Grupo de reflexão indica maior satisfação entre os utentes das Unidades Saúde Familiar

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Lisboa, 21 Fev (Lusa) - Os utentes das Unidades de Saúde Familiar (USF) beneficiam de melhor acessibilidade aos cuidados de saúde e demonstram maior satisfação que os utilizadores dos centros de saúde, conclui um estudo feito por um grupo de reflexão do sector.

Os peritos que constituem o grupo Saúde-em-Rede, que recorreu à metodologia de consenso Think Tank, apresentam hoje conclusões quanto à reforma dos Cuidados de Saúde Primários (CSP) em quatro áreas, na Escola Superior de Tecnologias da Saúde (Lisboa), fazendo recomendações para um período de dois anos.

Sobre o acesso aos CSP alerta-se para as "evidentes diferenças de acessibilidade entre utentes inscritos em USF e os outros" e para o risco importante na falta de igualdade de acesso entre utentes das USF com ou sem médico de família.

"Fica em aberto a questão se será urgente aumentar o número de USF", refere o grupo, indicando que dentro de dois anos o acesso aos CSP será melhor se estiver concluída a reconfiguração em agrupamentos dos centros de saúde, criadas mais USF e uma "contaminação de funcionamento" destas novas unidades formadas voluntariamente por profissionais aos outros centros de saúde.

A tónica, segundo o grupo, deve ser colocada na implementação de USF segundo o modelo B e agrupamentos de centros de saúde "tendo grande exigência na escolha dos novos dirigentes". São ainda enumeradas as necessidades de haver melhores ratios utente/profissional de saúde, gabinetes personalizados para todos os profissionais, implementação das unidades de cuidados continuados e coesão da equipa.

Segundo o Modelo B das USF, os profissionais poderão receber a sua remuneração base, acrescida de suplementos e compensações pelo desempenho.

Como factores que podem travar uma evolução favorável são apresentados a continuação das mesmas lideranças ou o "regresso da velha burocracia dirigente, eventualmente caldeada com algumas caras novas escolhidas como de costume".

Para Ana Escoval, da Direcção da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Hospitalar, "há uma contastação que as pessoas agora tratadas em USF sentem-se mais satisfeitas e recebem mais atenção".

Comentando o rejuvenescimento profissional, o grupo argumenta não passar apenas pela contratação de profissionais mais jovens, mas também pela implementação de novos modelos de organização que potenciem o trabalho em equipa multiprofissional e multidisciplinar.

Além de médicos, enfermeiros e assistentes administrativos, as equipas devem incluir profissionais como assistentes sociais, psicólogos, nutricionistas, fisioterapeutas, podólogos e animadores culturais para serem oferecidos cuidados integrados e a longo prazo.

A nível da relação dos CSP com os outros níveis de cuidados e com os seus financiadores, refere-se que a contratualização é a "garantia de autonomia das USF e no futuro das outras unidades", ao ser considerada como positiva a gestão por objectivos, que "compromete, responsabiliza, diferencia e estimula" os profissionais.

"A contratualização introduz um processo mais transparente, com maior rigor e consequência", sublinhou à Lusa Ana Escoval.

Neste campo defendem-se apostas em sistemas de informação "credíveis e coerentes que traduzam efectivamente o trabalho desenvolvido e os ganhos de saúde atingidos".

É ainda "fundamental" pagar atempadamente às empresas produtoras de software clínico para que estas continuem a investir na melhoria, assim como adequar o hardware e dispor de um sistema eficaz para a sua reparação e manutenção.

A informatização é vista como um dos motores de evolução positiva para que haja gestão de conhecimento, partilha de informação nos vários níveis de cuidados.

Sobre a gestão integrada de doenças crónicas, como diabetes ou asma, os peritos registam o aumento da consciência sobre a importância da visão integrada e envolvimento dos pacientes, graças nomeadamente a dispositivos que permitem o melhor auto-controle e melhor acesso à informação.

O grupo refere ainda que na boa utilização do medicamento "os interesses e a pressão da indústria farmacêutica têm prevalecido".

"Tem-se promovido a cultura do milagre farmacêutico e uma dependência face a novas fórmulas", lê-se nas conclusões a que a Lusa teve acesso.

Como factores negativos, os peritos referem que os genéricos actualmente existentes em Portugal "não são genéricos puros - são genéricos de marca".

Dentro de dois anos, o grupo antevê uma melhoria caso sejam criadas direcções clínicas, no contexto dos agrupamentos de centros de saúde, que promovam práticas clínicas "mais homogéneas, com mais reflexão e partilha e mais e melhor utilização de recomendações para tratamento de determinada patologia".

O Saúde em Rede é uma parceria entre a Escola Nacional Saúde Pública, a Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Hospitalar, a Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, a Associação Portuguesa de Médicos de Clínica Geral e a empresa farmacêutica Pfizer.

Depois de um ano de investigação o grupo, que pretende reflectir e analisar as políticas de saúde e contribuir para o debate público, irá divulgar as conclusões sobre a reforma dos CSP até Junho.

PL.

Lusa/Fim


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