Estudo conclui que sesta só é eficaz nos jovens
Lisboa, 12 Dez (Lusa) - Um estudo francês concluiu que a sesta só é eficaz nos jovens, mas uma especialista do sono questiona estas conclusões, considerando que os benefícios da sesta variam de acordo com as características fisiológicas de cada pessoa.
O estudo, de investigadores do Instituto do Sono do Hospital de Pelegrin (Bordéus), publicado na revista Sleep, resultou de uma análise comparativa de provas de condução feitas a dois grupos com idades distintas: doze pessoas na casa dos 20 anos e mais doze com idades compreendidas entre os 40 e 50 anos.
Os voluntários começaram por percorrer 200 quilómetros em plena tarde, para que fossem testadas as suas capacidades ao volante.
Foram depois submetidos à mesma prova de madrugada, durante 30 minutos, após terem sido postas em prática três estratégias para não adormecerem ao volante: uma sesta de 30 minutos, um café ou, como forma de comparação, café descafeinado, sendo que na noite anterior os voluntários tinham dormido uma média de sete horas.
Medindo o nível de eficácia das provas pelo número de vezes que o carro passava sobre as marcas da estrada, os autores do estudo constataram que 12 dos voluntários com mais de 40 anos realizaram bem a prova nocturna, enquanto apenas três dos 12 jovens conseguiram o mesmo resultado.
O café melhorou a prestação de todos os participantes, independentemente da idade.
Nove jovens e 10 voluntários com idade superior a quarenta anos conduziram de um modo comparável à prova diurna.
O mesmo não aconteceu quando a prova decorreu depois de uma sesta: enquanto a sesta reduziu o risco de passar sobre as marcas da estrada em 66 por cento dos mais jovens, reduzia o mesmo risco em apenas 23 por cento nos voluntários mais velhos.
Segundo os investigadores, estas conclusões sustentam que a qualidade da sesta diminui com a idade.
"Os participantes mais jovens dormiram durante mais tempo e mais profundamente que os outros, logo podem ter beneficiado das funções melhor restabelecidas", explicaram os investigadores.
Para Teresa Paiva, neurologista e especialista em medicina do sono, os resultados deste estudo são "questionáveis".
"Este estudo é questionável, porque a amostra é pequena e as conclusões são relativas", disse.
"Os efeitos da sesta dependem das características das pessoas, das necessidades de sono e se a pessoa é vespertina ou matutina", acrescentou.
No entanto, confirmou que a sesta é "menos útil" para as pessoas mais idosas, "porque necessitam de menos horas de sono e aguentam melhor a sua privação".
"As pessoas idosas não devem dormir a sesta, sobretudo se sofrem de falta de sono", acrescentou.
A especialista destacou ainda estudos que admitem que "há um aumento do risco cardiovascular na sesta nos idosos que já tenham problemas de circulação" por haver "mais arritmias cardíacas durante o sono".
No entanto, segundo Teresa Paiva, "deve-se continuar a dormir a sesta", sendo que é "favorável" para "as pessoas que tiverem um trabalho nocturno", apesar de não ser recomendado a partir dos 45 anos.