Foto: Rodrigo Antunes - Lusa (arquivo)
É mais uma voz a pedir uma reação por parte de Luís Montenegro após vários ataques de grupos neonazis que, nos últimos dias, foram responsáveis por episódios de agressões a voluntários da CASA - Centro de Apoio ao Sem Abrigo, no Porto, ou ao ator Adérito Lopes, em Lisboa, junto ao Teatro A Barraca.
"Estou chocada com a ausência do primeiro-ministro no espaço público. Estou mesmo chocada, porque o silêncio perante a violência significa pactuar com a violência e com o que está a acontecer. O primeiro-ministro não pode remeter-se ao silêncio e à invisibilidade perante a gravidade do que está a acontecer", diz.
E, nem mesmo a reação de Margarida Balseiro Lopes, nova ministra com a pasta da Cultura, descansa a antiga ministra do PS, que considera que o fenómeno da extrema-direita é "grave" e começa a atingir proporções difíceis de suster.
"A liberdade de criação assusta muito grupos neonazis e o autoritarismo. Conhecemos isso da história, mas, é precisamente por isso que me parece tão grave o silêncio, porque, no momento em que deixou de existir Ministério da Cultura e em que mais precisamos desta dimensão de liberdade, era muito importante que o Governo, através do primeiro-ministro, tomasse uma posição muito clara", insiste.
No mesmo sentido, Graça Fonseca pede ação para impedir o "ataque ao outro", independentemente de se tratar de "um ator, um teatro ou voluntários que estão a distribuir comida" e salienta: "Não é admissível numa democracia e, para isso, nós precisamos de um poder político forte e que diga que não é admissível".Graça Fonseca "zangada" com falta de respostas coletivas à extrema-direita: "Estamos adormecidos"
Em declarações à Antena 1, a ex-ministra do PS diz-se "zangada" e admite a frustração 50 anos após o 25 de abril: "Estou profundamente zangada. Com o coletivo e connosco, porque estamos coletivamente a deixar que a degradação da democracia e o ataque à liberdade que sejam quase uma normalidade". Graça Fonseca fala de um país "adormecido" perante fenómenos extremistas e antecipa um agravamento da situação, desde logo no meio cultural.
"Sinto é que estamos demasiado distraídos politicamente, coletivamente, civicamente, e, aqui, incluo-me a mim própria, porque eu, naturalmente, também faço parte da história da democracia. Sinto que estamos todos demasiado desatentos e que a situação que estamos a viver se vai acelerar muito rapidamente", avisa a ex-ministra, que aponta: "Sinto que o deixar instalar o medo de falar, o medo de estar em palco e que o medo de dizer que não aceito se vai acelerar muito".
Questionada sobre as ameaças à liberdade no meio cultural - e numa altura em que o diretor do Teatro Nacional D. Maria II já veio a público admitir que está a preparar um "protocolo de tolerância zero" para proteger os artistas -, a ex-ministra reitera que a democracia não pode permitir ataques à cultura.
"A liberdade artística é o coração da democracia, é o coração da liberdade, é aquilo que nos permite olhar um para o outro e vermos as nossas diferenças e termos a possibilidade de respeitar aquilo que são as perspetivas", diz.