Granja diz que "Bibi" mentiu sobre a Casa Pia

Adelino Granja, ex-casapiano e advogado de uma das vítimas do processo Casa Pia, acusou hoje o arguido Carlos Silvino ("Bibi") de mentir, ao dizer ser prática comum na instituição os alunos mais velhos abusarem dos mais novos.

Agência LUSA /

Segundo Adelino Granja, que falava aos jornalistas à saída da audiência de julgamento, é "claro que havia" abusos sexuais e prostituição com alunos da Casa Pia, "mas afirmar que todos os alunos mais velhos violavam mais novos" é falso.

"Então, eu, Pedro Namora e todos os outros fomos praticantes desses actos (abusadores)", concluiu Adelino Granja, dizendo que tal afirmação de "Bibi" é "uma indignação" para todos os "gansos" (gíria para definir os casapianos).

Adelino Granja considerou que Carlos Silvino "demonstrou bem que não é um verdadeiro ganso", ao "tentar mostrar um cenário (da Casa Pia) em que era um hábito e um ritual" a prática de abusos sexuais com alunos.

Na sua perspectiva, trata-se do "método mais negativo que há na defesa de Carlos Silvino", para transmitir a ideia de que "Bibi" "não praticou quaisquer actos criminosos porque (os abusos sexuais) eram um hábito dentro da própria Casa Pia".

Granja referiu ainda que o "tribunal já está à altura de verificar" que relativamente a este e outros aspectos, designadamente a idade com que diz ter presenciado actos de prostituição de menores em Belém, não há correspondência com a verdade.

O ex-casapiano declarou-se "um pouco deprimido" por ouvir "tantas mentiras" em julgamento relativamente ao período em que foi aluno da Casa Pia, juntamente com Pedro Namora e outros, prometendo repor a verdade dos factos quando, na qualidade de advogado, fizer o contraditório e as alegações.

Confrontado com as afirmações do ex-casapiano acerca dos depoimentos do principal arguido, José Maria Martins, advogado de "Bibi", afirmou que "Adelino Granja não tem qualquer credibilidade".

José Maria Martins salientou, contudo, que seria "mau haver um desentendimento em audiência entre Adelino Granja e Carlos Silvino", alegando que Granja "devia estar calado" e criticando-o por "tudo aquilo que ele tem feito (e dito) à Comunicação Social".

Quanto à sessão de hoje em que "Bibi" foi ouvido uma vez mais, José Maria Martins disse ter-se tratado de "questões parcelares", uma vez que o arguido já disse o que "tinha a dizer".

"Agora é uma coisa ou outra que nos interessa em termos de estratégia de defesa", explicou, considerando que Carlos Silvino respondeu bem a todas as perguntas que lhe formulou, com excepção de uma ou outra questão, onde não foi "tão além" como gostava que fosse.

Questionado se a defesa está a tentar provar em tribunal que o "Bibi" é também uma vítima da Casa Pia, apesar de estar no banco dos réus, José Maria Martins limitou-se a dizer que a defesa está a fazer o seu trabalho nesse sentido, mas cabe ao tribunal "tirar as conclusões".

Em relação ao facto de a juíza Ana Peres ter rejeitado um requerimento para que o ex-agente da PJ Moita Flores fosse ouvido ainda esta semana como testemunha do processo, como pretendia a defesa de "Bibi", alterando a ordem de produção de prova, José Maria Martins mostrou-se conformado com a decisão.

"Ele há-de ser ouvido a seu tempo", lembrou.

Miguel Matias, um dos advogados que representa a Casa Pia no processo, interpretou o retrato que "Bibi" fez hoje da instituição como o resultado de "uma vivência pessoal" do arguido.

"É (um retrato) negro, como é óbvio", disse o advogado, acrescentando "não fazer ideia" se o mesmo correspondeu exactamente à realidade.

A este propósito, disse ainda: "São coisas do passado. Não sabemos se os factos se passaram, efectivamente assim, mas não vejo contradições" nas declarações do arguido.

Sobre se há ou não eventuais responsabilidades a imputar a responsáveis da Casa Pia pelos factos descritos por "Bibi", Miguel Matias disse que "não", evitando falar sobre prática reiterada de abusos sexuais na instituição e o silêncio dos professores.

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