Expressão “meter um tiro” nos ilegais africanos põe professor da FEP na mira da PGR

por RTP
Goran Tomasevic, Reuters

O professor da Faculdade de Economia do Porto (FEP) Pedro Cosme Vieira ganhou um súbito protagonismo nas últimas semanas depois de ter sido citado pelo deputado do PSD Duarte Marques numa discussão do plano desenhado pelos socialistas para a próxima década. Francisco Louçã recuperou afirmações de Cosme Vieira que remeteram a questão para os planos ético e moral. E legal, já que, noticia o Correio da Manhã, a Procuradoria pondera a abertura de um inquérito ao docente.

A história começou com a citação do deputado social-democrata Duarte Marques de teses defendidas por Pedro Cosme Vieira para atacar o documento “Uma década para Portugal”, plano proposto pelo PS para definir as suas prioridades de governação. Cosme Vieira sobre a sida:

“A SIDA é uma doença sem cura e mortal que apenas se transmite de umas pessoas para outras de forma, em certa percentagem, culposa. Actualmente há cerca de 35 milhões de infectados e morrem cerca de 2 milhões de pessoas por ano. Então, se, tal como fazemos com os animais, se fizesse o abate sanitário de todos os infectados (0.5% da população mundial), a doença desapareceria da face da Terra recuperando-se em apenas 15 anos os 35 milhões de pessoas abatidas. Agora imaginemos que a SIDA se propagava de forma inexorável e que ia levar à extinção da raça humana. Será que votaria a favor do abate sanitário dos infectados?”


Entrando nessa discussão, Francisco Louçã estranhou os referenciais académicos de Duarte Marques, para recuperar afirmações do referido professor: “desviar os barcos com pretalhada” e “meter um tiro em cada um” ou “abate sanitário de todos os infectados [com HIV/sida]” remeteram a questão para os planos ético e moral.

No trabalho de desmontar a argumentação de Duarte Marques, o antigo dirigente bloquista Francisco Louçã procurou a sua fonte de referência, para desembocar no blog do professor universitário.

É aí que encontra as declarações que estão a alimentar a polémica: “Ora, o que opina tão distinto analista? Pois escreve que as medidas do PS para a segurança social “não são medidas, são sonhos”. Talvez. Mas porquê? Ele explica: “Para aumentar o número de contribuintes é preciso desviar os barcos com pretalhada que atravessam o Mediterraneo para o Algarve. Para diminuir o número de pensionistas é preciso matá-las (sic)”, escreve Louçã no jornal Público.

Francisco Louçã transcreve outro fragmento do pensamento de Pedro Cosme Vieira: “Em vez de tentar salvar as pessoas que vêm nos barcos precários, ‘salva-los’ atropelando-os com navios portugueses e, depois, todos os que consigam nadar, meter um tiro em cada um. Nos primeiros dias vão morrer algumas pessoas, talvez 1000 ou 2000 podendo mesmo chegar aos 5000 ou aos 10000 mas, depois, deixará de haver candidatos à tentativa de atravessar o Mediterraneo de barco. Antecipando aos (sic) pessoas que não vale a pena tentar chegar à Europa desenvoivida (sic), desitem (sic)”.

Entretanto, apanhado no olho do furacão, o deputado Duarte Marques desassociou-se desta matriz de pensamento. Mas o caso não foi dado por encerrado. De acordo com o Correio da Manhã, “a FEP e a Universidade, apesar de garantirem nada ter a ver com as declarações do docente, vão analisar a conduta do professor, e a Procuradoria-Geral da República pondera abrir um inquérito”.

No caso da FEP, de acordo com a resposta ao CM, estarão em causa os “padrões éticos nas actividades e na conduta dos membros” da academia. Já em relação à PGR, o assunto remete para questões legais. Pedro Cosme Vieira - avança o jornal - poderá ter cometido os crimes de discriminação racial e instigação ao crime.
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