Espaço emblemático do 25 de Abril em Santarém recebe protesto de professores

por Lusa

 A greve dos professores por distrito acontece hoje em Santarém, com um primeiro protesto a juntar várias dezenas de professores à porta da Escola Secundária Ginestal Machado, num "aquecimento" para a concentração da tarde, na antiga Escola Prática de Cavalaria.

Na véspera da celebração da Revolução dos Cravos, professores de todo o distrito de Santarém vão juntar-se no local de onde, na madrugada de 25 de abril de 1974, saiu a coluna militar liderada pelo "capitão de Abril" Salgueiro Maia, para reafirmarem palavras de ordem como "Não paramos" e "Respeito".

Entre as faixas exibidas ao final da manhã à entrada da Escola Secundária Ginestal Machado, dezenas de professores reafirmaram que "Educação não é despesa! Educação é investimento", num apelo a "Valorizar quem está. Atrair quem vem".

A segurar a ponta da faixa do Agrupamento de Escolas Ginestal Machado, o antigo diretor, Manuel Lourenço, falou à Lusa da "falta de esperança em quem Governa" e no "futuro da educação", ao final de mais de 30 anos de profissão.

Como exemplo deu o seu grupo profissional, Matemática, em que 10 dos 14 professores nesta escola sairão para a reforma daqui a seis anos, sem que se vislumbre como vai ser garantida a continuidade.

"A minha filha até queria seguir o exemplo dos pais e ser professora de Matemática, mas viu a nossa vida e optou por trabalhar numa empresa, onde, ao fim de um ano, ganha tanto como nós e desliga o computador às 18:00 e ao fim de semana", disse.

"Há um desgaste muito grande", acrescentou Margarida Gabriel, contando dos "anos sem família" e das famílias "que se destroem", com o exemplo de uma colega, cuja filha já casou, e continua a "centenas de quilómetros de casa", sem ter tido oportunidade de acompanhar o crescimento dos filhos.

José Feliciano Costa, presidente do Sindicato dos Professores da Grande Lisboa (SPGL), que acompanha o protesto em Santarém juntamente com Mário Nogueira, secretário-geral da Fenprof, disse à Lusa que a adesão à greve distrital, iniciada no passado dia 17 no Porto, tem sido da ordem dos 80 a 85% nos vários locais por onde já passou (Porto, Viseu, Vila Real, Viana, Setúbal).

"A luta não pode parar, porque a proposta em cima da mesa é de recuperação zero do tempo de serviço. O Ministério da Educação teve a ousadia, ou a lata, de apresentar uma proposta de `correção de assimetrias`, do tempo do congelamento, em que, além de não recuperar nada do tempo de serviço nem desbloquear quotas e vagas (...), ainda produz mais assimetrias", disse.

Salientando que as greves por distrito vão continuar até 12 de maio, com a última concentração a acontecer em Lisboa, Feliciano Costa afirmou que, apesar do "cansaço natural" numa luta que se arrasta há vários meses, os professores "têm dado boa resposta".

Segundo o dirigente do SPGL, a reunião da passada quinta-feira com o ministro da Educação "terminou unilateralmente", com João Costa a dizer que ia fazer "pequenas alterações pontuais", numa proposta que, disse, os professores não conhecem em detalhe, mas, pelo que souberam, continua a deixar "milhares de professores de fora".

As greves distritais foram convocadas por uma plataforma de nove sindicatos que inclui a FNPROF, a FNE, a Associação Sindical de Professores Licenciados (APSL), Pró-Ordem dos Professores (Pró-Ordem), Sindicato dos Educadores e Professores Licenciados (Sepleu), Sindicato Nacional dos Profissionais de Educação (Sinape), Sindicato Nacional e Democrático dos Professores (Sindep), Sindicato Independente dos Professores e Educadores (SIPE) e Sindicato Nacional dos Professores Licenciados pelos Politécnicos e Universidades (Spliu).

 

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