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Especialista em Inteligência Artificial defende "regras muito claras" que não asfixiem tecnologia

por Lusa

especialista em Inteligência Artificial (IA) Arlindo Oliveira defendeu hoje "regras muito claras" no uso prático desta "tecnologia poderosa", para controlar riscos, mas que não asfixiem o seu desenvolvimento, face ao "potencial de vantagens para o mundo".

O ex-presidente do Instituto Superior Técnico (IST), onde leciona, e atual presidente do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores (Inesc) falava à Lusa na véspera de participar, a convite da Fundação Calouste Gulbenkian, na conferência "Inteligência Artificial: Que Humanidade?", que decorrerá na segunda-feira na sede da instituição, em Lisboa.

O docente advoga "regras muito claras", a regulamentação "da aplicação, dos domínios, modelos de negócio" de IA, dando como exemplos a seriação de candidatos a um emprego ou ao ensino superior, a condução autónoma, o armamento ou ações de `marketing`, mas sem excessos "para não complicar o desenvolvimento da tecnologia", nomeadamente na Europa, que está a preparar legislação sobre a matéria.

"Há, aqui, um equilíbrio difícil, mas temos de prosseguir, temos de regular o que é importante ser regulado e não regular em demasia", afirmou, assinalando ser adequado regular o uso da IA para "proibir casos extremos", como o gerar falsas notícias.

Arlindo Oliveira destacou o "potencial" da IA em "trazer muitas vantagens ao mundo", como "descobrir novos materiais, novas soluções" ou "tornar a sociedade mais rica, mais produtiva", com as tarefas repetitivas a poderem ser feitas por máquinas.

"Como em qualquer tecnologia poderosa, também há riscos", ressalvou, enumerando a desinformação ou as alterações no mercado de trabalho - novas profissões mais bem remuneradas e antigas menos procuradas e menos remuneradas.

Outros riscos, mais hipotéticos mas não impossíveis, são o de haver sistemas de IA a planearem a economia e a defesa de um país que "possam ter comportamentos inesperados porque foram mal programados" ou existirem máquinas a "tomarem decisões" que "não são do melhor interesse" para as pessoas.

De acordo com o presidente do Inesc, os "sistemas de IA tendem a democratizar a sociedade", uma vez que permitem "um acesso ao conhecimento que de outra maneira seria menos igualitário", mas suscitam a possibilidade de "concentrar um poder desmesurado", designadamente económico, num pequeno número de pessoas das grandes empresas e instituições que criam esses sistemas.

Entre o abismo e o progresso, Arlindo Oliveira posiciona a IA como um "progresso inevitável", uma "consequência natural da evolução da inteligência humana".

"Esperemos que não traga consigo consequências muito negativas ou muito desagradáveis", afirmou à Lusa, afastando o receio de uma maior desumanização da humanidade, apesar de "uma fração da população ficar com visões muito parciais da realidade".

"Mas isso já acontece, é uma tendência... pessoas que passam dias a jogar videojogos, no YouTube, nas redes sociais", sublinhou.

Por definição, a IA é uma tecnologia que aplica o conhecimento dos processos cognitivos humanos a computadores ou programas informáticos que reproduzem esses processos, podendo criar conteúdos novos, como texto, imagens e vídeos.

O professor do IST considera que a IA desencadeará "alterações profundas", como as que sucederam "nos últimos 50 anos", e aponta como "grande desafio" desta tecnologia o desenvolvimento de "módulos das emoções, motivações, ambições, capacidade do raciocínio".

"Se queremos ter verdadeira Inteligência Artificial falta desenvolver o resto", sentenciou Arlindo Oliveira, sustentando que a "ambição é suficientemente poderosa e os resultados são suficientemente relevantes", em termos de compreensão da linguagem e interação entre homem e máquina, para que a comunidade científica continue a desbravar caminho.

Sobre se a IA poderá vir a ser mais inteligente do que a inteligência humana, o autor de "Mentes Digitais" é menos assertivo. "Não sabemos se é possível haver sistemas mais inteligentes do que a inteligência humana, provavelmente sim. Se forem possíveis, não sabemos se os conseguimos projetar", frisou Arlindo Oliveira.

A conferência "Inteligência Artificial: Que Humanidade?", que se realiza na segunda-feira num dos auditórios da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, conta com a intervenção inicial do presidente do Inesc sobre "modelos de linguagem" e será seguida de uma mesa-redonda moderada pelo ex-ministro Miguel Poiares Maduro.

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