Especialistas dizem que há capacidade em Portugal para túneis feitos em aço

Lisboa, 25 Mar (Lusa) - Portugal tem capacidade para fabricar as secções em aço dos túneis submarinos para ligar as duas margens do Tejo em Lisboa, caso seja essa a solução escolhida para a terceira travessia do rio, disseram diversos especialistas à agência Lusa.

© 2008 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A. /

Se forem construídos, o túnel ferroviário entre Chelas e o Montijo e o túnel rodoviário que ligaria Algas à Trafaria devem, segundo os mesmos especialistas, ser fabricados em aço, material que consideram mais eficaz do que o betão e que funcionará de alavanca à indústria metalo-mecânica.

Os mesmos especialistas defendem que as duas travessias devem ser feitas em túnel, por esta opção ser mais barata do que uma ponte, e que as secções devem ser feitas em aço, em vez de betão.

"Trata-se de um material mais flexível e mais seguro" em caso de um terramoto, com "mais impermeabilidade e maior longevidade", ao contrário do betão, explicou um dos especialistas.

Entre os defensores da tecnologia do aço estão o engenheiro químico-industrial Nunes Maia (antigo director da Siderurgia Nacional e professor do ISCTE), Mário Lopes (professor de Estruturas do Instituto Superior Técnico) e João Pereira Gaio, antigo vice-presidente da Mague.

Também para José de Oliveira Guia, engenheiro mecânico e presidente da Associação Nacional de Empresas Metalúrgicas e Metalo-Mecânicas (ANEMM), Portugal tem empresas que podem fabricar os túneis, apesar da indústria nacional não deter "as tecnologias de processo".

Tecnologias de processo é saber como se faz, neste caso, os túneis, ou seja o conjunto de ciências ligadas à solução do problema: o cálculo, as ligações dos caixões ou secções, esforços de pressão, a corrosão, entre outros aspectos.

Mas quanto às tecnologias de produção, "sabemos fazer, temos mão-de-obra qualificada e capacidade para fabricar [os túneis], assim como para afundar as secções de aço numa calha, no rio. Só que a nossa capacidade é muito subavaliada pelo poder político", sublinha.

"A única coisa que pedimos, é as mesmas condições das outras empresas lá fora, em benefícios fiscais directos. Pagamos 21 por cento de taxa de IVA, enquanto que os espanhóis pagam 15 por cento e, estas desvantagens no tratamento fiscal rebentam com a capacidade das empresas portuguesas", reforça.

Oliveira Guia vai ainda mais longe e diz que, no estrangeiro, "as grandes estruturas dos edifícios são feitas em aço, o que é preferível do ponto vista sísmico".

"Só em Portugal ainda se continua a fazer as estruturas em betão, enquanto que na Espanha, Alemanha e outros países utiliza-se mais aço e menos betão", prossegue.

"Repare-se que os novos estádios de Leiria, da Luz e Alvalade foram feitos com esta tecnologia dominante do aço e menos betão, o que lhes dá muito mais flexibilidade, e nós ANEMM pretendemos o melhor para o País", disse.

"Para bem do sector metalo-mecânico, gostaria que o paradigma da nossa economia mudasse da construção civil e betão para soluções de base electromecânica, onde também a construção civil tem o seu lugar, mas nunca com uma posição dominante, sem se saber porquê", acrescenta.

Em 2004, um estudo da revista da ADFER (Associação para o Desenvolvimento do Transporte Ferroviário) já se referira à capacidade da Lisnave para fazer as secções dos túneis.

Segundo uma intervenção do professor Paulino Pereira, publicada na revista, tratava-se de uma solução da Lusaponte defendida para um túnel Algés-Trafaria, com secções ou peças de 60.000 toneladas cada, que seriam depois rebocadas até ao local da travessia e afundadas.

João Pereira Gaio, engenheiro mecânico antigo administrador-delegado da Mague, corrobora que a Lisnave "pode fazer grandes cilindros em aço, até porque é um estaleiro super bem equipado, mas está subaproveitado".

As secções seriam posteriormente levadas em barcaças, do Rio Sado para o estuário do Tejo, contornando a península de Setúbal, via Cascais.

Fazendo fé com as 60.000 toneladas por secção, correspondente a um grande transatlântico de 200 metros, calcula-se que para um túnel Beato/Montijo seriam precisas 1,5 milhões de toneladas de aço.

Existem três empresas especialmente vocacionadas e que herdaram o know-how da indústria pesada metalomecânica portuguesa, que desde os anos 80 entrou em crise, tendo a Mague encerrado em 2000.

A Proman, empresa do grupo Profabril, que tem um gabinete de estudos especializados em trabalhos marítimos, poderá associar-se a este projectos mesmo em caso de concurso internacional, só que a empresa, contactada pela Lusa, não comentou.

A Eurocrane é outra empresa nacional que continua a conceber e a fabricar pórticos e guindastes, exportando para os EUA, Roménia e Turquia.

Uma terceira empresa, a Sociedade de Montagem Metalomecânica (SMM), que detém a marca Mague (comprada pela ABB em 1989 e encerrada em 2000).

A nova ponte móvel do Porto de Leixões, a quarta maior do mundo, concebida e fabricada por portugueses (Eurocrane e engenheiro Nunes de Almeida) foi inaugurada em Julho de 2007, e as autoridades portuguesas nem sequer mencionaram o caso.

AV.

Lusa/Fim


PUB