"Escândalos de pedofilia vão dar lugar a uma igreja mais purificada"

O porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) acredita que do escândalo de pedofilia que envolve o clero católico vai renascer uma igreja mais purificada. O padre Manuel Morujão falava à margem da cimeira plenária da CEP que decorre em Fátima, no dia em que o Vaticano procurou clarificar as declarações em que o seu número dois estabelecia uma ligação entre pedofilia e homossexualidade.

António Carneiro, RTP /
Porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa diz que dos escãndalos de pedofilia vai renascer "uma igreja mais purificada". Paulo Cunha, LUSA

"Tenho a certeza que destes acontecimentos vai renascer uma igreja mais purificada. As perseguições na história da Igreja acabaram por ser isso mesmo e, por isso, também neste caso assim o esperamos firmemente", declarou o padre Morujão. O porta-voz da conferência episcopal considera que estes acontecimentos "que "entristecem a igreja", devem ser "uma proposta e um desafio de conversão".

"A igreja tem vivido na sua história entre glórias e dificuldades. Entre cruzes e ressurreições", acrescentou este responsável, que confirmou que a pedofilia deve vir a ser abordada nos trabalhos da assembleia plenária, depois de já ter sido discutida pelos bispos que integram o conselho permanente da CEP.

Comentando os abusos sexuais cometidos por sacerdotes da Igreja Católica o padre Morujão defendeu que "a verdade é sempre o melhor", adiantando que "há que encarar com realismo a verdade, seguindo ao fim e ao cabo os princípios do Papa".

Nas mesmas declarações o porta-voz da Conferência Episcopal afirmou não estar preocupado que o escândalo possa vir a desmobilizar os fiéis portugueses na visita que o chefe do estado do Vaticano fará a Portugal entre 11 e 14 de Maio. O sacerdote diz "ter confiança no bom senso do povo e na sabedoria popular, que sabe distinguir que nem tudo aquilo que reluz é oiro ou nem tudo aquilo que parece lama o é".

Vaticano clarifica posições

Estas considerações da Conferência Episcopal Portuguesa surgem no mesmo dia em que o Vaticano veio a publico clarificar as declarações feitas pelo seu número dois.

O cardeal Tarcisio Bertone lançou a polémica ao declarar, segunda-feira, no Chile:"Numerosos psicólogos e psiquiatras demonstraram que não existe uma relação entre celibato e pedofilia, mas muitos outros demonstraram que existe uma relação entre homossexualidade e pedofilia".

A condenação destas palavras não se fez esperar, vinda de todas as áreas politicas e das associações de defesa dos direitos dos homossexuais. A França, único país a reagir oficialmente, rejeitou, esta quarta-feira, as afirmações de Tarcisio Bertone, classificadas pelo porta-voz do ministério dos negócios estrangeiros , Bernard Valero, como "amálgama inaceitável".

Face à onda internacional de indignação o porta-voz do Vaticano, padre Frederico Lombardi, declarou, por telefone, à agencia France Presse, que o secretário de estado do Vaticano apenas se queria referir aos casos de pedofilia ocorridos no seio do clero, e não aos que acontecem entre a população em geral.

"As autoridades eclesiásticas não consideram que seja da sua competência fazer afirmações gerais, de carácter especificamente psicológico ou médico, que resultam naturalmente dos estudos de especialistas e das pesquisas em curso sobre essa questão" afirmou o padre Lombardi, que aproveitou para precisar que estas palavras apenas constituem "uma clarificação e não um distanciamento", em relação ás declarações do cardeal Bertoni.

Estudo Estatístico

Em apoio do número dois da Santa Sé, o padre Lombardi cita um estudo estatístico do Vaticano sobre "os abusos de menores cometidos por padres, com que a Congregação para a Doutrina da Fé tem vindo a ser confrontada nos últimos anos".

O estudo publicado há um mês, aplica-se exclusivamente aos abusos sexuais cometidos por sacerdotes. Nele o principal inquiridor da congregação estabelece uma distinção entre "os casos de pedofilia no sentido estrito", que representam 10% do total, e "os casos que devem antes ser definidos como derivados da efebofilia", que dizem respeito à atracção por adolescentes.

Sobre estes casos o estudo refere que representam 90% do total, sendo que 60% se referem a relações entre indivíduos do mesmo sexo e 30% a relações de carácter heterossexual.

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