"Era uma vez um arrastão" procura desmontar incidentes de 10 de Junho

Críticas à falta de "análise crítica" nos media e acusações de organização de campanha contra os imigrantes marcaram quinta-feira a apresentação de "Era uma vez um arrastão", documentário que tenta desmontar os incidentes ocorridos na praia de Carcavelos.

Agência LUSA /

Partindo de imagens recolhidas dos noticiários de 10 de Junho, testemunhos e analistas, "Era uma vez um arrastão" foi exibido na Videoteca de Lisboa, num debate com os responsáveis pelo filme, entre os quais Diana Andringa, jornalista e candidata pelo Bloco de Esquerda à Câmara da Amadora nas próximas autárquicas.

No filme, vêem-se imagens das reportagens no dia dos incidentes na praia de Carcavelos, da manifestação de extrema-direita na semana seguinte e testemunhos de quem esteve na praia e não viu assaltos.

Na lógica dos responsáveis pelo filme, não existiu um "arrastão" de assaltos, houve sim um acontecimento empolado e construído, cuja divulgação pelos meios de comunicação social não foi sustentada em factos reais.

Diana Andringa afirmou que "o racismo existe e foi claro" na maneira como se relataram os incidentes na praia e sugeriu a existência de uma "campanha anti-imigração", que ao associar os imigrantes à delinquência "cria um problema securitário" que é depois associado à esquerda, que governa.

Para o sociólogo Rui Pena Pires, "inventou-se um acontecimento que reforçou a estigmatização [dos imigrantes] e criou um pânico social com consequências na decisão política", nomeadamente na discussão sobre a lei da nacionalidade.

O jornalista Miguel Gaspar, do Diário de Notícias, afirmou que no tratamento dos acontecimentos de Carcavelos não houve "análise crítica das fontes", houve um "arrastão" que surgiu antes de estarem jornalistas no terreno, um "mito que se propagou à estrutura editorial".

Mesmo com a PSP a falar primeiro oficialmente em "arrastão", como se verifica no primeiro comunicado emitido sobre os acontecimentos em Carcavelos, a ideia viria a ser desmontada nos dias seguintes pela própria polícia, que de uma estimativa inicial de "500 assaltantes", acabou por admitir que apenas "30 a 50" pessoas terão provocado desacatos, defende o filme.

Uma jovem que esteve na praia de Carcavelos naquele dia lembra a "tensão" criada com a chegada da polícia, mas mantém que não houve queixas de assaltos nem o "clima de terror" que foi usado nas legendas das reportagens televisivas.

Heliana Bibas, da Casa do Brasil, recorda no filme "a fabricação de arrastões" como facto noticioso no Brasil com intenções políticas.

O primeiro jornalista a escrever negando a existência do arrastão, Nuno Guedes, da Capital, relatou como as fontes que contactou não confirmaram a notícia difundida a 10 de Junho e reiterou que na PSP não houve queixas por furtos na praia.

O sociólogo José Rebelo afirmou que houve a "construção de um pseudo-acontecimento", em que "pseudo-factos" avançados depois de 10 de Junho se limitaram a "confirmar" o primeiro.

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