Empresa vidreira da Marinha Grande nega danos em carros por poluição de ar

O director do sector de produção da vidreira Ricardo Gallo, na Marinha Grande, negou hoje em tribunal que os danos causados em carros junto à fábrica tenham sido causados por poluição da empresa.

Agência LUSA /

Inquirido em tribunal, Luís Miguel Morna afirmou que a produção de vidro naquela fábrica não envolve chumbo ou outros metais pesados, pelo que os danos causados nas viaturas e janelas do centro da cidade "não são da responsabilidade da Ricardo Gallo".

No tribunal da Marinha Grande, um grupo de dez pessoas, entre os quais moradores, um juiz jubilado, um advogado e representantes de duas empresas, acusam a empresa Ricardo Gallo de emissões de chumbo e enxofre, entre outros metais pesados.

Neste processo cível, os autores reclamam indemnizações de cerca de 55.000 euros por danos em 31 veículos e em janelas de alumínio, alegadamente causadas pela liquefacção dos metais pesados emitidos pelas chaminés da fábrica, localizada no centro da cidade.

Os casos relatados datam de 1997 e os autores do processo acusam a empresa de retirar as mangas de filtro das chaminés para expelir os gases para a atmosfera com "descargas de ar comprimido", nomeadamente em "dias de intenso nevoeiro", como forma de limpar os fornos.

Depois, esses elementos perigosos, como o óxido de enxofre ou o chumbo, regressam ao estado sólido em contacto com o ar - à temperatura ambiente, muito inferior às centenas de graus do interior do forno - e caem sobre as zonas vizinhas, corroendo viaturas e casas, acusam os autores.

No entanto, segundo Luís Morna, o fuel que é utilizado pela empresa tem menos de um por cento de enxofre e as chaminés não necessitam de qualquer limpeza.

"Todas as limpezas implicam que se retirem os equipamentos", afirmou, considerando que os danos apontados pelos autores do processo possam ser da responsabilidade de empresas de foscagem e de cristalaria.

"Na Ricardo Gallo, não usamos chumbo nem ácidos", afirmou, salientando que a empresa se dedica à produção de garrafas, pelo que não necessita desses compostos para melhorar o aspecto do produto final.

O facto de a empresa utilizar grandes quantidades de vidro reciclado foi apontado também como um risco pelos autores da acção, considerando que podem ser fundidas caricas que contêm metais.

Contudo, para Luís Miguel Morna, o vidro reciclado "já foi pré- tratado" e não possui cápsulas ou lapidações que coloquem em causa a sua pureza original.

Actualmente, cerca de 50 por cento das 550 toneladas de vidro produzidas por dia é composto por vidro reciclado, cumprindo directivas comunitárias nesta matéria.

Durante a manhã, Maria Amélia Próspero, uma das moradoras da zona, acusou a empresa de ser responsável por vários danos em automóveis e em roupa estendida, manifestando dúvidas em relação à eficácia dos filtros instalados.

"Se a Santos Barosa (outra garrafeira da Marinha Grande) pôs filtros e deixou de ter problemas é porque os filtros da Ricardo Gallo não funcionam bem", afirmou.

Esta acção cível começou a ser julgada depois de o Tribunal de Leiria ter ordenado o arquivamento de uma queixa-crime feita pelos moradores, onde reconheceu os prejuízos ambientais da empresa Ricardo Gallo.

Na decisão de arquivamento, o Ministério Público admitiu que a fábrica "poluiu o ar e, simultaneamente, provocou os estragos indicados pelos assistentes", mas considerou que essa conduta não configura a prática de um crime de poluição, visto respeitar legislação anterior.

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