Em Vila Real há lojas com mais de 100 anos que resistem às grandes superfícies
A Livraria Branco, a Farmácia Almeida e a mercearia Casa António Luís são três lojas comerciais de Vila Real que têm as portas abertas há mais de 100 anos e teimam em resistir à concorrência das grandes superfícies.
Alfredo Branco tinha 19 anos quando em 1963 começou a gerir a Livraria Branco, que tinha sido criada pelo seu bisavô em 1849.
Quando foi inaugurada, a então livraria Joaquim Barreira Gonçalves fazia encadernações e vendia material escolar, nomeadamente cadernos de duas linhas, quadros de lousa, penas e lápis.
Alfredo Branco queixa-se agora da "crise generalizada" e da "concorrência das grandes superfícies" mas diz ter "esperança" que a sua livraria consiga sobreviver e passe para as mãos do seu filho, permanecendo assim, pela quinta geração, na mesma família.
A Casa António Luís, aberta há quase 150 anos, pertence a José Freitas que também se mostra "desiludido com a quebra do negócio por causa dos grandes supermercados".
Instalada na principal rua comercial de Vila Real, esta mercearia oferece aos seus clientes todo o tipo de produtos, mas é mais conhecida pela excelente "qualidade do bacalhau".
Marilda de Almeida é a actual dona da Farmácia Almeida e decidiu abrir um espaço museológico onde expôs o legado iniciado pelo seu trisavô António Correia de Almeida e a colecção de remédios do avô Manuel José Rebelo Mourão.
Nesta viagem ao passado podem-se encontrar instrumentos farmacêuticos do século XIX, remédios manipulados, receitas para comprimidos e aparelhos para fazer hóstias (pequenos invólucros que funcionavam como cápsulas).
Para mostrar a importância do comércio tradicional no desenvolvimento da cidade, o Arquivo Municipal de Vila Real acolhe até 31 de Maio a exposição "Marcas do Comércio Tradicional: Vila Real no século XIX e XX", onde se podem apreciar inúmeras marcas, facturas ou cartazes publicitários de casas comerciais.
"Barateza sem rival" é a expressão que encabeça um cartaz publicitário de um estabelecimento comercial que, no início do século XX, oferecia à população de Vila Real "novidades de Paris", tais como chapéus ou capotas.
Para além de expor todo o tipo de materiais vendidos naquela loja, desde "bonitas cazemiras", "flanellas" ou "pannos crus", o cartaz revela que, na sua secção de camisaria, para além de objectos de luxo os clientes poderiam ainda adquirir livros de missa.
Em 1888, António Júlio de Moraes publicitava assim a sua funerária: "Caixas e hábitos para defuntos. Armações para casas e igrejas, o que há de melhor e mais moderno. Preços sem competência".
Na exposição patente ao público no Arquivo Municipal de Vila Real, podem ainda ser vistos metros para vender as fazendas, carimbos dos preços e unidades de medida, cédulas que substituíram o dinheiro durante a I Guerra Mundial, recibos, facturas e até bilhetes postais.
"O objectivo é chamar a atenção para o comércio tradicional de Vila Real que teve um papel importante nesta cidade desde a Idade Média até aos nossos dias", afirmou hoje à agência Lusa o director do arquivo Pedro Peixoto.
Os objectos expostos são provenientes do fundo documental da autarquia e da colecção particular de Joaquim Barreira Gonçalves.