede".
"O sistema do Elevador da Glória conviveu assim durante décadas", criticou o engenheiro mecânico. "Fomos assistindo todos os dias a pequenos milagres".
A passagem para um sistema elétrico de travagem em 1914, "deixou de assistir essa segurança adicional por via de um encravamento à cremalheira", como existia inicialmente, admitiu também.
"Desse ponto de vista, o sistema de segurança do Elevador da Glória ficou altamente comprometido". "Como agora se viu, não atuou porque não existia", acrescentou Carlos Neves.
O relatório preliminar publicado esta segunda-feira, "relata muito bem aquilo que estará na origem desta rotura do cabo, a tal falha operacional", sublinha o engenheiro.
"Se tivéssemos um sistema redundante de travagem a tragédia não teria acontecido", se o cabo rebentasse, conclui. A cabine poderia ter "deslizado uns metros", ou terem havido "uns solavancos", mas "não acontecia a tragédia" que se deu.
Para Carlos Neves, é importante distinguir uma falha estrutural de uma falha operacional.
"Os travões existentes, tanto o travão das rodas como o travão à calha, apenas tinham capacidade de travar a diferença de peso entre as duas cabines", explicou o responsável pelo Colégio de Engenharia Mecânica da OE.
Sozinhas, "ambas as cabines têm o mesmo peso em vazio, de 14 toneladas", lembrou, "mas o número de pessoas da cabine 1 e da cabine 2 é normalmente diferente", tal como o peso destes passageiros.
Por isso "há sempre necessidade do sistema de travões, aquilo que o guarda freio faz" usando a energia de atrito dos travões em contraponto à energia cinética das cabines.