Europa deve rejeitar modelos económicos dos EUA e China - Josep Borrell

O presidente do Parlamento Europeu, Josep Borrell, defendeu hoje que a União Europeia (UE) deve demarcar-se dos modelos económicos dos Estados Unidos e da China, assegurando no mundo o equilíbrio entre as duas potências.

Agência LUSA /

"Depois do fim da guerra-fria, o mundo caminha para uma nova bipolarização protagonizada pela potência militar hegemónica ocidental, os Estados Unidos, e a grande potência económica oriental emergente, a China", disse.

O espanhol Josep Borrell, que usava da palavra na Universidade de Coimbra (UC), na cerimónia do seu doutoramento "honoris causa", considerou que "só a Europa pode equilibrar este novo mundo".

"Para isso, é preciso que o processo de construção da UE consolide a Europa como uma realidade diferenciada dos modelos económicos norte-americano e chinês, que não podemos tomar como exemplo a seguir", preconizou.

Para o novo membro do claustro universitário de Coimbra, apenas a Europa "pode demonstrar, na prática, que não há incompatibilidade entre crescimento económico e igualdade".

"O elemento diferenciador europeu deve ser conciliar crescimento económico e coesão social assentes numa economia flexível, inovadora, sustentável e redistribuidora", acentuou.

O presidente do Parlamento Europeu citou o escritor José Saramago, prémio Nobel da Literatura em 1998 e também ele titular do grau de doutor "honoris causa" pela UC, segundo o qual "a dúvida é um dos nomes da inteligência".

"Não duvido em afirmar que o fundamento do futuro da Europa deve basear-se", por um lado, "numa economia dinâmica e competitiva, para poder financiar a coesão social", mas também em "políticas sociais para que a economia (europeia) seja dinâmica e competitiva, de forma sustentável".

Josep Borrell frisou que dados disponíveis sobre os EUA, designadamente ao nível da pobreza, desigualdade crescente, horário de trabalho, consumo de energia, problemas ambientais e corrida ao armamento, "fazem da economia norte-americana um modelo socialmente menos atractivo".

"Algo similar ocorre com as condições políticas e sociais em que a China baseia o seu espectacular crescimento, que seriam inaceitáveis para os cidadãos da Europa", acrescentou.

Catedrático da Universidade Complutense de Madrid, Josep Borrell confessou a convicção de que "o bom político é fundamentalmente um pedagogo, ou seja, o contrário de um demagogo".

Ao fazer o elogio do doutorando, Joaquim Gomes Canotilho - professor da Faculdade de Direito de Coimbra, que outorgou o grau académico a Josep Borrell - definiu-o como intelectual e político com uma "personalidade fortíssima".

"Político, cidadão e universitário, rigoroso no ensino e investigação, devotado à causa pública com profunda consciência do interesse dos cidadãos, seja na Espanha, seja na Europa e no mundo", sublinhou o constitucionalista.

Coube a Manuel Costa Andrade, também catedrático de Direito, fazer o elogio do reitor Seabra Santos.

Recorrendo a uma fórmula da vida forense, Costa Andrade defendeu que "só dando provimento à pretensão do doutorando Josep Borrell Fontelles se fará justiça".

Esta tarde, encerrando a visita a Portugal, a convite do presidente da Assembleia da República, Jaime Gama, o presidente do Parlamento Europeu participa num debate sobre a União Europeia, na Universidade de Coimbra.


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