Familiar de criança morta acusa GNR de atirar a matar, corporação nega
Lisboa, 12 Ago (Lusa) - Um tio da criança morta por tiros da GNR, após um assalto em Santo Antão do Tojal, Loures, acusa os militares de terem "disparado a matar", versão negada pela Guarda que garante que os disparos foram contra os pneus.
João Carmo, tio em segundo grau da criança de 12 anos, é irmão de um dos passageiros da carrinha e tio por afinidade do outro (o pai da vítima), e encontra-se com algumas dezenas de ciganos concentrado à porta do Hospital de Santa Maria, para onde foi transportado o menino.
A criança, conhecida como "Canigia" tinha 12 anos e era filho único, segundo disse à Lusa.
"Está aqui uma revolta muito grande. O filho está a ser velado e o pai está preso", lamentou.
João Carmo, que não presenciou o incidente, contou que "foi o próprio pai que ligou à mulher a dizer que o menino tinha sido atingido".
"Quando chegámos ao sítio onde foi baleado, eles já estavam a ser enfiados no carro da polícia", relatou, adiantando que ainda não conseguiu falar com os seus familiares e que desconhece onde se encontram detidos, embora mantenha contacto com o advogado.
Para João Carmo, o disparo que matou a criança foi intencional.
"[Os militares da GNR] são homens treinados para saber onde dão e onde querem dar e espetaram dois tiros a uma criança. Já tinham vazado o pneu, não precisavam de fazer mais dois tiros. Isto foi racismo", queixou-se.
"Acho que atiraram a matar", declarou, deixando "um apelo".
"Isto não pode ser assim. Se é para prender, não é para matar. Nós não somos animais".
João Carmo nega que a carrinha se destinasse a um assalto e disse que os homens "andavam com uma carrinha velha na recolha de sucata".
"Ninguém faz um assalto com um criança", justificou.
Contactado pela Lusa, o chefe da equipa médica da urgência do Hospital de Santa Maria respondeu que "não está autorizado a prestar declarações".
Segundo a versão de uma fonte da GNR, a carrinha estava em fuga depois de assaltar um estaleiro com equipamentos de construção civil, junto a uma vacaria.
Segundo a mesma versão dos factos, os assaltantes terão "sacado de um objecto" pela janela, que os militares julgaram ser uma espingarda, tendo disparado então contra a carrinha, fazendo "pontaria para os pneus".
Um dos tiros terá sido desviado, alegadamente "devido aos solavancos", conforme relatou a fonte, tendo atingido a criança de 11 anos, filho do condutor da carrinha.
RCR/ARA
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