Estudo mostra que doenças auto-imunes se transmitem até à 3ª geração

Um estudo realizado por quatro hospitais portugueses junto de 321 famílias revela que as doenças auto-imunes, como o lúpus e a artrite reumatóide, podem transmitir-se a descendentes até à terceira geração.

Agência LUSA /

O médico Carlos Ferreira, um dos autores do estudo hoje apresentado em Braga pela Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, diz que as doenças auto-imunes se transmitem à segunda e terceira geração, "atacando" 15 a 20 por cento dos familiares consanguíneos.

Segundo aquele especialista, estas doenças, entre as quais se inclui a patologia da tiróide, a diabetes juvenil ou a esclerose múltipla, abrangem entre 20 e 50 pessoas em cada 100 mil habitantes, na maioria mulheres, o que significa que haverá entre dois a cinco mil portadores da doença em Portugal.

O clínico, acompanhado do médico Carlos Vasconcelos, que também participou na investigação, e do presidente da Sociedade, Faustino Ferreira, falava durante o 11.º Congresso Nacional de Medicina Interna, que decorre no Parque de Exposições em Braga até 14 de Maio, com a presença de mil médicos.

O estudo, intitulado "Lupus eritematoso sistémico e outras doenças auto-imunes em familiares consanguíneos de doentes portugueses" é o primeiro em Portugal e um dos quatro ou cinco já realizados a nível mundial, foi anunciado.

Foi realizado por quatro hospitais e organismos de investigação do sector e abrangeu 321 famílias, 90 por cento das quais com doentes do sexo feminino, com idades entre os 14 e os 86 anos.

Envolveu o Serviço de Medicina 2 do Hospital de Santa Maria/Faculdade de Medicina de Lisboa, Associação Portuguesa de Doentes com Lupus, Instituto Gulbenkian de Ciência e Unidade de Imunologia Clínica do Hospital de Santo António do Porto.

Os três médicos salientaram que as doenças auto- imunes são patologias de base genética e do tipo inflamatório, com prevalência nos chamados "países ricos", as quais têm tendência a aumentar em Portugal, onde aparecem pelo menos 30 casos novos por ano.

Carlos Ferreira salientou que o estudo agora realizado "é um passo na direcção que vem sendo seguida em Portugal, de casar a investigação clínica com a científica", sublinhando que Portugal tem actualmente óptimos laboratórios de investigação básica, em Lisboa, Coimbra e Porto.

Vincou que os dados estatísticos registados em Portugal são idênticos aos de outros países ocidentais, sublinhando que já se caminha para a identificação dos genes causadores da doença auto-imune.

"Está-se a caminhar para a descoberta do porquê de o nosso sistema imunitário se voltar, em certos casos, contra nós próprios", adiantou, sustentando que a doença pode ter algo a ver com o chamado excesso de higiene que não permite que o organismo crie defesas contra o exterior.

Classificou as doenças auto-imunes como sendo de "efeito puzzle", já que começam por afectar um rim ou a pele, vindo, dois ou três anos depois, a trazer complicações vasculares ou artrite reumatóide.

Referiu que a doença ataca, maioritariamente, as mulheres, em idade hormonalmente activa, sendo hoje passível de ser tratada, de forma a dar ao paciente uma qualidade de vida normal ou aceitável.

Disse que "os doentes têm de ter cuidado com os anti-concepcionais, dado que a pílula possui estrógeneos que potenciam as doenças auto-imunes, e levar uma vida saudável, quer em termos de stress, quer de nutrição de restrições ao consumo de álcool, e do tabaco".

Avisou os doentes de que não devem expor-se ao sol em demasia, dado que aos raios ultra-violetas também potenciam a doença, e aconselhou mesmo as portadores de lupus ou de artrite reumatóide, a cobrirem-se com um chapéu e vestirem roupas claras no verão.

O Congresso, que é presidido pelo médico bracarense Rodrigues Dias, será encerrado, sábado, pelo ministro Correia de Campos, o qual assiste, também, à conferência de Luís Campos sobre "Medicina Interna no Hospital do Futuro".

A iniciativa envolve 100 conferências nos vários painéis, e 600 outras comunicações escritas pelos congressistas.

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