Fusão dos dois primeiros ciclos de escolaridade

O Conselho Nacional de Educação apresentou uma proposta para a fusão entre os primeiro e segundo ciclos de escolaridade tendo como objectivo acabar com a transição, quase sempre brusca, do quarto para o quinto ano.

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Proposta de fusão dos dois primeiros ciclos poderá entrar em vigor na próxima legislatura RTP

A proposta é do Conselho Nacional de Educação e pretende uma fusão entre os primeiro e segundo ciclos de escolaridade e tem como principal objectivo tentar que os alunos não sofram uma transição demasiado brusca que geralmente acontece do quarto para o quinto ano.

O Governo recebeu, pode-se dizer, a proposta de braços abertos já que a considerou bastante positiva, mas diz que para já não há condições para avançar, adiantando que uma possível decisão favorável poderá acontecer na próxima legislatura.

A proposta do Conselho Nacional de Educação, que faz parte de estudo a ser apresentado hoje, pretende juntar o primeiro e segundo ciclos e assim fazer com que um só professor possa acompanhar os alunos durante os seus seis primeiros anos de escola.

Para a implementação desta proposta o estudo refere que seria importante evitar uma transição brusca do quarto para o quinto ano, uma mudança que por vezes chega a ser até traumática para grande parte dos alunos.

No estudo intitulado “A Educação das Crianças dos zero aos doze anos” é identificado um contraste “violento e repentino” entre os dois primeiros ciclos, já que os alunos passam de uma sala de aula única, numa escola pequena e com um único professor, como acontece no primeiro ciclo, para uma situação bem diferente em que no segundo ciclo são confrontados com vários professores e várias salas de aulas.

A proposta do Conselho Nacional de Educação defende que no segundo ciclo, ou seja até aos 12 anos, os alunos tenham apenas um professor que deverá ser progressivamente apoiado por outros docentes nas áreas das ciências e das letras.

O ciclo escolar de seis anos já é praticado em muitos países da Europa, mas o estudo não deixa mesmo assim de referir que a fusão engloba riscos, como uma eventual descoordenação das equipas e um ascendente dos professores do segundo ciclo sobre os do primeiro.

Os especialistas sugerem ainda mais apoio às crianças até aos três anos e dizem que é preciso ter uma política integrada para a infância.

Pais aplaudem estudo

Na mesma linha da Conselho Nacional de Educação está a Confederação Nacional das Associações de Pais (CONFAP) que avançou hoje com a proposta de introdução de três professores para áreas distintas logo no 1.º ciclo do ensino básico.

“A CONFAP defende que no 1.º ciclo, logo a partir do seu 1.º ano, o aluno deverá ter um professor de línguas, outro de matemática e outro de expressões, como a musical ou artística", defendeu em declarações à agência Lusa o presidente Albino Almeida.

A confederação das associações de pais concorda desta forma com o estudo apresentado pelo Conselho Nacional da Educação referindo ainda que "poderá culminar em mais uma grande reforma educativa".

“Este modelo permitiria articular a exigência da competência disciplinar face ao crescente desenvolvimento do conhecimento sem relegar para um plano secundário a importância do vínculo pedagógico, da relação de pessoalidade e do conhecimento interpessoal que a actual organização do ensino desestabiliza com a entrada do aluno no 2.º ciclo do ensino básico", pode ler-se no documento.

Pediatra subscreve proposta

Também o pediatra Mário Cordeiro subscreve a proposta de fusão dos dois primeiros ciclos do ensino básico por considerar que actualmente a transição é “demasiado brusca” entre as duas fases, uma situação que pode trazer problemas comportamentais e de aprendizagem.

“Subscrevo totalmente o Conselho. Não se pode fazer uma transição tão brusca. Do 1.º para o 2.º ciclo muda-se de espaço, de colegas, de matérias e também de um professor para uma data deles”, comentou o pediatra Mário Cordeiro em declarações à agência Lusa.

E se para algumas crianças este tipo de transição pode ser “muito estimulante” já que se trata de um grande passo no crescimento, para outras pode ser “muito mau e extenuante” e o pediatra fala de exemplos que conhece “em que essa transição trouxe problemas”.

Depende do grau de desenvolvimento, do temperamento e de como gerem o binómio regressão/crescimento", explicou Mário Cardoso que entende ainda que passagem para o 2.º ciclo significa uma “grande exposição ao mundo exterior” que, nalguns casos, pode derivar em problemas de comportamento, de aprendizagem e trazer alguns receios.

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