Estado vai pagar colocação de banda gástrica
As cirurgias para colocação de bandas gástricas em pessoas obesas feitas em clínicas privadas e sociais, que chegam a custar 8.500 euros, vão ser integralmente pagas pelo Estado.
Segundo fonte do Ministério da Saúde, estes doentes, que por vezes aguardam durante vários anos por uma cirurgia nos hospitais públicos, serão em breve operados gratuitamente nas clínicas privadas, desde que enviados por médicos do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Presentemente, os casos mais graves que esperam operação nos hospitais públicos já são reencaminhados para o sector privado, mas os doentes têm de pagar uma parte do custo total.
De acordo com o gabinete do ministro da Saúde, o Governo prepara-se agora para pagar na íntegra as operações no sector privado e social, dando resposta a uma reivindicação antiga da Associação de Doentes Obesos e Ex-Obesos de Portugal (ADEXO).
Segundo o presidente da associação, Carlos Oliveira, há cerca de 400 mil portugueses com obesidade mórbida, uma doença que pode ser tratada através da colocação de uma cinta em volta da parte alta do estômago que regula a passagem dos alimentos (banda gástrica).
Há cinco a seis por cento de casos de insucesso da aplicação desta técnica, não se verificando uma redução de peso ou registando-se mesmo um aumento.
Contactado pela agência Lusa, o presidente da Sociedade Portuguesa de Cirurgia de Obesidade, António Sérgio, explicou que a operação ronda os 8.500 euros, o que a torna pouco acessível.
O presidente da ADEXO garante que "a lista de espera para esta intervenção é a maior do país", apesar de não haver dados estatísticos para o comprovar.
A operação não está ainda codificada e valorizada nos actos médicos que lhe estão associados e, por essa razão, não está incluída no sistema criado para gerir a erradicação das listas de espera para cirurgia e que permite ao doente exigir ao hospital que o envie para uma outra unidade, mesmo privada, ao fim de seis meses de espera.
Esta falta de codificação e valorização pelo SNS leva as administrações hospitalares a recorrer a outro tipo de denominações da cirurgia, como por exemplo "úlcera no estômago ou hérnia do iato" para conseguir que as operações de colocação da banda gástrica efectuadas pelo hospital sejam pagas integralmente pelo Estado.
Carlos Oliveira afirma não ter conhecimento do envio, por parte dos hospitais públicos, de quaisquer doentes para o serviço privado.
Segundo António Sérgio e Carlos Oliveira há casos de doentes que esperam sete anos por uma operação e de outros que morreram antes da cirurgia, na maioria das vezes por paragens cardio-respiratórias, principalmente em pacientes com apneia de sono grave.
"Se ao falarmos de obesidade damos uma especial atenção às crianças como forma de prevenir um futuro muito complicado, não podemos esquecer que há adultos que morrem à espera da cirurgia, como as vítimas de obesidade mórbida que se encontram no extremo oposto desta linha. Estão em risco de vida, estamos a falar de situações muito graves", lembrou Carlos Oliveira.
Uma ideia corroborada pelo especialista António Sérgio: "Estas cirurgias não deviam ter tempo de espera, porque a doença continua a avançar. Há casos de pessoas que morrem enquanto esperam pela sua vez para ser operadas".
Por exemplo, acrescentou Carlos Oliveira, no Hospital de Santo António (Porto) existem mais de 1.000 pessoas em lista de espera e no Pulido Valente (Lisboa) são cerca de 700.
Por outro lado, lembra Carlos Oliveira, o Estado está a gastar milhões de euros a tratar as doenças acessórias da obesidade que todos estes doentes têm, como a diabetes, problemas cardio-vasculares, articulares ou respiratórios, e que são comparticipadas.
Desta forma, acrescentou, "mantém-se o tratamento das consequências sem investir no tratamento e prevenção da verdadeira causa que é efectivamente a obesidade".
Com a medida que o Governo se prepara para aprovar, "as pessoas vão ter mais facilidade em fazer a operação, pois se se confirmar esta decisão de comparticipar na totalidade muitos mais utentes serão reencaminhados para as clínicas privadas" e sociais, defendeu, por sua vez, António Sérgio.
Nos últimos nove anos, foram feitas em Portugal cerca de quatro mil cirurgias para a colocação da banda gástrica.
Dados da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade indicam que cerca de 15 por cento da população portuguesa entre os 18 e os 65 anos é obesa, 35 por cento tem excesso de peso e cerca de três por cento está já no estágio da super-obesidade.
Segundo a Sociedade, mais de metade (53 por cento) da população sofre de obesidade.