Ex-vereador da Câmara de Felgueiras ironiza dizendo que saco azul "foi obra do S. Pedro"

O ex-vereador da Câmara de Felgueiras Horácio Costa, arguido no caso do "saco azul", comentou o depoimento de Fátima Felgueiras dizendo que as contas bancárias dos partidos para financiar campanhas "talvez tenham sido abertas pelo S. Pedro".

Agência LUSA /

"Deve haver mão do São Pedro ou as coisas aconteceram por obra e graça do Espírito Santo nisto tudo", afirmou, ironizando com o facto de Fátima Felgueiras ter dito ao Tribunal de Felgueiras que não participou em reuniões do PS local, nem em angariação de verbas.

O ex-vereador e ex-colaborador da presidente da Câmara Municipal de Felgueiras falava no final da sessão de hoje do julgamento, em que Fátima Felgueiras começou a ser ouvida pelo colectivo de juízes.

Horácio Costa disse temer que "forças sobrenaturais" interfiram no julgamento e estranhou que na sessão não se tenha falado no PS local.

"Havia estruturas partidárias, existia um secretariado do partido e estruturas distritais em que Fátima Felgueiras participava, pelo que essas pessoas deveriam ser ouvidas", declarou.

O arguido classificou, ainda, como "absurda" a tese de que o alegado «saco azul» foi criado sem que Fátima Felgueiras soubesse, apesar de o sistema de angariação de verbas no PS/Felgueiras já existir em 1993.

Horácio Costa, que em tomadas de posição anteriores disse ter comunicado à direcção nacional do PS, incluindo a José Sócrates, o que se passava em Felgueiras, manifestou, ainda, estranheza pelo facto de no julgamento nada se perguntar sobre o Partido Socialista, "a não ser falar-se no então secretário de Estado do Ambiente, hoje primeiro- ministro", para justificar os contratos com a Resin.

De manhã, a autarca de Felgueiras, Fátima Felgueiras considerara no Tribunal local como sendo "normal e habitual" que os partidos tenham contas paralelas (também conhecidas por "sacos azuis") para as campanhas eleitorais.

"Quem defender que a angariação de verbas para as campanhas eleitorais corresponde a um desvio de fundos desconhece, completamente, o funcionamento dos partidos políticos em geral e sem excepção", disse Fátima Felgueiras.

A autarca, principal arguida do chamado processo do "saco azul", começou hoje a ser ouvida pelo colectivo de juízes na segunda sessão do julgamento.

Interrogada sobre a alegada existência de um "saco azul" para onde iam os fundos obtidos para as campanhas eleitorais, Fátima Felgueiras foi peremptória quando disse que não tomou parte em reuniões onde se discutiu as pessoas que iriam ser contactadas.

O despacho de pronúncia refere que Fátima Felgueiras terá dado instruções a três ex-colaboradores, Domingos Bragança, Horácio Costa e Joaquim Freitas, nomeadamente "listinhas" com os nomes dos empresários a contactar.

É ainda acusada de autorizar licenciamentos irregulares de obras a troco de verbas para campanhas, o que também nega.

Na sessão foi também abordada a acusação sobre a elaboração de contratos entre a Câmara de Felgueiras e a empresa Resin, Resíduos Sólidos, SA, de Matosinhos, tendo a autarca negado ter "pedido, e muito menos recebido, qualquer quantia da Resin, a quem a autarquia e a Associação de Municípios do Vale do Sousa adjudicaram a construção de um aterro sanitário.

Fátima Felgueiras explicou que o contrato com a empresa teve como objectivo "encontrar uma solução para o problema dos lixos do concelho, já que não eram devidamente depositados e tratados, quer os domésticos quer os de calçado, ditos banais, quer ainda alguns com características tóxicas".

Revelou que terá sido o dono de um terreno que sugeriu que fosse contactada a Resin para resolver o tratamento dos lixos, sublinhando que, apesar da empresa não ter, na época, alvará para funcionar, possuía o conhecimento e a experiência técnica necessárias à função.

O julgamento prossegue segunda-feira dia 05 de Março.


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