País
Empresas apresentam novo sistema nos comboios "por sobrevivência" e para "liberalizar" mercado
Várias empresas juntaram-se para que Portugal deixe de ser na ferrovia uma ilha dentro da Europa, a começar pelo sistema de controlo de velocidade. Foi apresentada esta quarta-feira uma solução tecnológica para este problema no país.
Fotos: Gonçalo Costa Martins - Antena 1
O primeiro comboio com esta tecnologia passou no teste, nas oficinas da Medway no Poceirão, concelho de Palmela: travou depois de passar pelas duas balizas amarelas colocadas na linha ferroviária. Confuso? Por outras palavras, são duas bases retangulares que transmitem informação para o comboio.
São praticamente iguais, só que apenas uma delas traz a novidade. Uma faz parte do obsoleto sistema português Convel, usado na maior parte da rede ferroviária nacional e os seus comboios, mas cujo fabrico já foi descontinuado, pelo que a sua manutenção é desafiante. A novidade começou a ser desenvolvida há três anos.
O painel analógico deu lugar um painel digital. As balizas comunicam igualmente com este equipamento e com duas unidades de computadores colocadas mais atrás da cabine do maquinista, onde a Antena 1 esteve.
Um dos técnicos presentes na cabinete aponta para o painel digital e resume: "Mostra qual é a velocidade a que o maquinista pode ir, a velocidade que vai estar daqui a um quilómetro. Depois também vai estar aqui uma barra que vai indicar a distância do próximo sinal".
Trazer novos comboios a partir de 2026
A portuguesa Critical Software juntou-se à japonesa Hitachi Rail para desenvolver uma alternativa ao Convel, reconhecida por todos - operadores e Infraestruturas de Portugal - como ultrapassada e obsoleta.
" O que acontece é que os sistemas por toda a Europa são diferentes e há um esforço a nível europeu de uniformizar estes sistemas", explica Luis Gargate, diretor da divisão de ferrovia da Critical Software, referindo-se ao sistema ETCS (sistema europeu de controlo ferroviário).
Apesar de vários países europeus, incluindo Portugal, estarem a investir nessa transição, vários operadores ferroviários sentiam-se limitados em conseguir trazer comboios para Portugal com um sistema, o tal Convel, que já está ultrapassado.
" Este sistema está a ser desenvolvido como um sistema externo, muito para garantir a independência dos grandes fabricantes, ou seja, liberalizar um pouco o mercado", diz Luis, considerando que este é um "passo importante" na segurança dos comboios. A alternativa preparada é designada de ETCS+STM.
Três empresas - a Medway, a Stadler e Alpha Trains - encomendaram unidades desta solução tecnológica para 86 comboios. Há a expectativa de ter certificado pronto para 2026, enquanto os primeiros testes se realizam nas oficinas do Poceirão.
Segundo foi revelado à Antena 1, a Alpha Trains quer unidades para 17 comboios, enquanto a Medway vai equipar 25 comboios em 2026 e 16 comboios em 2027 com este módulo, "um investimento por uma questão de sobrevivência", aponta o diretor-geral da empresa de transporte de mercadorias Medway.
"Poderíamos correr o risco de ficar com a nossa frota parada no futuro", afirma Bruno Silva, que diz também que será possível trazer novo material para Portugal.
Já a fabricante Stadler vai colocar esta tecnologia em 22 automotoras que estarão ao serviço dos Comboios de Portugal (CP).
"Havia uma solução obsoleta, mas agora temos a condição em que temos que trabalhar com um sistema de segurança nacional e europeu", diz Miguel Fernandez, diretor de vendas da Stadler, à Antena 1, antevendo que pode "oferecer esta solução aos nossos clientes".
Em 2020, a IP referia que cerca de 1.600 dos mais de 2.500 quilómetros da rede ferroviária nacional tem o sistema Convel, número que poderá ter evoluído ou estará para evoluir nos próximos anos, já quem existem projetos para instalar o perfil ETCS no corredor Pampilhosa-Vilar Formoso (à volta de 200 quilómetros), na Linha de Cascais (cerca de 25 quilómetros) e no corredor Évora-Elvas-Fronteira (aproximadamente 80 quilómetros).
Questionada pela Antena 1, a IP não esclareceu em tempo útil qual a evolução que houve nos últimos anos, perante os investimentos previstos e em curso.
Enquanto a maior parte da rede tem o sistema Convel, há ainda uma fatia da ferrovia que funciona em modelo de "cantonamento telefónico". Segundo explicaram à rádio pública fontes na CP, sem que exista um sistema automático de sinalização, os agentes nas estações comunicam por telefone para dar autorização para a passagem dos comboios.